Visitação de Nossa Senhora a Isabel
Ocorre hoje a festa litúrgica de Nossa Senhora em visita a sua prima Isabel, anteriormente celebrada no dia 2 de julho. Da narração evangélica do fato emana um perfume de suavidade e santidade admirável. Cedemos a palavra ao próprio Evangelho: "Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para uma região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo e exclamou: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois, quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. Feliz és tu que acreditaste, pois o que foi dito da parte do Senhor será cumprido'. Maria então disse: 'A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão bem-aventurada, pois o Todo-Poderoso fez grandes coisas por mim. O seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de corações orgulhosos. Depôs poderosos de seu trono e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu Israel seu servo, lembrado de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre'. Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para sua casa (Lc 1,39-56).
Este é o mistério que mereceu da Igreja celebração especial pela riqueza de ensinamentos que encerra. A cidade de Judá, em que morava Isabel, foi historicamente identificada com Ain-Karin, a uns 15 km de Jerusalém e, mais ou menos, a 100 km de Nazaré de onde partiu Maria em sua viagem, através da região montanhosa do centro da Palestina. Sobre o lugar da casa de Isabel, surgiu desde os primeiros séculos belíssima igreja que relembra este fato histórico.
Dom Hélder Câmara teceu belíssima prece a Nossa Senhora da Visitação. Ei-la: "Maria, Mãe de Cristo e da Igreja. Ao preparar-nos para a missão evangelizadora que nos cabe continuar, alargar e aprimorar, pensamos em ti. Mas de modo especial, pensamos em ti pelo modelo perfeito de ação de graças, que é o hino que cantaste, quando tua prima, Santa Isabel, mãe de João Batista, te proclamou a mais feliz dentre as mulheres. Não paraste na tua felicidade, pensaste na humanidade inteira. Pensaste em todos. Mas assumiste clara opção pelos pobres, como teu Filho faria depois. Que há em ti, em tuas palavras, em tua voz, que anuncias no Magnificat a deposição dos poderosos e a elevação dos humildes, o saciamento dos que têm fome e o esvaziamento dos ricos, e ninguém ousa julgar-te subversiva ou olhar-te com suspeição?... Empresta-nos a tua voz, canta conosco! Pede a teu Filho, que em todos nós se realizem, plenamente, os planos do Pai! Assim seja!"
A espiritualidade de Maria
O louvor brotado dos lábios de Maria respondendo à exultação de sua prima Isabel, revela o centro de sua espiritualidade, sintonizada com a fé do povo de Israel. A piedade refletida no Magnificat é a de uma judia fiel à mais pura tradição religiosa de seu povo.
Reconhecendo-se humilde servidora, ela comunga com os pobres de todos os tempos, cuja confiança estava depositada integralmente em Deus. Ela partilha, também, da bem-aventurança da pobreza proclamada por Jesus, na condição de serva de Javé.
Sua espiritualidade estava em consonância com a dos antigos profetas, em luta intransigente pela causa da justiça e pela transformação das relações interpessoais. Maria acreditava em Deus que não pactua com a injustiça, e está sempre pronto a arrancar de seus tronos, erguidos às custas do suor alheio, os ricos prepotentes. Pelo contrário, coloca-se ao lado dos pobres, tomando as dores dos perseguidos e injustiçados, e reerguendo-os de sua humilhação.
Sobretudo, Maria sabia-se toda entregue ao Deus-misericórdia, sempre pronto a realizar grandes coisas em favor de seus fiéis, de acordo com as suas promessas. Embora se sucedam as gerações, o amor de Deus permanece inalterado. Têm ainda plena vigência as promessas feitas aos patriarcas, pois sua palavra divina é imutável para sempre.
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