01º Domingo da Quaresma - Ano C
Pequeno Resumo Homilia
No início da Quaresma, a Palavra
de Deus apela a repensar as nossas opções de vida e a tomar consciência dessas
“tentações” que nos impedem de renascer para a vida nova, para a vida de Deus.
A primeira leitura convida-nos a eliminar os falsos deuses em quem
às vezes apostamos tudo e a fazer de Deus a nossa referência fundamental.
Alerta-nos, na mesma lógica, contra a tentação do orgulho e da
auto-suficiência, que nos levam a caminhos de egoísmo e de desumanidade, de
desgraça e de morte.
Uma das tentações frequentes na vida do homem moderno é colocar a sua
vida, a sua esperança e a sua segurança nas mãos dos falsos deuses: o dinheiro,
o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os partidos,
os líderes e as ideologias ocupam com frequência nas nossas vidas o lugar
de Deus. Quais são os deuses diante dos quais o mundo se prostra? Quais são os
deuses que, tantas vezes, impedem que Deus ocupe, na minha vida, o primeiro
lugar?
• O orgulho, o egoísmo, a
auto-suficiência também levam o homem a prescindir de Deus. Os êxitos e as
realizações são atribuídas exclusivamente ao esforço e ao gênio humano, como se
o homem se bastasse a si próprio… Deus chega mesmo a ser visto, não como a
referência última da nossa história e da nossa vida, mas como um estorvo que
impede o homem de ser livre e de seguir o seu caminho de busca de felicidade.
Onde nos leva um mundo que prescinde de Deus? Os caminhos que o homem constrói
longe de Deus são caminhos onde encontramos mais humanidade, mais alegria, mais
amor, mais liberdade, mais respeito pela justiça e pela dignidade do homem?
Porquê?
• Tudo o que recebemos é de Deus
e não nosso. Somos apenas administradores dos dons que Deus colocou à
disposição de todos os homens. A nossa relação com os bens – mesmo os mais
fundamentais – não pode, pois, ser uma relação fechada e egoísta: tudo pertence
a Deus, o Pai de todos os homens e deve, portanto, ser partilhado. Como nos
situamos face a isto? Os bens que Deus colocou à nossa disposição servem apenas
para nosso benefício exclusivo, ou são vistos como dons de Deus para todos?
A segunda leitura convida-nos a prescindir de uma atitude arrogante
e auto-suficiente em relação à salvação que Deus nos oferece: a salvação não é
uma conquista nossa, mas um dom gratuito de Deus. É preciso, pois,
“converter-se” a Jesus, isto é, reconhecê-l’O como o “Senhor” e acolher no
coração a salvação que, em Jesus, Deus nos propõe.
O orgulho e a auto-suficiência
aparecem sempre como algo que fecha aos homens o caminho para Deus. Conduzem o
homem ao fechamento em si próprio e a prescindir de Deus e dos outros. Os
orgulhosos e auto-suficientes correspondem aos “ricos” das bem-aventuranças:
são os que estão instalados nas suas certezas, no seu comodismo, no seu egoísmo
e não estão disponíveis para se deixar desafiar por Deus e para acolher, em
cada instante, a novidade e o amor de Deus. Por isso, são “malditos”: se não
estiverem dispostos a abrir o seu coração a Deus, recusam a salvação que Deus tem
para oferecer.
• Como nos situamos face a isto?
A nossa religião é um cumprir escrupulosamente as regras para assegurar o
“lugarzinho no céu”, ou é um aderir na fé à pessoa de Jesus e à proposta
gratuita de salvação que, através d’Ele, Deus nos faz?
• Quando nos reunimos em
assembleia e proclamamos Jesus como o nosso “Senhor”, somos uma verdadeira
comunidade de irmãos, sem “judeu nem grego”, ou continuamos a ser uma
comunidade dividida, com amigos e inimigos, ricos e pobres, negros e brancos,
santos e pecadores, superiores e inferiores?
O Evangelho apresenta-nos uma catequese sobre as opções de Jesus.
Lucas sugere que Jesus recusou radicalmente um caminho de materialismo, de
poder, de êxito fácil, pois o plano de Deus não passava pelo egoísmo, mas pela
partilha; não passava pelo autoritarismo, mas pelo serviço; não passava por
manifestações espetaculares que impressionam as massas, mas por uma proposta de
vida plena, apresentada com simplicidade e amor. É claro que é esse caminho que
é sugerido aos que seguem Jesus.
Deixar-se conduzir pela tentação
dos bens materiais, do acumular mais e mais, do olhar apenas para o seu próprio
conforto e comodidade, do fechar-se à partilha e às necessidades dos outros, é
seguir o caminho de Jesus? Pagar salários de miséria aos operários e malbaratar
fortunas em noitadas de jogo ou em coisas supérfluas (enquanto os irmãos, ao
lado, gemem a sua miséria), é seguir o caminho de Jesus?
• Dentro de cada pessoa, existe o
impulso de dominar, de ter autoridade, de prevalecer sobre os outros. Por isso
– às vezes na Igreja – os pobres, os débeis, os humildes têm de suportar
atitudes de prepotência, de autoritarismo, de intolerância, de abuso. A
catequese de hoje sugere que este “caminho” é diabólico e não tem nada a ver
com o serviço simples e humilde que Jesus propôs nas suas palavras e nos seus
gestos.
• Podemos, também, ceder à
tentação de usar Deus ou os dons de Deus para brilhar, para dar espetáculo,
para levar os outros a admirar-nos e a bater-nos palmas. A isto Jesus responde
de forma determinada: não utilizarás Deus em proveito da tua vaidade e do teu
êxito pessoal.
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