IMACULADA
CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA
8 de dezembro
de 2013
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“Eis aqui a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra!”
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Leituras:
Gênesis 3,
9-15.20;
Salmo 97 (98);
Carta de São Paulo aos Efésios 1, 3-6.11-12;
Lucas 1,
26-38 (anúncio do nascimento de Jesus).
COR LITÚRGICA: Branca
ou Dourada
Desde o primeiro instante da sua concepção Maria foi
preservada da mancha do pecado. Não conheceu, em nenhum momento de sua vida, a
condição miserável do pecado e suas consequências. Por isso pode cantar: “o
Todo-Poderoso fez para mim coisas grandiosas” (Lc 1, 49) e, ao mesmo tempo, convidar
todos os povos a aclamar, alegra-se e exultar em Deus salvador (Lc 1, 47)
porque sua Concepção Imaculada é essencialmente obra e manifestação divina na
vida de Maria.
1. Situando-nos
brevemente
Neste domingo, em pleno Advento, ao nos prepararmos para
reviver o mistério da Salvação em acontecimentos nos quais a graça irrompe com
abundância, celebramos a solenidade da Imaculada Conceição. Intuição
mariológica, mas também eclesiológica e escatológica, no sentido de que Maria,
plasmada pelo Espírito Santo, antecipa o estado de nova criatura ao qual todos
somos chamados.
É uma realidade teológica: o “sim” de Deus à humanidade,
na pessoa da jovem israelita Maria, a cheia de graça, que, a seguir,
consagra-se com seu “sim”, como digna habitação para a encarnação do Verbo e
serva solidária, por excelência, da humanidade a ser salva.
Deus, por pura bondade e iniciativa sua, preparando a
vinda de seu Filho, “preservou a Virgem Maria de toda mácula do pecado, para
que, na plenitude da graça, fosse digna mãe de seu Filho”, entoa o prefácio do
Advento II.
Em 1854, ao ser proclamada pelo Papa Pio IX Imaculada,
liberada dos estragos do pecado desde sua concepção, Maria nos é apresentada
como a primeira redimida pela Páscoa de Cristo (cf. CIgC, n.490—493). Portanto,
uma festa da Igreja que envolve a humanidade no dom gratuito que Deus faz a
Maria, abençoando-nos a todos. Nela foi dado o início de uma Igreja, “sem
mancha e sem rugas” (Ef 5,27), resplandecente de beleza e santidade, revestida
“de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas joias”, cantamos na
antífona de entrada.
Acendendo hoje a segunda vela do Advento, contemplamos,
na Imaculada, o brilho de sua vida doada como fiel serva do Senhor, a serviço
da humanidade e de todas as pessoas e povos que cultivam relações humanas e
sociais justas e igualitárias.
Somos motivados a receber hoje o segredo do Advento que
Maria nos traz: acolher o Senhor que vem, abrindo-nos humildemente à sua ação e
vivendo com todo o empenho de nossa vida de fé, aquilo que por graça, recebemos:
Recordamos fatos que são sinais que apressam a vinda de
Deus no meio de nós, como:
Dia 10/12 – Dia Mundial dos Direitos Humanos, Dia
Internacional dos Povos Indígenas, que tanto lutam por dignidade, demarcação de
suas terras e preservação de sua cultura.
Dia 12/12 – a manifestação de Deus em Guadalupe, por
intermédio de Maria, grávida de Jesus, nos sinais da cultura indígena sempre
grávida de esperança e libertação.
2. Recordando a
Palavra
A primeira leitura da festa de hoje é um diálogo entre
Deus e as suas criaturas, mostrando o interesse que Deus tem por cada uma. Deus
chama Adão e lhe pergunta: “Adão, onde estás?”. Ele ouvira a voz de Deus,
ficara com medo por estar nu e se escondera. Deus torna a perguntar: “quem te
disse que estavas nu? Então comeste da árvore proibida”.
Adão tira o corpo fora, não admite a própria
responsabilidade e acusa a companheira mulher. Questionada por Deus, a mulher
acusa a serpente e admite que fora enganada. Deus então amaldiçoa a serpente e
estabelece sua derrota, comer pó (Cf. Mq 7,17), e sua punição. A astúcia da
serpente volta-se contra ela própria. A mulher e sua descendência atingirão a
serpente na cabeça, correndo o risco de serem atingidos no calcanhar, em seu
ponto vulnerável (tendão de Aquiles).
A Igreja sempre interpretou este texto como anúncio da
vitória do Messias, nascido de uma mulher, sobre todo mal e a própria morte. A
Vulgata traduz esta passagem como “ela, a Mulher te esmagará a cabeça”. A mãe
do Messias tem um papel muito importante na história da salvação.
No evangelho de Lucas, a anunciação do nascimento de
Jesus não é feito ao pai, mas à mãe, a virgem. No Antigo Testamento, o anúncio
é sempre feito ao pai e a dificuldade a ser rompida é a esterilidade da mãe já
idosa. A anunciação a Maria não é a resposta de Deus ao pedido de alguém, mas
pura iniciativa divina.
Chama a atenção também o local onde ocorre o anúncio:
Galileia, lugar sem valor, pois “da Galileia não surge profeta” (Jo 7,52),
longe de Jerusalém, onde ocorrera o anúncio a Zacarias do nascimento de João;
em Nazaré, de onde “nada de bom pode vir” (cf. Jo 1,46).
Deus envia Gabriel a Nazaré da Galileia para levar uma
mensagem à jovem Maria que estava noiva de José: “Alegra-te, cheia de graça! O
Senhor está contigo”. Esta á a Boa Nova da alegria! Maria é a primeira a ser
convidada a acolher Jesus sem medo, sem receio, com confiança e júbilo. Maria
se perturbou e tentava decifrar o sentido da saudação.
Outra novidade é que o nome será dado por ela, a mãe, e
não pelo pai, como no Primeiro Testamento. O menino será chamado Jesus, que
significa “o Senhor salva”, equivalente a Josué, Isaías, Oséias. São muitos
elementos perturbadores para a jovem Maria que bem conhecia as tradições de seu
povo, mas, mesmo assim, se coloca inteiramente à disposição de Deus. “Eis aqui
a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
Deus fecundou a fé e a entrega de Maria. Maria é coberta
pelo Espírito e cheia da glória de Deus como em Ex 40,34: “a nuvem envolveu a
tenda do Encontro, e a glória do Senhor encheu a Morada”. Em Maria, os pobres
proclamam a misericórdia do Deus que se lembra dos pequenos e vem morar com
eles porque os ama, trazendo-lhes a plenitude da salvação, Jesus, o Messias.
3. Atualizando a
Palavra
A Sagrada Escritura nos apresenta Maria como a crente
por excelência, o modelo de nossa fé. A festa de Maria Imaculada nos traz
alegria, apelo à pertença total a Deus, disponibilidade, acolhida do desígnio
de Deus sobre nossas vidas e sobre o mundo todo. A isenção do pecado em Maria
depende da soberana vontade de Deus em sua criação.
A tendência ao mal não pode ser aceita como um
determinismo absoluto ao nosso gênero humano. Através de Maria Imaculada,
podemos crer que a fidelidade à Aliança com Deus é possível. Maria é
transparente à vontade de Deus. Nunca foi infiel ao Senhor. A salvação não é
somente resgate dos pecados de suas criaturas. É possível viver em pureza
plena, se, como Maria, respondermos sempre sim à iniciativa de Deus.
No evangelho de hoje, Maria não pede sinais, como
Zacarias havia feito, mas se entrega em confiança plena na vontade de Deus. A
vontade de Deus passa a ser sua vontade encarnada em sua fé e nos seu corpo.
Assim poderá ser em nossa vida?
O dom anunciado pelo anjo a Maria faz parte dessa
história pessoal, mas é também evento salvador que ocorre na história, na
plenitude dos tempos, para toda humanidade. É a síntese da força do Espírito
Santo e da fraqueza e pequenez de Maria. Seu Filho é Filho do Altíssimo.
Cumpre-se nela e na história o projeto salvador de Deus. Esse filho anunciado,
aceito e amado olhará para as mulheres de maneira nova, defenderá sua dignidade
e as acolherá entre seus discípulos.
A Boa Nova de hoje é “alegra-te”! Essa é a primeira
palavra de Deus para todas as suas criaturas e para nós também. Alegria que
nasce de dentro de quem enfrenta a vida com convicção e sabe que “Ele está no
meio de nós”.
Neste tempo cheio de incertezas, escuridões, problemas e
dificuldades, não podemos perder a alegria e a coragem. Em tantos apelos para
nos desviar do caminho de Deus, permaneçamos, como Maria, fiéis ao projeto do
Reinado de Deus.
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
A celebração atualiza, na assembleia reunida, a força
que preservou Maria do pecado. Nela o mal foi definitivamente vencido. Ela se
torna o primeiro sinal do Reino e dele nos indica o caminho.
Na Eucaristia, celebramos o mesmo mistério da redenção
cujos benefícios Maria foi a primeira a experimentar e do qual nós participamos
segundo nossa fraqueza e nossas forças. Cantamos no salmo, o misterioso júbilo
pelo agir gracioso e gratuito de Deus na vida de Maria e em nossa vida.
Damos graças e louvores ao Pai por nos ter dado Maria,
modelo de fé adulta, esclarecida, solidária, de contínua abertura ao amor.
Alimentando-nos com o corpo de Cristo para sermos, com ele e com Maria,
vencedores do mal e da morte no dia a dia de nossa vida.
Partindo da celebração, somos enviados, como comunidade
cristã, a percorrer, em nosso cotidiano, o caminho que Maria percorreu: o
caminho do contínuo advento.
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