A Voz do Silêncio
O
nascimento de Jesus traduz a certeza de que não estamos sozinhos neste mundo,
Deus se fez homem para nos ensinar o dom do amor.
Mais
do que um tempo de festa, o Natal e o Tempo da Natividade que vivemos agora na
Igreja constitui uma verdadeira oportunidade de encontro com Deus. No
nascimento de Jesus se manifesta a graça do Verbo Encarnado, que, fazendo-se
homem igual a nós, veio habitar na Terra para experimentar "as alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem" (01).
Mas
a atitude dos cristãos que desejam participar desse encontro não pode ser a de
alguém soberbo ou autossuficiente. Pelo contrário, para entrar no lugar do
nascimento de Jesus é necessário inclinar-se. Com efeito, "se quisermos
encontrar Deus manifestado como menino, então devemos descer do cavalo da nossa
razão «iluminada»" (02).
Manifestou-se
a graça salvadora de Deus a todos os homens” (Tt 2, 11). Esta é a festa da
gloriosa manifestação da graça santificante. Somos envoltos na luz da
misericórdia e do amor de Deus, um Deus que faz-se um de nós assumindo o
rebaixamento da nossa condição humana. Esse amor não aparece, mas manifesta-se.
Manifesta-se, pois já existia, e porque já existia manifestou-se. Mas que coisa
é para nós hoje esta manifestação? O que ela representa aos nossos dias
atribulados pela valorização de coisas efêmeras, de guerras, de ódios, de
divisões?
Jesus
Cristo é a Palavra viva e definitiva de Deus, que revela aos homens o verdadeiro
caminho para chegar à salvação. Celebrar o seu nascimento é acolher essa
Palavra viva de Deus… “Escutar” essa Palavra é acolher o projeto que Jesus veio
apresentar e fazer dele a nossa referência, o critério fundamental que orienta
as nossas atitudes e as nossas opções. A Palavra viva de Deus (Jesus) é, de
fato, a nossa referência? O que Ele diz orienta e condiciona as minhas
atitudes, os meus valores, as minhas tomadas de posição? Os valores do
Evangelho são os meus valores? Vejo no Evangelho de Jesus a Palavra viva de
Deus, a Palavra plena e definitiva através da qual Deus me diz como chegar à
salvação, à vida definitiva?
Essa
“Palavra” veio ao encontro dos homens e fez-se “carne” (pessoa).
A
transformação da “Palavra” em “carne” (em menino do presépio de Belém) é a
espantosa aventura de um Deus que ama até ao inimaginável e que, por amor,
aceita revestir-Se da nossa fragilidade, a fim de nos dar vida em plenitude. Neste tempo
de Natal, somos convidados a contemplar, numa atitude de serena adoração, esse
incrível passo de Deus, expressão extrema de um amor sem limites.
Acolher
a “Palavra” é deixar que Jesus nos transforme, nos dê a vida plena, a fim de
nos tornarmos, verdadeiramente, “filhos de Deus”. O presépio que contemplamos
é, apenas, um quadro bonito e terno ou uma interpelação a acolher a “Palavra”,
de forma a crescermos até à dimensão do homem novo?
Hoje,
como ontem, a “Palavra” continua a confrontar-se com os sistemas geradores de
morte e a procurar eliminar, na origem, tudo o que rouba a vida e a felicidade
do homem. Sensíveis à “Palavra”, embarcados na mesma aventura de Jesus – a
“Palavra” viva de Deus – como nos situamos diante de tudo aquilo que rouba a
vida do homem? Podemos pactuar com a mentira, o oportunismo, a violência, a
exploração dos pobres, a miséria, as limitações aos direitos e à dignidade do
homem?
Jesus
(esse menino do presépio) é para nós a “Palavra” suprema que dá sentido à nossa
vida, ou deixamos que outras “palavras” nos condicionem e nos induzam a
procurar a felicidade em caminhos de egoísmo, de alienação, de comodismo, de
pecado? Quais são essas “palavras” que às vezes nos seduzem e nos afastam da
“Palavra” eterna de Deus que ecoa no Evangelho que Jesus veio propor?
Desejo
a todos uma feliz Natividade e um Ano repleto de bênçãos de nosso Deus amor.
Pe.Emílio
Carlos Mancini +
Reitor
Seminário Menor e Propedêutico.
Referências:
1. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 1
2. Homilia de Bento XVI da Santa Missa da
Noite de Natal do Senhor de 2011
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