As tentações...
A Quaresma e o Evangelho deste primeiro domingo nos
ensinam que a vida é um caminho que nos deve levar ao céu. Mas, para poder
merecê-lo, devemos ser provados pelas tentações. «Jesus foi conduzido ao
deserto pelo Espírito, para ser posto à prova pelo diabo» (Mt 4,1).
Jesus quis
ensinar-nos, ao permitir ser tentado, como devemos lutar e vencer as nossas
tentações: com a confiança em Deus e a
oração, com a graça divina e a fortaleza.
As tentações podem se descrever como os “inimigos da alma”.
Em
concreto, resumem-se e concretam-se em três aspectos:
À primeira vista, “o
mundo”: «manda que estas pedras se transformem em pães» (Mt 4,3). Supõe
viver só para possuir bens.
À segunda vista, “o demônio”: «se caíres de
joelhos para me adorar (...)» (Mt 4,9). Manifesta-se na ambição de poder.
E, finalmente, “a carne”: «joga-te
daqui abaixo» (Mt 4,6) o que significa pôr a confiança no Corpo. Tudo
isso o expressa Santo Tomas de Aquino dizendo que «a causa das tentações são as
causas das concupiscências: o deleite da carne, o afã da glória, e a ambição de
poder.
Tempo Quaresmal encontra-se na aventura da
redescoberta do “mundo interior”, esse mundo desconhecido e surpreendente, onde
acontece o mais importante e decisivo de cada um. Conduzindo-nos a viver a
experiência no deserto com Jesus, a liturgia quaresmal revela que toda pessoa
possui dentro de si uma profundidade que é seu mistério íntimo e pessoal. Por
isso, “viver em profundidade” significa “entrar” no âmago da própria vida,
“descer” até às raízes da própria existência e chegar à fonte de água viva que
ativa uma nova seiva, fazendo surgir novos brotos e novos frutos.
O
deserto é um lugar instigante na vida humana. Apresenta-se como o lugar da
tentação e também como o lugar onde o Senhor nos fala ao coração. Há desertos que são buscados, e há também
desertos que a vida nos traz, surpreendendo-nos. Sempre aprofundam e alargam em
nós uma dimensão do amor que nosso ego fechado quer roubar-nos.
Os “demônios”, dos quais os relatos do
evangelho nos falam, são três e caracterizam bem o nosso ego: o ter, o poder e o prazer da aparência
(vaidade). É neles onde o ego se entrincheira e onde se apega para
sentir-se que é “algo”. Bens materiais,
poder e influência, imagem e prestígio: eis aí os interesses do ego.
Desvelar as “vozes diabólicas” de nosso
interior pode nos ajudar a compreender que a segurança que elas prometem são
vazias: todo o dinheiro do mundo, todo o
poder e toda a fama são incapazes de conferir segurança e plenitude. Não só isso: aquelas vozes nos confundem e
nos fazem distanciar de nossa verdadeira identidade. ( O para que da vinda de Jesus) As tentações não foram um momento
da vida de Jesus, mas uma “sombra escura” que o acompanhou ao longo de toda sua
vida. Frente ao ídolo do poder e do ter, e prazer Ele se mantém de pé,
despojado; frente ao desejo de utilizar
sua condição de Filho em seu próprio benefício, elege o caminho da obediência
sintonizada no Pai; frente ao discurso do êxito e da fama, Ele elege o do
serviço.
As tentações são expressão
do conflito permanente de sua vida e de sua obra. De nossas vidas e obras....No
deserto, Jesus tomou uma consciência tão plena de sua condição de Filho, a
Palavra do Pai lhe deu tanta segurança e iluminou de tal maneira sua vida, que
já se torna impossível confundir Deus com os falsos ídolos que o tentador lhe
apresenta: um “deus” contaminado pelas piores pretensões da condição humana:
possuir, fazer ostentação de prestígio, exercer domínio e prazer.
As
tentações não é pecado, pecado e ceder a
elas, as tentações são boas para reafirmarmos nosso Sim ao projeto do Reino de
Deus e do Evangelho de Jesus.
Jesus não veio para que os anjos esvoaçantes o
carregassem, mas para carregar sobre
seus ombros a ovelha perdida; não veio para converter as pedras em pães, mas
para entregar-se Ele mesmo como Pão de vida; suas mãos não se fecham
possessivas sobre as riquezas porque Ele precisa delas livres para levantar caídos, sarar feridos ou
lavar os pés cansados do caminho; não veio para trocar a pérola preciosa do
Reino que o Pai lhe confiou por outros reinos que o tentador lhe mostrou a
partir do monte.
Neste tempo quaresmal, identificados com
Jesus na estadia do deserto, vamos “desvelando” nossos dinamismos “diabólicos”
demônios interiores que muitas vezes alimentamos, que se instalam em nosso
interior, atrofiam nossas forças criativas e nos distanciam da comunhão com
tudo e com todos.
Jesus
não quer “converter as pedras em pão”, mas mudar os homens, para que
compartilhem o pão.
Não
veio para ser carregado pelas asas dos anjos, monopolizar fama e “fazer nome”,
senão dar a conhecer o nome do Pai e levar sobre seus ombros os perdidos, como
um pastor leva a ovelha perdida.
Não
veio para possuir, dominar ou ser o centro, mas servir e dar a vida.
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