Estar no mundo sem ser do mundo
Retiro Pessoal Mensal
Outubro 2012
Eles não são do mundo como eu não sou do mundo. Santifica-os na
verdade; a tua palavra é verdade. Como tu me envista ao mundo, também eu
os enviei ao mundo”.[1]
A vida
de todo cristão, assim como a dos discípulos do Senhor, se desenvolve em um “estar no mundo sem ser do mundo”.
Entende-se
“mundo” –dentro desse contexto– como aquela realidade antagônica a Deus,
em patente oposição ao desígnio amoroso do Senhor para o homem e sua criação.
Sem
dúvida sabemos que o mundo foi criado bom por Deus, mas também entendemos que o
mal foi introduzido na terra pelos nossos primeiros pais, ficando submetida,
assim, à influência do Maligno, a qual, junto à cumplicidade dos homens, semeou
a iniquidade no mundo, colocando a criatura contra o seu Criador.
Deus
Pai não optou por destruir o mundo que tinha se rebelado abertamente contra
Ele. Ao contrário, enviou o seu Filho amado para reconciliá-lo, convertendo-nos
numa nova criação, como o afirma São Paulo: “Se
alguém está em Cristo é uma nova criatura”.[2]
Através
do Batismo, como membros da Igreja, fomos resgatados do mundo e das garras do
Maligno. Ao mesmo tempo, somos peregrinos neste mundo, enviados pelo Senhor a estender
o anúncio do Evangelho da Reconciliação: “Como
tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.”[3]
Chamados
à santidade na vida do dia a dia
“Viver o dia a dia em Cristo e de acordo com
Ele. Este é o caminho da santidade”.[4]
Toda
vida cristã deve ter como horizonte a santidade.
Sabemos
que a santidade é um chamado universal, uma vocação que todos os batizados
partilhamos, que se vive no contexto ou circunstância que pessoalmente nos
corresponda. “Como ser santos no
meio do mundo? A quais lugares devo ir? Que filmes assistir? Que músicas devo
ouvir? Qual deve ser o nosso estilo de vida?”
São
perguntas que como cristãos temos que ir respondendo, sempre levando em conta
que vivendo em Cristo, caminhando iluminados pelo Espírito Santo, saberemos
discernir com reverência e atenção ao Plano de Deus a melhor maneira de
procurar a santidade em cada situação concreta, procurando também o conselho de
pessoas prudentes que possam acompanhar-nos nesse peregrinar.
Devemos
ser fiéis a esse chamado que deve imprimir de tal maneira a nossa identidade
que não procuremos outra coisa que dizer com São Paulo: “Pois para mim o viver é Cristo…”.[5]
E se
vemos que nosso coração se fascina com as seduções do mundo, devemos fazer-nos
as seguintes perguntas: “A quem
eu sirvo? Sirvo a Deus que me convida à vida verdadeira ou sirvo o mundo que
morre na mentira, no frio e solidão? Sou de Cristo ou sou do mundo?”[6]
Procuremos
que nossas ações ordinárias da vida do dia a dia sejam atos que dêem glória a
Deus. Procuremos viver uma espiritualidade da ação. Isso leva a superar o
divórcio que existe em muitos entre a fé e a vida diária.
Superar
o divórcio entre a fé e a vida do dia a dia
Dizia-nos
o Papa João Paulo II: “Muitos
batizados vivem como se Cristo não existisse: repetem-se gestos e sinais da fé
sobretudo por ocasião das práticas de culto, mas sem a correlativa e efetiva
aceitação do conteúdo da fé e adesão à pessoa de Jesus.”[7]
Realmente
vemos que muitas vezes não contribuímos à que a fé penetre e ilumine toda a
nossa vida cotidiana. Frequentemente abandonamos o nosso “ter fé” à missa
dominical, a certos espaços concretos durante a semana ou a uma atividade
específica.
No
entanto, a fé é dinâmica, viva, exige ser comunicada não somente aos demais,
mas necessita crescer na nossa própria existência, procurando fazer que vivamos
cada vez mais em Cristo.
Além
disso, nossa fé é integral: mente, coração e ação. Superar a divisão entre fé e
vida requer fazer que toda a nossa vida, isto é, nossos pensamentos, idéias e
memórias, assim como os nossos sentimentos, afetos e emoções, e nosso agir-entre
outras características nossas– vivam em harmonia com a fé, ensinamentos e obras
do Senhor Jesus.
Devemos
ser conscientes de nossa identidade de cristãos e cumprir responsavelmente a
nossa missão na Igreja, devemos deixar que a fé que arde nos nossos corações se
irradie nas nossas ações, uma vez que somente assim será possível construir a
tão desejada Civilização do Amor.
Se
reconhecemos o horizonte de nosso chamado à santidade, seremos capazes de superar
toda ocasião de divórcio entre a fé que professamos e o compromisso que nos
corresponde assumir na sociedade.
Horizonte
apostólico para o cristão imerso no mundo
Desde a
nossa identidade apostólica e do chamado que o Senhor Jesus nos faz de ir ao mundo
e anunciar a Boa Nova, pensemos no amplo espetro de oportunidades apostólicas
que se apresentam diante de nós, começando por nós mesmos e seguindo pelas
nossas famílias, trabalho e entorno social. Todas elas são realidades frente as
quais somos responsáveis perante Deus.
Para
cada uma dessas circunstâncias o Senhor tem uma resposta e nos escolheu para
dar testemunho dele e ser dos seus apóstolos.
O nosso
ser apostólico é um dom para cada um de nós, um âmbito particular para viver a
vida cristã à qual Deus nos chamou: “De
graça recebestes, de graça daí.”[8] Todos os nossos espaços de formação na fé, de crescimento na
vida espiritual e de amizade não devem ser de maneira alguma espaços para
afastar-nos ou fugir do mundo, tentando que a nossa vida transcorra em uma
“falsa paz”. O encontro com o Senhor e a vida cristã devem ser a fonte e
suporte para que nós nos lancemos com ardor e convicção a cumprir a grande
tarefa, para a qual cada um de nós foi chamado por Deus, de anunciá-lo aos
demais seres humanos que tanto o necessitam.
Maria,
o nosso modelo
Olhemos
para Maria, pois ela é “uma
síntese vital de como a evangelização, o serviço aos seres humanos e a
transformação das realidades da humanidade devem ser vividas.”[9] Peçamos a Maria, quem nos ensina a viver a coerência, que nos
nutra da fé e que a mesma penetre toda a nossa existência, a unifique e
disponha para responder a nossa vocação.
PASSAGENS
BÍBLICAS PARA A MEDITAÇÃO
Guia
para a oração
- Estamos no mundo: Jo 13,1; 17,10
- No entanto não somos do mundo, como
também Cristo não o é: Jo 15,19; 17,14.16;
- O mundo como inimigo do Plano de Deus:
Gn 6,5.12; 4,3-15; Mt 13,22; Rom 1,18-32;
- Não se trata de “sair do mundo”: Jo
17,15; 1 Cor 5,9-10.
- Assim como o Padre enviou enviou o
Filho, Ele nos envia: Jo 17,18; para dar testemunho da verdade: Jo 18,37;
1 Jo 5,20.
- Não devemos acomodarnos ao mundo
presente, mas transformarnos perante a conversão: Rom 12,2; Ef 4,22-24.
- O Senhor venceu o mundo e nos anima a
não desfalecer: Jo 16,33; 1 Jo 4,4; 5,4-5.
Reflexões para Orar
- O quanto deixo que a fé ilumine todas
as circunstância da minha vida? Jesus constitui o centro da minha vida?
- Descubro as seduções e contrabando do
mundo na minha forma de pensar ou de aproximar-me à realidade?
- Faço apostolado nos âmbitos nos quais
vivo, a tempo e destempo?
[4] Luis Fernando Figari, Páginas
de Fe, Santos hoy, p. 75.
[6] Ignacio Blanco, El
Camino de la Santidad,
p. 80-81.
[7] Papa João Paulo II, Ecclesia
in Europa, 47.
[9] Luis Fernando Figari, Formação
e missão, p.67.
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