31º
Domingo do Tempo Comum
Dia 03 de novembro de 2013
Todos os Santos e Santas de Deus
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“Vi
uma multidão imensa, que ninguém podia contar, gente de todas as nações,
tribos, povos e línguas” (Ap 7,9)
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Leituras:
Apocalipse 7, 2-4.9-14;
Salmo 23;
Primeira Carta de João 3, 1-3;
Mateus 5,
1-12.
COR
LITÚRGICA: BRANCO
Animador: Celebramos, hoje, a páscoa do Senhor fazendo memória de
todos os santos e santas, os bem-aventurados, os que venceram a “grande
tribulação”, féis a Jesus Cristo, seguindo-O no amor e no serviço do Reino. Nesta
celebração, renovamos nossa vocação à santidade como um dom que o Pai nos
concede no presente, com a proposta desafiante de Jesus de sermos santos/as
como Deus é Santo.
1. Situando-nos
brevemente
A solenidade de todos os santos e
santas de Deus é um dia para celebrarmos a vitória daqueles que nos precederam
na fé e partiram desta vida para junto de Deus. “Estes são os que vieram da
grande tribulação. Lavaram e branquearam suas vestes no sangue do Cordeiro”,
viveram a filiação divina, pelo cumprimento das bem-aventuranças, foram
proclamados santos.
Depois de termos celebrado todos os
fiéis falecidos, hoje celebramos aqueles que, pela morte, com certeza, estão em
Deus.
O tom da celebração de hoje é de
alegria e de esperança. Alegria porque sabemos que muitos – uma incontável
multidão – são os que estão na eternidade com Deus; esperança porque a vitória
deles nos anima a continuar no caminho da santidade – esse é o nosso destino.
A Eucaristia que celebramos é
alimento para esta caminhada rumo à realização plena de nossas vidas. A
santidade não é o fruto do esforço humano, de quem procura alcançar Deus com as
próprias forças ou mesmo com heroísmo. A santidade é dom do amor de Deus e
resposta do homem à iniciativa divina.
2.
Recordando a Palavra
A Palavra que ouvimos na primeira
leitura divide-se em duas partes:
a) A primeira é
formada pelos versículos 1 a 8 – os eleitos da terra. A destruição e o pânico
do sexto selo se detêm. Os ventos que sopram dos quatro ângulos da terra
simbolizam as forças destruidoras deste mundo e o anuncio do último dia. Os
quatro anjos – seres a serviço de Deus – detêm a destruição. A salvação vem do
Oriente, pois no Oriente nasce o sol e é na direção oriental que está o
paraíso. A marca ou selo indica a pertença e a proteção. O número dos marcados
é simbólico: 12 (perfeição) vezes 12 (doze tribos de Israel) vezes mil
(totalidade) – equivale a uma multidão inumerável.
b) A segunda
parte é formada pelos versículos 9 a 17 (a leitura vai até o 14): a sorte dos
eleitos no céu. Eles já alcançaram a glória e a vitória simbolizadas pela
túnica branca (símbolo da glória celeste) e pelas palmar (símbolo do martírio).
Constituem uma multidão inumerável, sem distinção de raças, a qual prorrompe
num hino de louvor. Superadas as dificuldades, vivem já sem ansiedade. A
salvação ou vitória se deve a Deus e ao Cordeiro; mas este dom ou graça só se
realiza com a resposta humana. Tudo isso ocorrerá no futuro.
Aqui está o fundamental da leitura:
esta visão do final deve suscitar interesse e entusiasmo para a luta do
presente, na qual se consolida a eternidade.
A primeira carta de João apresenta
incrível densidade apenas nos três versículos hoje lidos. O Pai nos deu um
grande presente de amor: de Cristo, ressuscitado e exaltado aos céus, à direita
do Pai. O autor repete: “E nós o somos!” A filiação divina é o fundamento de
toda a santidade, pelo Batismo nos tornamos partícipes da santidade de Deus, o
único Santo.
Não vivemos sempre como filhos de
Deus, ora por nossa culpa, ora porque o mundo não nos conhece, como também não
conheceu a Cristo. Mundo significa aqui tudo o que rechaça a salvação de Deus.
Vivemos numa situação de gestação, de expectativa. Sem dúvida, semelhante ao
agricultor que sabe ter semeado e espera, com impaciência, o dia da colheita,
assim nós devemos crer e esperar o dia em que se porá de manifesto o que já
somos pela graça de Deus. Quando Jesus se manifestar em toda a sua glória,
seremos semelhantes a Ele. O veremos tal como ele é. Toda a visão que temos de
Jesus Cristo pela fé limitada e imperfeita. Nossa atual condição não comporta a
visão de Deus. Quando, porém, estivermos face a face com Deus, purificados pela
esperança o veremos como é de fato.
O Evangelho é a pagina de abertura
do grande Sermão da Montanha, que hoje nos apresenta as bem-aventuranças. Uma
consideração inicial: as bem-aventuranças não são propriamente um ensinamento
de Jesus, mas uma declaração aqui se percebe sua importância.
Na intenção do autor sagrado, o
monte não é um acidente geográfico qualquer, mas é imagem do Sinai, o monte por
excelência da tradição judaica, onde teve lugar a constituição do povo de Deus.
Apresentando Jesus subindo ao monte, Mateus quer significar com isso que com
ele vai ter lugar o ato fundacional do novo poço de Deus, tendo Jesus como seu
novo Moisés.
É preciso enfatizar que as
bem-aventuranças não são princípios abstratos, mas versam sobre situações
concretas das pessoas que seguem a Cristo. As primeiras pertencem à pobreza, o
pranto ou aflição, a fome e a sede, os maus tratos e a perseguição. Trata-se de
situações de sofrimento físico que o membro do povo de Deus se vê obrigado a
padecer por causa de sua dedicação à justiça, ou seja, por causa da construção
de um novo modelo de sociedade chamado Reino de Deus. Não se deixa vencer por
elas, mas as sofre com serenidade. A estes que vivem assim o realismo da vida,
Jesus os declara bem-aventurados. Hoje devemos dizer enfaticamente o óbvio:
bem-aventurado é sinônimo de feliz e de santo. Temo aqui uma sutileza que não
podemos esquecer: o objeto da bem-aventurança de Jesus não são as situações,
mas as pessoas que não se deixam derrotar por elas. Assim, o começo do ato de
instituição do novo povo de Deus é um canto às pessoas que sofrem por fazer
possível o Reino de Deus.
A bem-aventurança que abre o
conjunto é a mais lembrada. Jesus chama “pobre” a quem, não tendo nada (sentido
social da pobreza) Poe sua confiança em Deus (sentido religioso da pobreza).
Ele põe, em primeiro plano, a pobreza real, sem a qual não é possível a pobreza
espiritual. A pobreza espiritual não é outra coisa que a radicalização e a
interiorização da pobreza real e, de nenhum modo, um pretexto para fazer mais
confortável o cristianismo aos que seguem sendo ricos às custas dos pobres.
Conforme os estudiosos da Bíblia,
as oito bem-aventuranças tem como chave de interpretação a primeira e a oitava:
O Reino dos Céus é prometido aos pobres e aos perseguidos por causa da justiça.
Uma nona bem-aventurança, nitidamente diferente dessas oito, desenvolve a
oitava e supõe a situação concreta da Igreja primitiva perseguida.
3.
Atualizando a Palavra
Todos nós, cristãos, somos
chamados, vocacionados à santidade. O capítulo V da “Lumen Gentium”, trata
justamente da vocação à santidade de todos os cristãos, radicada no Batismo.
O problema é que fazemos algumas
associações que acabam por caricaturar de tal forma a imagem dos santos, que as
pessoas de nosso tempo não parecem considerar-se chamadas a essa vocação.
Olhemos para as imagens que temos dos santos: homens e mulheres sempre com um
semblante muito sério, envoltos em longas túnicas (normalmente bispos, padres,
religiosos e religiosas). As histórias que os rodeiam são muitas vezes
fantásticas, cheias de milagres e feitos espetaculares. Associa-se também a
idéia de santidade com a de perfeição. Tudo isso afasta a santidade do
horizonte de nossa vida pessoal. É urgente vermos santos e santas que levam uma
vida normal, vestem roupas normais, tem filhos, vivem no mundo e nele dão
testemunho do amor de Deus, sem ter que operar milagres espetaculares. Não
podemos confundir santidade com canonização: muitos são os santos que não estão
canonizados, isto é, com santidade comprovada e reconhecida pela Igreja.
A página das bem-aventuranças
fascina-nos e angustia-nos ao mesmo tempo. Então temos de fixar o nosso olhar
em Jesus, o qual praticou de forma perfeita as bem-aventuranças e depois no-las
ensinou. Foi tão pobre, que nasceu numa estrebaria; tão manso, que se propôs
como modelo desta virtude; tão misericordioso, que pode afirmar: “quero
misericórdia e não sacrifício”; tão pacífico, que se tornou “a nossa paz”; tão
puro de coração, isto é, orientado para Deus totalmente e sempre, que pode
afirmar: “o meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que me enviou e realizar a
sua obra”; tão perseguido, que acabou por morrer mártir. Estes comportamentos
de Jesus são para nós fonte de graça, para além de exemplos, para fazermos
nossa a mensagem das bem-aventuranças e caminharmos assim em direção à
santidade”.
O Apocalipse nos ajuda a ver a
santidade como fidelidade a Cristo. Passar por esta vida mantendo a fé é
atingir a santidade.
A solenidade de hoje é uma motivação
para todos nós, que nos encontramos a caminho da pátria definitiva. Os santos
nos servem de exemplo, intercessão e motivação, porque nos asseguram que, com a
graça de Deus, é possível chegar lá.
João nos lembra de que nossa
santidade nasce da filiação divina. Somos filhos no Filho, participamos da
filiação divina de Jesus, e, nesse sentido, somos filhos de Deus. A santidade e
a filiação divina são manifestas, neste mundo, apenas parcialmente. A plenitude
está reservada para a eternidade, quando anos encontraremos diante do trono e
do Cordeiro e proclamaremos então: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está
sentado no trono, e ao Cordeiro” (Ap 7,10).
Em última análise, todo ser humano
busca a realização. Queremos ser felizes. Aqui há um espaço importante para
anunciar a santidade como meta de nosso existir: viver rumo à santidade é viver
a plena realização humana. É dar sentido à nossa vida, um sentido que nos faz
ver o tempo presente com dimensões de eternidade. Quem interpreta ver o tempo
presente com dimensões de eternidade. Quem interpreta a vida apenas com os
olhos deste mundo, com certeza se frustrará. No entanto, quem sabe que, pela
graça, somos chamados à plena comunhão com Deus, esse vive em plenitude, é
feliz, realizado, santo.
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
A oração pós-comunhão deste dia
resume bem o sentido da celebração: “ao celebrarmos, ó Deus, todos os Santos,
nós vos adoramos e admiramos, porque só vós sois o Santo, e imploramos que a
vossa graça nos santifique na plenitude do vosso amor, para que, desta mesa de
peregrinos, passemos ao banquete do vosso reino”.
A santidade existe em nós à medida
que nos aproximamos de Deus. Esse processo iniciado no Batismo te, na
Eucaristia, um momento privilegiado: é o alimento para a caminhada rumo ao Pai.
A Eucaristia e a Palavra vão moldando em nós a santidade que Deus espera. A
Eucaristia nos transforma, lenta e progressivamente, em seres capazes de
contemplar o Pai com todos os que são salvos.
Diz a oração que a Eucaristia é uma
mesa de peregrinos. É o pão que sustenta a caminhada. Sinal do banquete
escatológico do Reino. Esta mesa de peregrinos é, contudo, o que de mais
excelso temos, pois nela celebramos os mistérios do próprio Deus, em comunhão
com os anjos e com aqueles que atingiram a meta de suas vidas: os santos e as
santas.
Significativo é também o Prefácio
da Missa de hoje que transforma em oração o que ouvimos na Liturgia da Palavra:
“Pois festejamos hoje a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde
nossos irmãos, os santos, vos cercam, e cantam eternamente o vosso louvor. Para
essa idade caminhamos pressurosos, peregrinando na penumbra da fé, alegres por
saber que estão na vossa luz tantos membros da Igreja que nos dais ao mesmo
tempo como exemplo ajuda inestimável”.
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