Cristo reina com autoridade absoluta entretanto, não governa segundo os métodos do mundo.
Por direito de herança e de
conquista, Cristo reina com autoridade absoluta sobre todas as criaturas.
Entretanto, não governa segundo os métodos do mundo.
I - REI NO TEMPO E NA ETERNIDADE
Ao ouvirmos este Evangelho da
Paixão, de imediato surge em nosso interior uma certa perplexidade: por que a
Liturgia, para celebrar uma festa tão grandiosa como a de Cristo Rei, terá
escolhido um texto todo ele feito de humilhação, blasfêmia e dor?
Tanto mais que, em extremo
contraste com esse trecho de São Lucas, a segunda leitura de hoje nos apresenta
Jesus Cristo como sendo "a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda
a criação (...) porque foi do agrado do Pai que residisse n'Ele toda a
plenitude" (Col 1, 15 e 19). Como conciliar esses dois textos, à primeira
vista, tão contraditórios?
Ó Sagrado Coração de Jesus, eu Vos ofereço
minhas pobres orações para que os homens reconheçam a Vossa Realeza Sagrada e o
Reino de Vossa paz se estabeleça por todo o universo.
Para melhor compreendermos esse
paradoxo, devemos distinguir entre o Reinado de Cristo nesta terra e o exercido
por Ele na eternidade. No Céu, seu reino é de glória e soberania. Aqui, no
tempo, ele é misterioso, humilde e pouco aparente, pelo fato de Jesus não
querer fazer uso ostensivo do poder absoluto que tem sobre todas as coisas:
"Foi-me dado todo o poder no Céu e na terra" (Mt 28, 18).
Apesar de as exterioridades nos
causarem uma impressão enganosa, Ele é o Senhor Supremo dos mares e dos
desertos, das plantas, dos animais, dos homens, dos anjos, de todos os seres
criados e até dos criáveis. Porém, diante de Pilatos, assevera: "O meu
Reino não é deste mundo" (Jo 18, 36), porque não quer manifestar seu império
em todas as suas proporções, a não ser por ocasião do Juízo Final.
Assim, enquanto o Evangelho nos
fala de seu Reinado terreno, a Epístola proclama o triunfo de sua glória
eterna. No tempo, vemo-Lo exangue, pregado na Cruz entre dois ladrões, sendo escarnecido
pelos príncipes dos sacerdotes e pelo povo, insultado pelos soldados e objeto
das blasfêmias do mau ladrão. A Liturgia exige de nós um esforço de fé para,
indo além do fracasso e da humilhação, crermos na grandiosidade do Reino de
Jesus.
Por outro lado, errôneo seria
imaginar que Ele não deve reinar aqui na terra. Para comp reender bem o quanto
Cristo é Rei, é preciso diferenciar seu modo de governar daquele empregado pelo
mundo.
O governo humano, quando ateu,
encontra sua força nas armas, no dinheiro e nos homens. Tem por finalidade as
grandes conquistas territoriais, perdurar longamente e alcançar a felicidade
terrena. Porém, o tempo sempre demonstra o quanto esses objetivos são ilusórios
e até mentirosos. As armas em certo momento caem ao solo, ou se voltam contra o
próprio governante; o dinheiro é por vezes um bom vassalo mas sempre um mau
senhor; os homens, quando não assistidos pela graça, neles não se pode confiar.
Napoleão Bonaparte é um bom
exemplo do vazio enganador no qual se fundamentam os Impérios neste mundo.
Basta imaginá-lo proclamando seu fracasso do alto de um penhasco na ilha Santa
Helena, durante o penoso exílio ao qual ficara reduzido. Em síntese, a Cristo
rei do Universo.. E ainda que ela fosse atingível, a nós caberia a frase do
Evangelho: "Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a
sua alma?" (Mc 8, 36).
II - A REALEZA ABSOLUTA DE CRISTO
A Realeza de Cristo é bem outra.
Ele de fato é Rei do Universo e, de maneira muito especial, de nossos corações.
Ele possui uma autoridade absoluta sobre todas as criaturas e já muito antes de
sua Encarnação, quando se encontrava no seio do Padre Eterno, ouviu estas
palavras:
"Tu és meu Filho, eu hoje te
gerei. Pede- me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins
do mundo, tu governarás com cetro de ferro" (Sl 2, 7-9).
Rei por direito de herança
Ele é o unigênito Filho de Deus e
por Este foi constituído como herdeiro universal, recebendo o poder sobre toda
a criação, no mesmo dia em que foi engendrado (1).
Rei por ser Homem-Deus
Por outro lado, Jesus Cristo é
Deus e, assim sendo, tudo foi feito por ele, o Criador de todas as coisas
visíveis e invisíveis. Senhor absoluto de toda existência, do Céu, da terra, do
sol, das estrelas, das tempestades, das bonanças. Seu poder é capaz de acalmar
as mais terríveis ferocidades dos animais bravios e as procelas dos mares
encapelados. Os acontecimentos, as forças físicas e morais, a guerra e a paz, a
pobreza e a fartura, a humilhação e a glória, o revés e o sucesso, as pestes,
os flagelos, a doença e a saúde, a morte e a vida, estão todos ao dispor de um
simples ato de sua vontade. Aí está um Governo incomparável, superior a
qualquer imaginação, e do qual ninguém ou nada poderá se subtrair.
O título de Rei Lhe cabe mais
apropriadamente do que às outras duas Pessoas da Trindade Santíssima, por ser o
Homem-Deus, conforme comenta Santo Agostinho: "Apesar de que o Filho é Deus
e o Pai é Deus e não são mais que um só Deus, e se o perguntássemos ao Espírito
Santo, Ele nos responderia que também o é...; entretanto, as Sagradas
Escrituras costumam chamar de rei, ao Filho" (2).
De fato, o título de Rei, quando
aplicado ao Pai, é usado de forma alegórica para indicar seu domínio supremo. E
se quisermos atribuí-lo ao Espírito Santo, faltará exatidão jurídica, por
tratar-se Ele de Deus não-encarnado, pois, para ser Rei dos homens é
indispensável ser Homem. Deus não encarnado é Senhor, Deus feito homem é o Rei.
Rei por direito de conquista
Jesus Cristo é nosso Rei também
por direito de conquista, por nos ter resgatado da escravidão a Satanás.
Ao adquirirmos um objeto às
custas de nosso dinheiro, ele nos pertence por direito. Mais ainda se o
obtivermos através de duras penas, pelos esforços de nosso trabalho, e muito
mais, se for conseguido pelo alto preço de nosso sangue. E não fomos nós
comprados pelo trabalho, sofrimentos e pela própria morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo? É São Paulo quem nos assevera: "Porque fostes comprados por um
grande preço!" (I Cor 6, 20).
Rei por aclamação
Cristo é nosso Rei por aclamação.
Antes mesmo das purificadoras águas do Batismo serem derramadas sobre nossa
cabeça, nós O elegemos para ser o regente de nossos corações e de nossas almas,
através dos lábios de nossos padrinhos. Por ocasião do Crisma e a cada Páscoa,
de viva voz nós renovamos essa eleição, sempre de um modo solene.
Rei do interior dos homens e de
todas as exterioridades
Não houve, nem jamais haverá um
só monarca dotado da capacidade de governar o interior dos homens, além de bem
conduzi-los na harmonia de suas relações sociais, seus empreendimentos, etc. O
único Rei pleníssimo de todos os poderes é Cristo Jesus.
Exteriormente, pelo seu
insuperável e arrebatador exemplo - além de suas máximas, revelações e
conselhos - Ele governa os povos de todos os tempos, tendo marcado
profundamente a História com sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição. Por meio
do Evangelho e sobretudo ao erigir a Santa Igreja, Mestra infalível da verdade
teológica e moral, Jesus perpetua Cristo Rei do Universo. até o fim dos tempos
o imorredouro tesouro doutrinário da fé. Através dessa magna instituição Ele
orienta, ampara e santifica todos os que nela ingressam, e vai em busca das
ovelhas desgarradas.
Aqui precisamente se encontra o
principal de seu governo neste mundo: o Reino Sobrenatural que é realizado, na
sua essência, através da graça e da santidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo
enquanto a "videira verdadeira" é a causa da vitalidade dos ramos. A
seiva que por eles circula, alimentando flores e frutos, tem sua origem
n'Aquele Unigênito do Pai (Jo 15, 1-8). Ele é a Luz do Mundo (Jo 1, 9; 3, 19;
8, 12; 9, 5) para auxiliar e dar vida aos que dela quiserem se servir para
evitar as trevas eternas. Jesus - segundo a leitura de hoje - é "a cabeça
do corpo que é a Igreja, é o Princípio, o Primogênito entre os mortos, de
maneira que tem a primazia em todas as coisas, porque foi do agrado do Pai que
residisse n'Ele toda a plenitude e que por Ele fossem reconciliadas consigo
todas as coisas, pacificando pelo Sangue da sua Cruz, tanto as coisas da terra,
como as do Céu" (Col 1, 18-20).
O Reinado de Cristo, em nosso interior,
se estabelece pela participação na vida de Jesus Cristo. Só no Homem- Deus se
encontra a plenitude da graça, enquanto essência, virtude, excelência e
extensão de todos os seus efeitos. Os outros membros do Corpo Místico
participam das graças que têm sua origem em Jesus, a cabeça que vivifica todo o
organismo. Quem de maneira privilegiadíssima tem parte em grau de plenitude
nessa mesma graça, é a Santíssima Virgem.
Dada a desordem estabelecida em
nós após o pecado original, acrescida pelas nossas faltas atuais, nossa
natureza necessita do auxílio sobrenatural para atingir a perfeição. Sem o
sopro da graça, é impossível aceitar a Lei, obedecer aos preceitos morais, não
elaborar razões falsas para justificar nossas más inclinações e conhecer, amar
e praticar a boa doutrina de forma estável e progressiva. Ela refreia nossas
paixões e as equilibra nos gonzos da santidade, orienta nosso espírito, modera
nossa língua, tempera nosso apetite, purifica nosso olhar, gestos e costumes. É
através da graça que nossa alma se transforma num verdadeiro trono e, ao mesmo
tempo, cetro de Nosso Senhor Jesus Cristo. E é nessa paz e harmonia que se
encontra nossa autêntica felicidade, e esse é o Reino de Cristo em nosso
interior.
E qual o principal adversário
contra esse Reino de Cristo sobre as almas? O pecado! Por isso mesmo, se alguém
tem a desgraça de o cometer, nada fará de melhor do que procurar um
confessionário e com arrependimento ali declará-lo a fim de ver-se livre da
inimizade de Deus. É impossível gozar de alegria com a consciência atravessada
pelo aguilhão de uma culpa. Nessa consciência não reinará Cristo; e se ela não
se reconciliar com Deus, aqui na terra, tampouco reinará com Ele na glória
eterna.
III - A IGREJA, MANIFESTAÇÃO
SUPREMA DO REINADO DE CRISTO
O júbilo e às vezes até mesmo a
emoção, penetram nossos co rações ao contemplarmos estas inflamadas palavras de
São Paulo: "Cristo amou a Igreja e Se entregou a Si mesmo por ela, para a
santificar, purificando-a no batismo da água pela Palavra, para apresentar a Si
mesmo esta Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga ou coisa semelhante, mas santa
e imaculada" (Ef 5, 25-27).
Porém, ao analisarmos a Igreja
militante, na qual hoje vivemos, com muita dor encontramos imperfeições - ou
pior ainda, faltas veniais - nos mais justos, conferindo opacidade a essa
glória mencionada por São Paulo. Entre as ardentes chamas do Purgatório, está a
Igreja padecente, purificando-se de suas manchas. Até mesmo a triunfante possui
suas lacunas, pois, exceção feita da Santíssima Virgem, as almas dos
bem-aventurados foram para o Céu deixando seus corpos em estado de corrupção
nesta terra, onde aguardam o grande dia da Ressurreição.
Portanto, a "Igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e imaculada"
, manifestação suprema da Realeza de Cristo, ainda não atingiu sua plenitude.
E quando definitivamente
triunfará Cristo Rei? Só mesmo depois de derrotado seu último inimigo, ou seja,
a morte! Pela desobediência de Adão, introduziram-se no mundo o pecado e a morte.
Pelo seu Preciosíssimo Sangue Redentor, Cristo infunde nas almas sua graça
divina e aí já se dá o triunfo sobre o pecado. Mas a morte será rendida com a
Ressurreição no fim do mundo, conforme o próprio São Paulo nos ensina:
"Porque é necessário que Ele
reine, ‘até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés'. Ora, o último
inimigo a ser destruído será a morte; porque Deus ‘todas as coisas sujeitou
debaixo de seus pés' " (I Cor 15, 25- 26).
Cristo Rei, por força da
Ressurreição que por Ele será operada, arrancará das garras da morte a
humanidade inteira, como também iluminará os que purgam nas regiões sombrias.
Ao retomarem seus respectivos corpos, as almas bem-aventuradas farão com que
eles possuam sua glória; e assim, serão também os eleitos outros reis cheios de
amor e gratidão ao Grande Rei. Apresentarse- á o Filho do Homem em pompa e
majestade ao Pai, acompanhado de um numeroso séqüito de reis e rainhas, tendo
escrito em seu manto: "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc 19,
16)
IV - SE CRISTO É REI, MARIA É
RAINHA
Se Cristo é Rei por ser
Homem-Deus e recebeu o poder sobre toda a Criação no momento em que foi
engendrado, daí se deduz ter sido realizada no puríssimo claustro maternal de
Maria Virgem a excelsa cerimônia da unção régia que elevou Cristo ao trono de
Rei natural de toda a humanidade. O Verbo assumiu de Maria Santíssima nossa
humanidade, e assim adquiriu a condição jurídica necessária para ser chamado
Rei, com toda a propriedade. Foi também nesse mesmo ato que Nossa Senhora
passou a ser Rainha. Uma só solenidade nos trouxe um Rei e uma Rainha.
V - CONCLUSÃO
Agora sim, estamos aptos a
entender e amar a fundo o significado do Evangelho de hoje. A resposta ao povo
e aos príncipes dos sacerdotes que escarneciam contra Jesus: "Salvou os
outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus" (v. 35),
como também aos próprios soldados romanos em seus insultos: "Se és o
Cristo, salva-Te a Ti mesmo" (v. 37), transparece claramente nas premissas
até aqui expostas.
Eles eram homens sem fé e
desprovidos do amor a Deus, julgando os acontecimentos em função de seu egoísmo
e por isso levados a se esquecerem de sua contingência. Cegos de Deus, já há
muito afastados de sua inocência primeva, perderam a capacidade de discernir a
verdadeira realidade existente por trás e por cima das aparências de derrota
que revestiam o Rei eterno transpassado de dor sobre o madeiro, desprezado até
pelas blasfêmias de um mau ladrão. Não mais se lembram dos portentosos milagres
por Ele operados, nem sequer de suas palavras: "Julgas porventura que Eu
não posso rogar a meu Pai e que poria já ao meu dispor mais de doze legiões de
anjos?" (Mt 26, 53). Sim, se fosse de sua vontade, numa fração de segundo
poderia reverter gloriosamente aquela situação e manifestar a onipotência de
sua realeza, mas não o quis, como o fez em outras ocasiões: "Jesus,
sabendo que O viriam arrebatar para O fazerem rei, retirou-se de novo, Ele só,
para o monte" (Jo 6, 15).
Quem discerniu em sua substância
a Realeza de Cristo foi o bom ladrão, por se ter deixado penetrar pela graça.
Arrependido em extremo, aceitou compungido as penas que lhe eram infligidas, e
reconhecendo a Inocência de Jesus no mais fundo de seu coração, proclamou os
segredos de sua consciência para defendê-La das blasfêmias de todos: "Nem
tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? Quanto a nós se fez justiça, porque
recebemos o castigo que mereciam nossas ações, mas Este não fez nenhum
mal" (vv. 40-41). Eis a verdadeira retidão. Primeiro, humildemente ter dor
dos pecados cometidos; em seguida, com resignação abraçar o castigo respectivo;
por fim, vencendo o respeito humano, ostentar bem alto a bandeira de Cristo Rei
e aí suplicar- Lhe: "Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no teu
Reino!" (v. 42)
Tenhamos sempre bem presente que
só pelos méritos infinitos da Paixão de Cristo e auxiliados pela poderosa
mediação da Santíssima Virgem nos tornaremos dignos de entrar no Reino.
Seguindo os passos da conversão
final do bom ladrão, poderemos esperar com confiança ouvir um dia a voz de
Cristo Rei dizendo também a nós: "Em verdade te digo: Hoje estarás comigo
no Paraíso" (v. 43).
1 ) cf. Hb 1, 2-5.
2 ) Enarrat. in Ps. 5 n. 3: PL
37, 83
***
Eis uma solução eficaz para todas
as crises atuais: a celebração solene da festa de Cristo Rei
Assim se exprime o Papa Pio XI a
esse respeito:
Cristo, fonte da verdadeira Paz
Se soubessem os homens
resolver-se a reconhecer a autoridade de Cristo em sua vida particular e
pública, deste ato para logo dimanariam em toda a humanidade incomparáveis
benefícios: uma justa liberdade, a ordem e o sossego, a concórdia e a paz
(...).
Se os príncipes e governos
legitimamente constituídos tivessem a persuasão de que regem menos no próprio
nome do que em nome e lugar do Rei Divino, é manifesto que usariam do seu poder
com toda a prudência, com toda a sabedoria possíveis Em legislar e na aplicação
das leis, como haveriam de atender ao bem comum e à dignidade humana de seus
súditos! Então floresceria a ordem, então veríamos difundirem- se e firmarem-se
a tranqüilidade e a paz (...).
Oh! que ventura não pudéramos gozar,
se os indivíduos, se as famílias, se a sociedade se deixasse reger por Cristo!
"Então finalmente - para citarmos as palavras que, há 25 anos, o Nosso
Predecessor Leão XIII dirigia aos bispos do mundo inteiro - fora possível sanar
tantas feridas; o direito recobraria seu antigo viço, seu prestígio de outras
eras; tornaria a paz com todos os seus encantos. e Cristo Rei_1.jpgcairiam das
mãos armas e espadas, quando todos de bom grado aceitassem o império de Cristo,
Lhe obedecessem, e toda língua proclamasse que Nosso Senhor Jesus Cristo está
na glória de Deus Padre" (Enc Annum Sacrum) (...).
As festividades, mais eficazes
que os documentos
A fim de que a sociedade cristã
goze largamente de tão preciosas vantagens, e para sempre as conserve, é mister
que se divulgue quanto possível o conhecimento da dignidade real de Nosso
Salvador Ora, nada pode, pelo que nos parece, conseguir melhor este resultado,
do que a instituição de uma festa própria e especial em honra de Cristo Rei.
Com efeito, para instruir o povo
nas verdades da fé e levá-lo assim às alegrias da vida eterna, mais eficazes
que os documentos do Magistério eclesiástico são as festividades anuais dos
sagrados mistérios. Os documentos do Magistério, de fato, apenas alcançam. um
restrito número de espíritos mais cultos, ao passo que as festas atingem e
nstruem a universalidade dos fiéis Os primeiros, por assim dizer, falam uma vez
só, as segundas falam sem intermitência de ano para ano; os primeiros
dirigem-se, sobretudo, ao entendimento; as segundas influem não só na
inteligência, mas também no coração, quer dizer, no homem todo Composto de
corpo e alma, precisa o homem dos incitamentos exteriores das festividades,
para que, através da variedade e beleza dos sagrados ritos, recolha no ânimo a
divina doutrina, e, transformando- em substância e sangue, tire dela novos
progressos em sua vida espiritual.
Além disso, ensina-nos a própria
História, que estas festividades litúrgicas foram introduzidas no decorrer dos
séculos, umas após outras, para. responder a necessidades ou vantagens
espirituais do povo cristão. Foram-se constituindo para fortalecer os ânimos em
presença de algum inimigo comum, para premunir os espíritos contra os ardis da
heresia, para mover e inflamar os corações a celebrar com a mais ardente
piedade algum mistério de nossa fé ou algum benefício da divina graça (...)
Assim se deu com a festa de Corpus Christi, instituída quando se esfriava a
reverência e o culto para com o Santíssimo Sacramento.
Instituição da festa
A festa, doravante anual, de
"Cristo-Rei" dá-nos a mais viva esperança de acelerarmos a tão
desejada volta da humanidade a seu Salvador amantíssimo (...) Uma festa,
anualmente celebrada por todos os povos em homenagem a Cristo-Rei, será
sobremaneira eficaz para condenar e ressarcir, de algum modo, esta apostasia
pública (...).
Portanto, em virtude de Nossa
autoridade apostólica, instituímos a festa de "Nosso Senhor Jesus Cristo
Rei", mandando que seja celebrada cada ano, no mundo inteiro, no último
domingo de outubro (...) porque ele, em certo modo, encerra o ciclo do ano
litúrgico. Destarte, os mistérios da vida de Jesus Cristo, comemorados no
decorrer do ano que finda, terão na solenidade de "Cristo-Rei" seu
como termo e coroa. (Revista Arautos do Evangelho, Nov/2004)
Cristo Rei
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