QUARTA-FEIRA
DE CINZAS
13 de fevereiro de 2013
A
“debilidade” das cinzas faz lembrar a fragilidade humana.
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“Convertei-vos
e Crede no Evangelho”
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Leituras:
Joel 2, 12-18;
Salmo 50 (51), 3-4.5-6a.12-13.14 e 17;
Segunda Carta de São
Paulo aos Coríntios 5, 20-6,2;
Mateus 6, 1-6.16-18.
COR
LITÚRGICA: ROXA
Com esta celebração de cinzas iniciamos nossa caminhada
quaresmal rumo à Páscoa do Senhor.
As cinzas simbolizam a transitoriedade da vida neste
mundo, ou seja, que somos peregrinos a caminho de um novo céu e uma nova terra.
Estamos de passagem por este mundo; ele não é a nossa casa definitiva. A
“debilidade” das cinzas faz lembrar a fragilidade humana.
Neste tempo tão rico, a Igreja do Brasil nos propõe a
Campanha da Fraternidade, que, neste ano de 2013, tem como tema: Fraternidade e
Juventude, com o lema: “Eis-me aqui, envia-me”! (Is 6.8). Quer “acolher os
jovens no contexto de mudanças de época, propiciando caminhos para seu protagonismo
no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade
fraterna, fundamentada na cultura da vida, da justiça e de paz”. (Introdução -
Texto Base da CF – 2013, p. 11)
Que esta Quaresma possa ser para todos nós um caminho de
verdadeira conversão.
1. Situando-nos
Animados pela fé, iniciamos o Ciclo
Pascal que tem a Quaresma como tempo de preparação. A Quaresma é o tempo que
precede e predispõe à celebração da Páscoa: festa central do ano litúrgico.
O início da Quaresma é marcado com
o rito da imposição das cinzas. Ela advém do antigo ritual com que os pecadores
convertidos se submetiam à penitência canônica. O gesto de se cobrir de cinzas
tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que necessita
ser redimida pela misericórdia de Deus.
Longe de ser um gesto puramente
exterior, a Igreja o conservou como símbolo da atitude do coração penitente que
cada pessoa é chamada a assumir no itinerário quaresmal (cf. Diretório sobre
Piedade Popular e Liturgia, n.125).
A celebração da benção e a
imposição das cinzas lembram as palavras de Jesus: “Convertei-vos e crede no
Evangelho”. A Igreja suplica a Deus: “Derramai a graça da vossa benção sobre os
fiéis que vão receber as cinzas, para que, prosseguindo na observância da
Quaresma, possam celebrar de coração purificado o mistério pascal de vosso
Filho” (Oração da benção das cinzas).
Receber as cinzas, nesta
quarta-feira, significa confirmar nossa fé na Páscoa de Cristo, na
reconciliação, na esperança de um dia estar na comunhão do Ressuscitado.
Participar do rito da imposição das cinzas significa ainda, como convertidos,
agir para que a fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé
viva em um mundo em mudança.
Neste Tempo da Quaresma, fazemos
comunhão com todas as comunidades da Igreja no Brasil. Com elas, rezamos e
assumimos as propostas da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Juventude”
e o lema: “eis me aqui, envia-me!” (Is 6,8).
2.
Recordando a Palavra
No começo da caminhada quaresmal,
Jesus nos dirige sua palavra convidando-nos a seguir com ele o caminho rumo à
Páscoa. Sua Palavra, que chega até nós pelo Evangelho de Mateus, situa-se no
centro do “discurso da montanha” (cap. 5-7), o primeiro dos cinco grandes
discursos de Jesus, assinalados por este evangelista.
Esta passagem tem como conteúdo o
anúncio inicial da proclamação do Reino de Deus; Ela deve ser lida na
perspectiva da constituição do novo povo de Deus, da nova aliança que se cumpre
em Jesus, o Salvador.
Pela escuta da palavra do Mestre e
pela acolhida da misericórdia divina, revelada em Jesus, superam-se a falsidade
e a infidelidade, constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que
podemos compreender a palavra do evangelho proposto para a celebração da Quarta-feira
de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a assumirem, com fidelidade, as
obras de justiça no relacionamento com o próximo: a esmola, a oração e o jejum.
A esmola, a oração e o jejum são
práticas antigas e consideradas parte dos exercícios da ascese espiritual. Elas
sempre foram retomadas e recomendadas pelos mestres a seus seguidores. Jesus
também retoma tais exercícios e, para que respondam à sua finalidade essencial,
os enquadra na relação de intimidade com o Pai e com os discípulos.
O evangelista ressalta o contraste
entre a prática sugerida por Jesus e a dos fariseus e escribas. Para estes,
tais práticas são expressão da observância da Lei, em vista da recompensa,
mesmo que não correspondam a uma atitude interior. Para o Mestre, a esmola, a
oração e o jejum devem simbolizar a fidelidade e a comunhão do novo povo com
Deus.
Sua prática deve, contudo, evitar a
busca de privilégios, poder e recompensas. Isto, além de bloquear a relação
filial com Deus, torna-se fonte de conflitos entre as pessoas. A recompensa
anunciada por Jesus não é a correspondência entre prestação de serviço e
pagamento. Ela é dom divino, salvação. Ela é o reino prometido e oferecido a
quem, na obediência, abre-se às exigências de sua novidade.
O profeta Joel, diante das
plantações devastadas pela praga dos gafanhotos, reflete com o povo sobre a
exigência de uma nova vida. A devastação era um sinal da proximidade do dia de
Javé. O profeta incentiva o povo ao cuidado da terra devastada e convoca todos
à conversão, à penitência e à mudança de vida. Isto não pode ser algo apenas
exterior, aparente e sem conseqüências práticas, mas deve significar uma
transformação radical rumo a Deus.
O Salmo 50 (51) constitui-se numa
grande súplica pela libertação da desgraça pessoal e social causada pelos
pecados. O canto desse salmo reflete a consciência contrita do pecador e sua
confiança na ação misericordiosa de Deus. É ela quem gera um coração novo e
imprime o espírito de santidade.
Paulo afirma à comunidade de
Corinto que Jesus não cometeu pecado algum. Assumindo, porém, a nossa condição
humana, reconcilia-nos com Deus. Em meio às dificuldades e tensões da
comunidade, a palavra do Apóstolo transforma-se em exortação, em convite e em
oração à reconciliação. Paulo recorda-nos que esse é o momento oportuno e
favorável da salvação.
3.
Atualizando a Palavra
Na Quarta-feira de Cinzas, quarenta
dias antes da celebração da Páscoa, a Igreja abre o tempo de penitência denominado
de Quaresma. Esse tempo precede e predispõe à celebração da Páscoa. Pela meditação
assídua da Palavra de Deus, a oração e a prática da caridade, somos convidados
a entrar na dinâmica pascal da conversão que consiste na passagem da morte para
a vida, das trevas para a luz, do egoísmo e do pecado para a vitória da
ressurreição.
A Igreja proclama no Prefácio da
Quaresma IV: “Pela penitência da Quaresma, corrigis nossos vícios, elevais
nossos sentimentos e fortalecidos nosso espírito fraterno e nos garantis uma
eterna recompensa”.
A Quaresma é um tempo primordial de
conversão, isto é, de reconciliação com Deus e com os irmãos e irmãs. A Palavra
de Deus nos convida a rever nossos relacionamentos com Deus, com o próximo, com
o mundo que nos cerca e conosco mesmos, através da prática da oração, do jejum
e da esmola.
O terceiro Prefácio da Quaresma
ressalta a ação pedagógica de Deus: “Vós acolheis nossa penitência como
oferenda à vossa glória. O Jejum e a abstinência que praticamos, quebrando
nosso orgulho, nos convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com
os necessitados”.
São Leão Magno afirma: “Aquilo que
cada cristão deve realizar em todos os tempos, agora deve praticá-lo com
maiores solicitude e devoção, para que se cumpra a norma apostólica do jejum
quaresmal, que consiste na abstinência não apenas dos alimentos, mas também e,
sobretudo, dos pecados. Além disso, a estes jejuns obrigatórios e santos,
nenhuma obra pode ser associada mais utilmente que a esmola que, sob o único
nome de “misericórdia”, inclui muitas obras boas. Imenso é o campo das obras de
misericórdia (São Leão Magno, Discurso VI sobre a Quaresma, 2: PL 54,286).
No programa de vida traçado pela
Palavra de Deus, oração, esmola e jejum são ações interdependentes. “Quem
pratica somente uma delas ou não todas simultaneamente é como se nada fizesse.
Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejue pratique a misericórdia.
Quem deseja ser atendido nas suas orações atenda as súplicas de quem lhe pede;
pois aquele que não fecha seus ouvidos às suplicas alheias, abre os ouvidos de
Deus às suas próprias súplicas. Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja
sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja sensível à sua; seja
misericordioso quem procura alcançar misericórdia; quem pede compaixão também
se compadeça; quem quer ser ajudado ajude os outros. Muito mal suplica quem
nega aos outros aquilo que pede para si” (São Pedro Crisólogo, citado em: CNBB,
Roteiros Homiléticos da Quaresma Ano A. 2008, p. 15-16).
As cinzas evocam nossa realidade humana.
Através do gesto ritual da imposição as cinzas, reconhecemos nossa fragilidade
e nossa condição de pecadores como, também, a nossa disposição de caminhar para
o dia maior da ressurreição, vivendo a misericórdia de Deus, a exemplo de
Cristo obediente e ressuscitado.
As cinzas, preparadas pela queima
de palmas abençoadas no Domingo de Ramos do ano anterior, lembram o Cristo
vitorioso sobre a morte. Se aceitarmos reconhecer nossa condição humana e nos
transformarmos em pó, ou seja, passarmos pela experiência da morte, a exemplo
de Cristo, pela renúncia de nós mesmos, participaremos também da vida que
ressurge das cinzas.
A Quaresma é um tempo favorável à
renovação de nossa vida batismal, isto é, de nossa fé. Apesar da secularização
e dos desafios do fenômeno religioso da sociedade contemporânea, o povo cristão
percebe que durante a Quaresma é preciso orientar os ânimos para as realidades
que verdadeiramente contam; que exige empenho evangélico e coerência de vida,
traduzida em boas obras, em formas de renúncia àquilo que é supérfluo e de
luxo, em manifestações de solidariedade com os sofredores e necessitados,
sobretudo com os jovens (cf Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n.125).
Atendendo aos apelos do Ano da Fé,
que atitudes e compromissos cada um de nós e nossa comunidade poderá assumir em
favor de um anúncio mais explicito do Evangelho e da animação da vida de fé?
Ao participar da celebração da
benção e da imposição das cinzas, aderimos à dinâmica pascal. Páscoa que se
vive na conversão por meio da prática da oração, do jejum e da caridade
(esmola). É o Senhor quem nos convida a voltarmos para ele de todo coração.
4.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
Com a celebração da imposição das
cinzas, iniciamos o tempo quaresmal, ouvindo o convite do Senhor:
“Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós”. A proclamação e escuta da
Palavra de Deus, as orações, as ações simbólicas nos possibilitam experimentar
a bondade infinita de Deus, como reza a antífona de entrada: “Ó Deus, vós
tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoai nossos
pecados pela penitência, porque sois o Senhor nosso Deus” (antífona da entrada
da Quarta-feira de Cinzas).
Na caminhada quaresmal, somos
convidados a experienciar o Deus que acolhe nossa penitência, corrige nossos
vícios, cuida de nós incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá
a graça de sermos nós também misericordiosos.
Hoje, na celebração da Eucaristia,
nós nos oferecemos com Cristo ao Pai, pelo Espírito Santo. Que o sacramento
pascal recebido na mesa da Palavra e na mesa da Eucaristia nos ajude a fazermos
de nossa vida uma oferta agradável a Deus, especialmente pela vivência do
jejum, do amor fraterno e da oração. “Ó Deus assisti com vossa bondade a penitência
que iniciamos, para que vivamos interiormente as práticas externas da Quaresma”.
(Oração da Coleta da sexta-feira depois das cinzas).
Nos passos de Jesus, caminhando
rumo à Páscoa, revivemos a experiência d’Aquele que a partir do batismo do
Jordão caminha para o “batismo da Sua morte” (Mc 10,38/ Lc 12,50). Contemplamos
o mistério do coração traspassado e aberto do Redentor, do qual nasce a Igreja
e provém toda a eficácia dos Sacramentos; e donde promana sangue e água (Jo
19,34), símbolos da Eucaristia e do Batismo.
No Mistério Pascal, o testemunho
concorde do Espírito, da água e do sangue (1Jo 5, 5-8) que manifesta o
“renascer da água e do Espírito” para entrar no Reino de Deus (Jo 3,5).
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