“Perdoar: é possível?”.
Como sabemos, Deus nos ensina que devemos perdoar. E, quando Simão Pedro
perguntou a Jesus até quantas vezes deveríamos perdoar, se até sete vezes, pois
sete era o número da perfeição, Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes,
mas até setenta vezes sete” (São Mateus 18, 21).
Se temos alguma dificuldade em perdoar, vale a pena ler o texto abaixo.
Como é fácil dizer “chega!” e ficar guardando mágoa, ressentimento, ânsias de
revidar, e até de excluir a pessoa do nosso convívio. “Se ele (se ela) vai a
esse jantar, eu não vou.” “Não quero que apareça mais aqui em casa.” “Essa
pessoa, nem a cumprimento, nem olho para ela.” Pode ser Natal, pode ser um
aniversário, pode ser uma comemoração propícia para o congraçamento da família,
que o coração rancoroso se manterá trancado com sete ferrolhos.(...)
O que ensina São Paulo: “Sede uns com os outros bondosos e compassivos.
Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4,32).
Como viver isso?
Uma dificuldade
Não é raro que muitos digam, constrangidos: “Entendo… Deveria ser assim. Mas
não consigo... Não consigo esquecer nem perdoar”.
Se temos essa dificuldade, leiamos com atenção o que diz o Catecismo da Igreja,
ao comentar o pedido de perdão do Pai-nosso: «Não está em nosso poder não mais
sentir e esquecer a ofensa; mas o coração que se entrega ao Espírito Santo
transforma a ferida em compaixão e purifica a memória, transformando a ofensa
em intercessão» (n. 2843). Que esclarecimento nos traz esse texto? Quatro.
─ Primeiro. Não depende de nós, «não está em nosso poder não mais sentir e
esquecer a ofensa». Não confundamos “sentir” com “querer”, e não
esqueçamos que o autêntico amor está na vontade – no querer – e não nos
sentimentos. Mesmo tendo dificuldade “emotiva” para limpar de rancor o coração,
podemos dar a Deus todo o nosso querer: “Meu Deus, eu quero mesmo perdoar, me
ajude!”. Se essa atitude for bem sincera, já estamos perdoando de todo o
coração (Mt 18,35), porque estamos “entregando” o coração (com um ato da nossa
boa vontade) “ao Espírito Santo”, que é o Amor em Pessoa.
─Segundo. O Catecismo convida-nos a «transformar a ferida em compaixão».
Compaixão, logicamente, não é desprezo (“não sinto raiva, sinto pena desse
pobre coitado, que não vale nada…”). Compaixão é perceber que toda falta faz
mal, antes de mais nada, a quem a comete. É uma ferida que se faz a si mesmo, e
que deve mover-nos a agir como o bom samaritano: ajudar a curá-la (Cf. Lc 10,
33-35). Como? Esforçando-nos por ser acolhedores, não remexendo na ferida,
tendo a iniciativa criativa de praticar pequenos atos de bondade. São João
Paulo II dizia: «O amor misericordioso, por sua essência, é um amor criador»
(Dives in misericordia, n. 88). Num clima criativo de atos bons, a bondade dos
outros desabrocha.
-Terceiro. «Purifica a memória». Sabe qual é o melhor “método” para isso? Bastam
poucas palavras. Medite devagar o que aconselha Caminho: «Por maior que seja o
prejuízo ou a ofensa que te façam, mais te tem perdoado Deus a ti» (n. 452).
-Quarto. «Transformar a ofensa em intercessão», ou seja, em oração de petição
pela pessoa que nos ofendeu. Proponha-se, por exemplo, a fazer o seguinte:
“Sempre que me lembrar do que me fez, sempre que pensar nessa pessoa, vou rezar
uma Ave-Maria por ela”.
Assim, apesar das nossas fraquezas, viveremos o ideal que São Paulo pede a
todos os cristãos: “Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o
bem” (Rm 12,21) (Francisco Faus, Tornar a vida amável, www.padrefaus.org).
Saibamos pôr em prática esses maravilhosos conselhos deste autor e encontraremos
a extraordinária paz que vem do perdão. Vale a pena!
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