As provas da Realeza de Maria – Parte II (final)
Por Pe. Gabriel Roschini
3. A TRADIÇÃO
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Eclesiásticos do Oriente e do Ocidente. Teríamos de nos alongar muito mesmo se quiséssemos limitar-nos a referir seus testemunhos principais. Um célebre Mariólogo do século XVII, Marracci, em sua Polyantea Mariana, chegou a enumerar 135 escritores que deram a Maria o título de Rainha, de Imperatriz, de Soberana ou Senhora[2]. Só a palavra Rainha ocupa 13 grandes páginas de citações[3].
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Em uma pintura das Catacumbas de Priscila, a qual monta ao início do II século, a Virgem Santíssima se acha representada no ato de apresentar seu divino Filho à adoração dos Magos.
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Embora a Virgem não esteja sentada, como nas pinturas dos séculos III e IV, traz contudo atavios que recordam os das Imperatrizes da primeira metade do II século, sem véu algum sobre si[4].
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No século IV, a Virgem é representada como uma Rainha no mármore negro do Museu Kircheriano e nos fragmentos de Damons-el-Karita[5]. No século VI, encontramos Maria representada nas âmbulas conservadas em Modena. Aí se vê uma Rainha, cheia de sua majestade: o mesmo tipo que se depara nos famosos mosaicos de Santo Apolinário, em Ravena, nos afrescos de Santa Maria Antiga, junto ao Fôro Romano e, mais tarde, nos portais de várias igrejas do século XII[6].
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A Virgem Santíssima é, então, chamada de Rainha não somente em sentido metafórico, mas também em sentido próprio. Rei e Rainha em sentido metafórico e, portanto, impróprio se dizem aquele e aquela que sobressaem, de modo singular, sobre seus semelhantes em alguma prerrogativa comum.
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Assim, por exemplo, o leão é chamado rei das selvas pela sua força singular; a rosa é chamada rainha das flores pela sua singular beleza. É evidente, nestes casos, o sentido metafórico das palavras rei e rainha. Outro tanto se pode dizer de Cristo e Maria.
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Assim, a Virgem Santíssima pode ser chamada metaforicamente Rainha de toda beleza, pela singular formosura de seus traços; Rainha da santidade, pela singular plenitude de sua graça, princípio de virtudes e de méritos incalculáveis.
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E, de fato, a Igreja a invoca de contínuo nas Ladainhas Lauretanas como Rainha de todos os Santos, genericamente: “Regina Sanctorum omnium”, porque supera a todos na santidade da vida, mesmo tomados todos eles juntos; invoca-a, em seguida, de modo mais particular, como “Rainha dos Anjos”, porque a todos excede no acúmen do intelecto; “Rainha dos Patriarcas”, porque a todos sobrepuja no heroísmo e na piedade; “Rainha dos Profetas”, porque a todos se sobrevela no dom de profecia; “Rainha dos Apóstolos”, porque a todos vence no zelo; “Rainha dos Mártires”, porque a todos precede na fortaleza; “Rainha dos Confessores”, porque a todos se avantaja na confissão da fé; “Rainha das Virgens”, porque a todas transcende na imaculada pureza. Jesus e Maria, por sua beleza singular, são o Rei e a Rainha de toda a criação.
É bem verdade que só a Deus, como autor de todas as coisas, convém essencialmente a Realeza universal sobre todas as criaturas, que Ele governa e conduz a seu fim. Mas é também verdade que Jesus e Maria participam dessa Realeza universal, que convém essencialmente só a Deus. De que modo?
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Cristo, mesmo como homem, participa dessa Realeza de duas maneiras: por direito natural e por direito adquirido. Por direito natural, antes de tudo, por causa de sua personalidade divina, ou seja, por força da união hipostática.
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E por direito adquirido, isto é, por causa do resgate do gênero humano, por Ele operado, do domínio de Satanás. Outro tanto, de modo paralelo, mas analógico, podemos dizer de Maria. Ela é Rainha em sentido próprio por dois títulos: por direito natural e por direito adquirido. Por direito natural, em vista do fato mesmo de ser Mãe do Deus-Homem.
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De fato, como a Mãe de Deus feito homem, Ela pertence à ordem da união hipostática (pois a humanidade de Cristo é também termo da maternidade divina) e participa assim da dignidade real de seu divino Filho. E é também Rainha por direito adquirido, pois que associada intimamente com Cristo na obra de nosso resgate é verdadeira Co-redentora, ao lado do Redentor.
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A Virgem Santíssima, pelo contrário, é Mãe de quem foi Rei desde o primeiro instante de sua concepção. Concebeu-o a Virgem não somente como Deus, mas também como Rei, tendo Ele sido concebido e dado à luz por Ela como Rei, em razão mesmo da união hipostática. Podem aplicar-se, portanto, à Virgem Santíssima com toda razão aquelas palavras do Cântico dos Cânticos: “Vêde o Rei no diadema com que o coroou sua Mãe” (Cant 3, 11).
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Comenta Santo Ambrósio: “Coroou-o quando o formou, quando o gerou” (PL. 16, 328 D.). Em razão, portanto, da maternidade divina de Maria a Mãe de Deus vem a ser partícipe da dignidade real do Deus-Homem, seu Filho, adquirindo assim certo domínio sobre todas as coisas.
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Como a de Cristo, a Realeza de Maria é, também, principal e diretamente uma Realeza sobrenatural e espiritual; secundariamente, porém, e indiretamente é também uma Realeza natural e temporal, isto é, se estende também às coisas naturais e temporais, enquanto estas se referem ao fim sobrenatural e espiritual.
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Estende-se ao Purgatório, levando os fieis da terra a sufragarem de muitos modos as almas que ali sofrem e aplicando a estas, em nome do Senhor, os méritos e as satisfações de seu divino Filho, e os seus próprios. Estende-se, por fim, ao Inferno, fazendo tremer os demônios, tornando vãos seus assaltos para a perdição das almas. Não há, portanto, ponto algum do universo sobre que a Virgem Santíssima não estenda sua Realeza.
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