Do
presépio à cruz
No
dia após a solenidade do Natal, celebramos a festa de Santo Estêvão, diácono e
primeiro mártir. À primeira vista a proximidade […] com o nascimento do
Redentor pode-nos surpreender, porque é tocante o contraste entre a paz e a
alegria de Belém e o drama de Estêvão. […] Na realidade, o aparente desacordo é
superado se considerarmos mais profundamente o mistério do Natal. O Menino
Jesus, deitado na gruta, é o Filho único de Deus que Se fez homem. Ele salvará
a humanidade morrendo na cruz. Agora vêmo-Lo envolvido em panos no presépio;
depois da sua crucifixão será novamente envolvido por faixas e colocado no
sepulcro. Não é por acaso que a iconografia natalícia representava, por vezes,
o Menino divino colocado num pequeno sarcófago, para indicar que o Redentor
nasce para morrer, nasce para dar a vida em resgate por todos (Mc 10,45).
Santo
Estêvão foi o primeiro que seguiu os passos de Cristo com o martírio; morreu,
como o divino Mestre, perdoando e rezando pelos seus algozes (At 7, 60). Nos
primeiros quatro séculos do cristianismo, todos os santos venerados pela Igreja
eram mártires. Trata-se de uma multidão inumerável, a que a liturgia chama «o
cândido exército dos mártires». […] A sua morte não incutia receio nem
tristeza, mas entusiasmo espiritual, que suscitava sempre novos cristãos. Para
os crentes, o dia da morte, e ainda mais o dia do martírio, não é o fim de
tudo, mas a «passagem» para a vida imortal, o dia do nascimento definitivo, em
latim «dies natalis». Compreende-se então o vínculo que existe entre o «dies
natalis» de Cristo e o «dies natalis» de Santo Estêvão. Se Jesus não tivesse
nascido na terra, os homens não teriam podido nascer no Céu. Precisamente
porque Cristo nasceu, nós podemos «renascer»!
Papa
Bento XVI
Angelus
de 26/12/2006 (trad. © Libreria Editrice Vaticana, rev)
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