Tudo o que
é bom é criação de Deus.
Gênesis 1,1-19
As
narrativas do Gênesis dizem respeito pessoalmente a cada um de nós e a todos em
conjunto: não falam de fatos remotos, mas das nossas relações com Deus,
definidas pela criação, a eleição, o pecado e a salvação. Estes constituem a
“pré-história”, o início de nossa salvação. Na narração da criação do mundo, o
cristão vê uma mensagem fundamental. Deus é o criador de tudo o que existe e,
inversamente, tudo o que existe, ou é Deus, ou é de Deus: foi criado por ele.
Daí provém
a bondade radical do mundo, a sua “solidez” e a esperança no seu futuro: Deus é
solidário com tudo o que criou, ele é “aquele que ama tudo o que vive” (Sb
11,26) e o conduz, dia após dia, à realização plena e final. Junto com ele, o
cristão pode ser profundamente otimista: “Deus contemplou tudo o que tinha
feito, e eis que era tudo muito bom”.
O homem
macho e fêmea, homem-mulher, foi criado “à imagem de Deus” (v. 26). Mas, o
homem “imagem de Deus” não é qualquer um. À luz da cultura do tempo em que foi
escrito o nosso texto, é homem “à imagem de Deus” aquele que está acima de
todos os outros, isto é, o rei. A página de Gn 1 foi escrita na Babilônia, onde
encontramos um texto bastante eloqüente: “A sombra de Deus é o Homem e os homens
são sombra do Homem; o Homem é o rei, igual à imagem da divindade”.
O autor
sagrado, é certo, estendeu a todos os homens e mulheres a prerrogativa serem “imagem
de Deus”. Com efeito, a ordem de “dominar sobre a terra” e sobre os outros
seres vivos é dada indistintamente a todos os homens. Mas, insistimos na
pergunta: qual é o homem que realiza plenamente esta missão real no interior da
criação?
Os Padres orientais tentaram responder a esta questão introduzindo uma
distinção entre “imagem” e “semelhança”. Todos os homens levam em si a imagem
divina. Mas, para reinar verdadeiramente, é preciso conseguir também uma certa
semelhança com o verdadeiro rei do mundo, que é o Filho, perfeita “imagem de
Deus invisível” (Cl 1,15), assumir as suas opções, entrar nos seus pensamentos.
Esta perspectiva patrística, com fundamento bíblico, corresponde à afirmação
paulina: “E assim como trouxemos a imagem do homem da terra, assim levaremos
também a imagem do homem celeste” (1 Cor 15,49).
Pe.Emílio Carlos +
em Reflexões em Gotas
Ed .Com Deus
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