ASCENSÃO DO
SENHOR - 01 de junho de 2014
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“Estarei convosco todos os dias, até o fim os
tempos”
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Leituras:
Atos 1, 1-11;
Salmo 46 (47), 2-3.6-7.8-9
(R/6);
Carta de São Paulo ao Efésios 1, 17-23;
Mateus 28, 16-20.
COR
LITÚRGICA: BRANCA OU DOURADA
Senhor, sabemos que não tem sentido celebrar a
tua Ascensão se não estiver unida à tua Ressurreição, pois só assim Te tornas o
"Rei da Glória". Este foi o prêmio conseguido pela fidelidade ao
projeto do Pai. Pedimos a Deus, nesta celebração, que também possamos ser fiéis
ao teu projeto até o fim de nossas vidas.
1. Situando-nos brevemente
Celebramos a Ascensão do Senhor Jesus. “No dia de hoje, (...) o Senhor subiu ao Céu. Não o vimos, mas
acreditamo-lo. Os que o viram anunciaram-no e encheram toda a terra. (...) Chegaram
até nós e despertaram-no do sono. Por isso o dia de hoje é celebrado em toda a
terra”. (...) “Nosso Senhor Jesus subiu ao Céu; suba com Ele o nosso coração.
Tal como Ele subiu sem se afastar de nós, assim também nós estamos já ali com
Ele, apesar de não se ter realizado ainda no nosso corpo o que nos foi
prometido”. (AGOSTINHO DE HIPONA. Sermão 221. In Antologia Litúrgico.
Textos litúrgicos. patrísticos e canônicos do Primeiro Milênio. Fátima:
Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, nn. 3991; 3993).
Ele foi elevado aos céus por entre aclamações. O Pai o associou
definitivamente à sua vida, ao seu poder sobre as pessoas e sobre o mundo. Com
Ele, por Ele e n’Ele, agradecemos a Deus pela elevação de todas as pessoas e do
universo.
São Leão Magno escreve: “A
ascensão do Cristo é a nossa ascensão; já que o Corpo é convidado a elevar-se
até a glória em que o precedeu a cabeça, vamos cantar nossa alegria, expandir
em ação de graças todo o nosso júbilo. Hoje, não apenas conquistamos o paraíso,
mas, no Cristo, penetramos no mais alto céu”.
Prossigamos nosso itinerário de fé nesta certeza: Ele estará
conosco todos os dias, até o fim dos tempos. Enquanto aguardamos sua vinda
final, na força do seu Espírito, assumimos nossa missão, começando da Galileia.
2. Recordando a Palavra
A leitura do evangelho de Mateus narra a parte final da obra
deste evangelista. Está situada na “Galileia das nações”, uma região
estratégica que facilitava o acesso de povos diversos e também a dominação,
como a dos assírios no passado (Cf. 2Rs 15,29). Na Galileia, Jesus manifestou a
presença do Reino de Deus, aliviando o sofrimento das pessoas, acolhendo os
mais esquecidos, reunindo à sua volta um grupo de discípulos (cf. 4, 12-25).
Antes da morte, ele prometeu encontrar os discípulos novamente
na Galileia (cf. 26,32). O convite para ir à Galileia, lugar do encontro com
Jesus ressuscitado , é confirmado na manhã da Páscoa (cf. 28, 7.10). Jesus
permanece vivo na Galileia por meio da ação solidária dos discípulos e
discípulas.
A montanha remete ao anúncio das bem-aventuranças, ao programa
de libertação (cf. cap. 5-7), à revelação de Jesus Cristo na transfiguração
(cf. 17, 1-9). A comunidade dos discípulos e discípulas, à luz do mistério
pascal, iluminada pela palavra, reconhece Jesus como o Kyrios, o Senhor do céu
e da terra que conduz a história.
A presença do Ressuscitado é reconhecida de modo especial na
oração e na celebração da comunidade: “Quando o viram, prostraram-se” (28,17).
A contemplação, a experiência de comunhão com o Senhor alimenta a vida e o
testemunho de fé. Alguns tinham dúvidas, ainda não haviam feito à experiência
do encontro pessoal com o Ressuscitado.
O Ressuscitado se aproxima dos discípulos com a força do Pai
amoroso, para infundir confiança e sustentar o caminho da fé. Os discípulos são
enviados a evangelizar em nome de Jesus: “Ide, pois, fazer discípulos entre
todas as nações, batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenha ordenado” ( 28,19-20).
A mensagem do Ressuscitado é universal, destina-se a todos os povos.
O anúncio aos gentios, indicado de modo especial em 2,1-12, realiza-se agora
plenamente. Toda a comunidade recebe a ordem de fazer discípulos, batizando-os
e ensinando-os a observar os ensinamentos deixados por Jesus de Nazaré.
O objetivo essencial da missão é fazer discípulos de Jesus. O
ensino e o Batismo estão direcionados para a formação de discípulos, para
conduzir as pessoas ao encontro para a formação de discípulos, para conduzir as
pessoas ao encontro com o Ressuscitado. O Batismo expressa a adesão da Jesus, a
sintonia com sua mensagem. É o caminho da vida nova, que proporciona a nova
relação de comunhão com o Pai, através do Filho e do Espírito Santo.
A força do Ressuscitado sustenta a missão dos discípulos,
assegurando a continuidade de seu projeto libertador: “Estou convosco todos os
dias até o fim dos tempos” (28,20). Jesus é o Emanuel, o Deus conosco (1,23;
cf. Is 7,14), que guia o caminho de seus seguidores até o cumprimento de toda a
justiça (cf. 3,15), missão confiada pelo Pai em seu Batismo.
A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos descreve a missão das
comunidades cristãs primitivas, centradas na vida, morte salvífica e
ressurreição de Jesus, assim como na esperança de sua vinda gloriosa. O
Espírito do Ressuscitado, que havia sido prometido (cf. Jo 14, 16-17.26;
16-4b-15), renova e confirma os discípulos como continuadores do ministério de
Jesus.
Os quarenta dias caracterizam o tempo simbólico de iniciação ao
ensinamento do Ressuscitado, de preparação para a ação evangelizadora. Os quarenta
dias remetem à experiência de Moisés no Horeb (cf. Ex 34,28); à de Elias (cf.
1Rs 19,8); à de Israel no deserto (cf. Dt 8,2).
Cristo é glorificado junto ao Pai, após ter passado a vida a
serviço do Reino, fazendo o bem às pessoas necessitadas. A nuvem, símbolo da
presença divina (cf. Ex 13,21-22; 14, 19.24; 24, 15-18; 40, 34-38), acentua que
Jesus não abandona os discípulos, continua iluminando sua caminhada. O olhar da
fé e a esperança na vinda gloriosa de Cristo devem manter a comunidade fiel no
serviço ao Reino de Deus.
Os dois homens vestidos de branco remetem à experiência da
ressurreição, da vida nova em Cristo (Lc 24, 1-12). Conduzidos pela ação do
Espírito Santo, os discípulos testemunham e anunciam a Boa-Nova de Jesus
ressuscitado em Jerusalém, na Judeia, na Samaria e até os confins da terra.
O salmo 46(47) celebra a exaltação, a realeza universal de Deus
diante dos povos. Deus Pai é aclamado com alergia e júbilo, pois conduz os
povos conforme seu desígnio salvífico de amor. Cristo, que ascende vitorioso do
abismo da morte e entra na glória do Pai, é reconhecido no céu e na terra e
professado com fé por toda língua como Senhor (cf. Fl 2, 5-11).
A segunda leitura da carta aos Efésios está situada após um hino
de louvor (1,3-10), seguido de um enunciado sobre o plano da salvação
(1,11-14). Começa com uma prece confiante ao Pai, suplicando a sabedoria para
conhecermos “a esperança à qual ele nos chama“ (1,18). Deus revelou seu amor em
Cristo “ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita, nos
céus” (1,20). A esperança da comunhão plena na glória do Pai impele a percorrer
o caminho de Jesus, nos serviço e no amor solidário
Cristo, servidor de todos até a morte na cruz, foi exaltado por
Deus como Senhor do universo e da história, cabeça da Igreja, que é o seu corpo
(cf. 1,22-23). A comunidade eclesial é chamada a ser presença atuante de Cristo
no mundo, através do testemunho de comunhão e de solidariedade. Como membros,
alimentados na vida de Cristo, que realizou o projeto salvífico em favor da
humanidade, o cristãos são continuadores da missão libertadora em favor da vida
plena de todos os povos.
3. Atualizando a Palavra
A glorificação de Cristo junto ao Pai plenifica seu caminho
percorrido no amor até a entrega total da vida. A esperança de vida plena em
Deus leva a seguir os passos de Jesus, suas palavras, seus ensinamentos.
Iluminadas pela Páscoa de Jesus, as comunidades cristãs primitivas cumprem a
missão de “fazer discípulos entre todas as nações”.
A confiança na presença de Jesus ressuscitado na vida e na
história sustentou a caminhada das comunidades cristãs, as ajudando a superar
as dificuldades. Como os discípulos, conduzidos pela força do Espírito do
Ressuscitado, somos chamados a anunciar o evangelho, que rompe as fronteiras e
estabelece a comunhão fraterna entre os povos.
O Papa Leão Magno afirma que “os santos apóstolos, apesar dos milagres
contemplados e dos ensinamentos recebidos, ainda se atemorizavam perante as
atrocidades da paixão do Senhor e hesitavam ante a notícia de sua ressurreição.
Porém, com a ascensão do Senhor progrediram tanto que tudo quanto antes era
motivo de temor, se converteu em motivo de alegria. Toda a contemplação do seu
espírito se concentrava na divindade daquele que estava sentado à direita do
Pai; agora, sem a presença visível do seu corpo, podiam compreender claramente,
com os olhos do espírito, que aquele que ao descer à terra não tinha deixado o
Pai, também não abandonou os discípulos ao subir para o céu” (Cf. São Leão
Magno. Sermão sobre a ascensão do Senhor, século V. Oficio das leituras
sexta-feira da 6ª semana do Tempo Pascal).
O Papa Francisco afirma que Jesus ao
dizer: “Ide e fazei discípulos entre
todas as nações” nos chama a ser discípulos em missão. “O Senhor nos diz: ‘Ide,
sem medo, para servir’. ‘Ide’. Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé;
anunciar o evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a
você. Nasce da força do amor, do fato de que Jesus foi quem veio primeiro para
junto de nós e se deu por inteiro. Ele deu sua vida para nos salvar e mostrar o
amor e a misericórdia de Deus. (...). Para onde Jesus nos manda? Não há
fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O evangelho é para
todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós
mais próximos mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não
tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias
existenciais, incluindo quem parece mais distante e mais indiferente. O Senhor
procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu
amor”.
“De forma especial, queria
que o mandato de Cristo – ‘Ide’ – ressoasse em vocês, jovens da Igreja na
América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos.
O Brasil, América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: ‘Ai de mim
se eu não pregar o evangelho!’ (1Cor 9,16). Este Continente
recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito
fruto. Agora esse anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com um
força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da
alegria que lhes caracterizam”!
‘Sem medo’. Jeremias, quando foi chamado por Deus para ser
profeta. Disse ao Senhor: ‘Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo’.
Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: ‘Não tenhas
medo (...), pois estou contigo para defender-te’ (Jr 1,8). Deus está conosco!
‘Não tenham medo’! Quando vamos anunciar Cristo, ele mesmo vai à nossa frente e
nos guia.
Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: ‘Eu
estou com vocês todos os dias’ (MT 28,20). E isto é verdade também para nós!
Jesus nunca deixa ninguém sozinho! Sempre nos acompanha! Além disso, Jesus não
disse: “vai’, mas “ide”: somos enviados em grupo. Quando enfrentamos juntos os
desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que
tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para que vivessem isolados; chamou-os
para que formassem um grupo, uma comunidade. Sigam em frente e não tenham medo!
‘Para servir’. A vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma
vida de serviço. Paulo, para anunciar Jesus ‘fez-se escravo de todos, a fim de
ganhar o maior número possível’ (1Cor 9,19). Evangelizar significa testemunhar
pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa
servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.
Ide, sem medo, para servir. Seguindo essas palavras, vocês
experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da
fé, recebe mais alegria. Queridos jovens, não tenham medo de ser generosos com
Cristo, de testemunhar o seu evangelho. Quando Deus envia o profeta Jeremias,
lhe dá o poder de ‘extirpar e destruir’, devastar e derrubar, construir e
plantar’ (Jr 1,10).
E assim é também para
vocês. Levar o evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o
mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da
intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Jesus Cristo conta com
vocês: ‘Ide e fazei discípulos entre todas as nações’” (Cf. Papa Francisco. Homilia na missa
do envio para a XXVIII Jornada Mundial
da Juventude. Copacabana, 28/07/2013).
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
Celebrando hoje a Ascensão do Senhor agradecemos a Jesus, pois
Ele, vencendo o pecado e a morte, subiu ante os anjos maravilhados, ao mais
alto dos céus. Ele tornou-se nosso mediador diante de Deus. Ele subiu aos céus,
não para se afastar de nossa humildade, mas para nos dar a certeza de que nos
conduzirá à glória da imortalidade (Cf. prefácio I).
Na celebração dominical, fazemos experiência sacramental do
Ressuscitado que se revela a nós por meio de gestos e palavras. Experimentamos
agora uma nova forma de presença no meio de nós. Ele é o Deus conosco, não é um
Deus distante, mesmo habitando em luz incessível. Por isso, tantas vezes
repetimos na liturgia: ”Ele está no meio de nós”.
Juntos, professamos nossa fé em todo o seu mistério e, ao
recitarmos o “Creio, firmamos nossa
convicção de que a glorificação do Senhor é e será também a nossa glória”.
Nesta semana de oração pela unidade das Igrejas cristãs,
invoquemos o Espírito de Deus para que habite em nós e seja nosso sustento na
missão que recebemos do próprio Ressuscitado.
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