A FELICIDADE INTERIOR EXISTE?
Gostaria de iniciar este artigo
lhes dizendo que não há felicidade sem verdadeira vida interior.
Nos últimos anos, os psicólogos,
psiquiatras e outros tais investigadores dedicaram muito do seu tempo ao
assunto relacionado com a felicidade, e a grande maioria estão de acordo com a
importância na distinção entre a felicidade baseada nos valores e a felicidade
hedónica, a felicidade de nos sentirmos bem. A felicidade de sentir-se bem é
uma sensação baseada no prazer. Quando estamos num jogo de piadas ou fazemos
sexo, experienciamos a felicidade de nos sentirmos bem. Dado que a felicidade
de nos sentirmos bem é regulada pela lei dos retornos decrescentes. Este tipo
de felicidade raramente dura mais que um bom par de horas.
A felicidade baseada nos valores
é um senso de que a nossa vida tem um sentido e cumpre um propósito maior.
“Pois todas as coisas foram criadas para uma finalidade” (Eclo 39,26). Assim,
nossa existência passa a ter um sentido, algo que impulsiona o nosso interior.
Representa como que uma fonte
espiritual e/ou moral de satisfação, decorrente do propósito e valores de vida.
Dado que a felicidade baseada nos valores não depende da lei dos retornos
decrescentes, não existe limite para quão significativas as nossas vidas podem
ser.
O ser humano vive em busca da
felicidade. Os ricos tentam comprar a felicidade, os jovens a buscam nos
prazeres dos sentidos, os poetas aspiram pela felicidade inatingível, os
filósofos a contemplam, mas poucos a alcançam, pois a buscam fora de si mesmos.
O certo é que nós é necessário
viajar para dentro de si mesmo. Mergulhe para dentro de seu Ser interior.
Encontre lá a verdadeira felicidade.
Vamos lembrar-nos de um grande
homem de Deus ele fez esta experiência e por isso disse: Tarde Vos amei, ó
Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que
criastes.
Estáveis comigo e eu não estava
Convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria, se não existisse em
Vós. Porém, chamastes-me, com uma voz tão forte, que rompestes a minha Surdez!
Brilhastes, cintilastes, e logo
afugentastes a minha cegueira!
Exalastes Perfume: respirei-o, a
plenos pulmões, suspirando por Vós.
Saboreei-Vos e, agora, tenho fome
e sede de Vós.
Tocastes-me e ardi, no desejo da
Vossa Paz. (Santo Agostinho)
Então nos resta é perguntar o que
é felicidade? Ao longo do curso da civilização, ela tem se provado tão difícil
de definir como de alcançar. Aristóteles chamou-a de uma atividade da alma em
harmonia com a virtude.
Felicidade é a habilidade de
olhar para trás na vida e dizer: eu vivi em nome de certos valores. Agi de
acordo com eles e estava disposto a fazer sacrifícios por eles. Fiz parte de
uma família, abraçando-a e por ela sendo abraçado. Fui um bom vizinho, pronto a
ajudar quando ajudar era preciso. Fiz parte de uma comunidade, honrando suas
tradições, participando de suas atividades, compartindo o cumprimento de suas
obrigações. São estes os elementos que compõem a felicidade num mundo incerto.
Tomados como um todo, eles nos fazem ver o que está em risco na nossa cultura
hoje.
Felicidade não é a busca do
prazer ou a satisfação do desejo. Ela é isto sim, inseparável do bem-viver. É
um conceito moral, e é construído naqueles lugares onde a moralidade importa –
a família, a honestidade, a comunidade –, lugares onde somos valorizados não
por quanto ganhamos, mas simplesmente pelo que somos e fazemos.
E isto só podemos encontrar
dentro de nós, no mais profundo do nosso ser, quando este foi alicerçado em
bons e santos princípios. E se vivermos sob os princípios da Bíblia
independente de nossa denominação cristã.
A felicidade é um dom de Deus,
mas é também uma tarefa nossa.
Eis algumas atitudes importantes
que devemos cultivar, a fim de atingirmos esse estado de paz interior e alegria
próprio das pessoas felizes:
-Aprender a viver com aquilo que
não podemos mudar.
-É muito importante aprendermos a
aceitar-nos, apesar das nossas limitações.
-Cultivar pensamentos
construtivos e partilhar com os outros uma visão positiva da vida.
-É fundamental cultivar a
honestidade consigo e os outros.
-Felizes dos que enfrentam as
dificuldades da vida com confiança, procurando viver unidos a Deus.
-Não nos devemos deixar esmagar
por situações cuja solução não está nas nossas mãos.
-Não será feliz quem não aprende
a partilhar com os outros o seu tempo, os seus bens e o seu saber.
-É muito importante não andarmos
sempre a comparar-nos com os demais.
Devemos ter presente que Deus,
apesar de estar conosco, Deus não nos substitui. Isto quer dizer que há uma
série de atitudes e opções que não podemos deixar de realizar no dia-a-dia da
nossa vida, a fim de edificarmos a felicidade.
Por outras palavras, a felicidade
é um dom de Deus, mas é também uma tarefa nossa.
E por fim gostaria de lhes dizer
de coração, não são os nossos sentimentos os condutores da felicidade, mas
Deus, que é o centro de tudo e Senhor de todas as coisas. Nele, nossa vida pode
ser ordenada e acertada, somente n’Ele a casa será construída sobre a rocha
(cf. Mt 7, 24-27), e nossa felicidade terá bases sólidas.
Pe. Emílio Carlos Mancini.
Diocese de São Carlos.
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