O pecado contra o Espírito Santo
Evangelho segundo S. Marcos 3,20-35.
Naquele
tempo, Jesus chegou a casa com os seus discípulos. E de novo a multidão
acorreu, de tal maneira que nem podiam comer.
E quando os seus
familiares ouviram isto, saíram a ter mão nele, pois diziam: «Está fora de
si!»
E os doutores da Lei, que tinham descido de Jerusalém, afirmavam:
«Ele tem Belzebu!» E ainda: «É pelo chefe dos demônios que expulsa os
demônios.»
Então, Jesus chamou-os e disse-lhes em parábolas: «Como pode
Satanás expulsar Satanás?
Se um reino se dividir contra si mesmo, tal
reino não pode perdurar; e se uma família se dividir contra si mesma,
essa família não pode subsistir.
Se, portanto, Satanás se levanta contra
si próprio, está dividido e não poderá subsistir; é o seu fim.
Ninguém
consegue entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens sem primeiro o
amarrar; só depois poderá saquear-lhe a casa.
Em verdade vos digo: todos
os pecados e todas as blasfémias que proferirem os filhos dos homens, tudo
lhes será perdoado; mas, quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca
mais terá perdão: é réu de pecado eterno.»
Disse-lhes isto porque eles
afirmavam: «Tem um espírito maligno.»
Nisto chegam sua mãe e seus irmãos
que, ficando do lado de fora, o mandam chamar.
A multidão estava sentada
em volta dele, quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos
que te procuram.»
Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?»
E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: «Aí
estão minha mãe e meus irmãos.
Aquele que fizer a vontade de Deus, esse
é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»
Comentário :
O pecado contra o Espírito Santo
Por que razão é a «blasfémia» contra o Espírito Santo imperdoável? Em que
sentido devemos entender esta «blasfémia»? São Tomás de Aquino responde que se
trata de um pecado «imperdoável pela sua própria natureza, porque exclui
aqueles elementos graças aos quais é concedida a remissão dos pecados».
Segundo tal exegese, a «blasfémia» não consiste propriamente em ofender o
Espírito Santo com palavras; consiste, antes, na recusa de aceitar a salvação
que Deus oferece ao homem mediante o mesmo Espírito Santo, que age em virtude
do sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita este deixar-se «convencer quanto ao
pecado», que provém do Espírito Santo e tem carácter salvífico, rejeita
contemporaneamente a «vinda» do Consolador: aquela «vinda» que se efectuou no
mistério da Páscoa, em união com o poder redentor do Sangue de Cristo, o
Sangue que «purifica a consciência das obras mortas».
Sabemos que o fruto desta purificação é a remissão dos pecados. Por
conseguinte, quem rejeita o Espírito e o Sangue permanece nas «obras mortas»,
no pecado. E a «blasfémia contra o Espírito Santo» consiste exactamente na
recusa radical desta remissão de que Ele é o dispensador íntimo, e que
pressupõe a conversão verdadeira, por Ele operada na consciência. Se Jesus diz
que o pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado, nem nesta vida nem
na futura, é porque esta «não-remissão» está ligada, como à sua causa, à
«não-penitência», isto é, à recusa radical da conversão.
A blasfêmia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que
reivindica o seu pretenso «direito» de perseverar no mal — em qualquer pecado
— e recusa por isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando
impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a
remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua
vida. É uma situação de ruína espiritual, porque a blasfémia contra o Espírito
Santo não permite ao homem sair da prisão em que ele próprio se fechou.
Bem-Aventurado João Paulo II
Encíclica «Dominum et vivificantem», § 46
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