Se Maria fez voto de virgindade, como pode ter desposado José?
Santo Agostinho explica:
“O que tornou a virgindade de Maria tão santa e agradável a Deus não
foi porque a concepção de Cristo a preservou, impedindo que sua
virgindade fosse violada por um esposo, mas porque antes mesmo de
conceber ela já a tinha dedicado a Deus e merecido, assim, ser
escolhida, para trazer Cristo ao mundo.
É o que indicam as palavras de Maria em resposta ao anjo que lhe
anunciava a maternidade: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço
homem algum?” (Lc 1,34). Por certo, ela não teria falado assim, se não
houvesse consagrado anteriormente sua virgindade a Deus. Mas como esse
voto ainda não tinha entrado nos costumes dos judeus, ela fora dada em
casamento a um varão justo o qual, longe de lhe tirar o que ela já havia
consagrado a Deus, seria ao contrário o seu fiel guardião.
Ainda que ela apenas tivesse dito: “Como é que vai ser isso”, sem
acrescentar: “se eu não conheço homem algum”, não ignorava que, como
mulher, não precisaria perguntar como daria à luz esse filho prometido,
no caso de estar casada para ter filhos.
Poderia também ter recebido uma ordem do céu de permanecer virgem, a
fim de que o Filho de Deus tomasse nela a forma de escravo por algum
grande milagre. Mas por estar destinada a servir de modelo às futuras
virgens consagradas, era preciso não deixar parecer que unicamente ela
deveria ser virgem, ela que merecera conceber fora do leito nupcial.
Assim, consagrou sua virgindade a Deus, enquanto ainda ignorava de
quem havia sido chamada a ser mãe. Desse modo, ela ensinava, às outras, a
possibilidade de imitação da vida do céu, em um corpo terrestre e
mortal, em virtude de um voto e não de um preceito, e realizando-o por
opção toda de amor, não por necessidade de obedecer.
Cristo, assim, nascendo de uma virgem que, antes mesmo de saber de
quem seria mãe, já tinha resolvido permanecer virgem, esse Cristo
preferiu aprovar a santa virgindade a impô-la. Dessa maneira, mesmo na
mulher da qual haveria de receber a forma de servo, ele quis que a
virgindade fosse o efeito da vontade livre.” (A Santa Virgindade – Santo
Agostinho)
Vejamos, agora, o que nos diz o Papa João Paulo II:“No momento da anunciação, Maria encontra-se então na situação de
noiva. Podemos perguntar-nos porque ela tinha aceito o noivado, dado que
havia feito o propósito de permanecer virgem para sempre. (…) Pode-se
supor que entre José e Maria, no momento do noivado, houvesse um
entendimento sobre o projeto de vida virginal.
De resto, o Espírito Santo, que tinha inspirado Maria à escolha da
virgindade em vista do mistério da Encarnação, e queria que esta
acontecesse num contexto familiar idôneo ao crescimento do Menino, pôde
suscitar também em José o ideal da virgindade.” (João Paulo II –
Catequese – 17 a 24/08/1996)
Em acréscimo, lembro também que na cultura judaica uma mulher sem
marido não era bem vista (veja, por exemplo, 1Cor 7,36). Desposando de
José, homem justo, Maria não passaria por tal constrangimento e ainda
cumpriria o voto de virgindade. Uma segunda observação, é que quando o
Papa fala no ideal de virgindade de José, este ideal pode ter sido
suscitado após sua viuvez, uma vez que existem relatos de que José teria
tido filhos em seu primeiro casamento.
Fonte: Site Veritatis Splendor
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