«Vieram ao Seu encontro dois possessos, que habitavam nos
sepulcros»
S. Mateus 8,28-34.
Naquele
tempo, quando Jesus chegou à região dos gadarenos, na outra margem do lago,
vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão
ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho.
Vendo-o, disseram
em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui
atormentar-nos antes do tempo?»
Ora, andava a pouca distância dali, a
pastar, uma grande vara de porcos.
E os demônios pediram-lhe: «Se nos
expulsas, manda-nos para a vara de porcos.»
Disse lhes Jesus: «Ide!»
Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um
precipício, no mar, e morreram nas águas.
Os guardas fugiram e, indo à
cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos.
Toda a
cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse
daquela região.
Comentário :
«Vieram ao Seu encontro dois possessos, que habitavam nos
sepulcros»
«Estarei a seu lado na tribulação, para o salvar e encher de honras» (Sl
90,15); «as minhas delícias são estar junto dos seres humanos» (Pr 8,31). Eis
o Emanuel, Deus connosco (Mt 1,23). [...] Ele desceu para estar próximo dos
que têm o coração aflito, para estar connosco na nossa aflição. Mas virá um
dia em que «seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para
irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor»
(1Ts 4,17); se nos esforçarmos por tê-Lo sempre connosco como companheiro de
viagem, em troca Ele dar-nos-á a pátria. Melhor ainda: então, Ele mesmo será a
nossa pátria, desde que agora seja o nosso caminho.
Assim, é bom para mim, Senhor, estar na aflição, desde que Tu estejas comigo;
é melhor que reinar sem Ti, que alegrar-me sem Ti, que estar sem Ti na glória.
É melhor para mim agarrar-me a Ti na angústia, ter-Te comigo no crisol, que
ficar sem Ti ainda que seja no céu. Com efeito: «quem mais tenho eu no céu? Na
terra só desejo estar contigo» (Sl 72,25) «porque no fogo se prova o ouro e os
eleitos de Deus no cadinho da humilhação» (Sir 2,5). É aí que Tu estás, no
meio dos que se reúnem em Teu nome, como outrora os três jovens na fornalha da
Babilónia (cf. Dan 3,92). [...] Então por que trememos? [...] «Se Deus está
por nós, quem pode estar contra nós?» (Rm 8,31) Se Deus nos arranca das mãos
dos nossos inimigos, quem poderá arrancar-nos das Suas mãos?
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão 17 sobre o Salmo 90, §4; PL 183, 252
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