Quaresma Tempo de Penitência e Conversão
A Quaresma, que está começando, é tempo forte de conversão e
penitência. São quarenta dias de preparação para a celebração do Mistério
Pascal - paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, centro de toda
a nossa vida cristã e o ápice de toda nossa fé.
Recebendo as cinzas sobre
nossas frontes, somos despertados a respeito de nossa triste condição de
pecadores, que acompanha nossa vida peregrina neste mundo, e da necessidade de
buscarmos conversão enquanto é tempo. Pois este é o tempo propício que o Senhor
nos preparou: a Páscoa da Ressurreição.
No entanto, a Quaresma quer tematizar para nós uma atitude de vida
cristã que deve ir para além dos 40 dias, isto é, que deve ser permanente,
porque permanente é nossa situação de pecadores, animando-nos a cada dia e
durante todo o ano a andar vigilantes e atentos no amor de Deus e na prática do
bem.
O importante para nós é vivermos a cada dia em Cristo Jesus, Nosso
Senhor. Para nos ajudar a viver em Cristo, a Igreja celebra os principais
mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até a sua Ascensão e vinda
gloriosa, revivendo-os ao longo do chamado Ano Litúrgico.
No centro do Ano Litúrgico, como sabemos, está a Páscoa. A Páscoa se
celebra no Domingo da Páscoa, sendo mais importante neste domingo maior a
Vigília Pascal, chamada a Vigília-mãe de todas as vigílias e considerada o
ponto mais alto de todo o Ciclo Pascal. E a Páscoa é também o fundamento de
nossa fé cristã. A ressurreição do Crucificado remete-nos ao sentido último de
nossa própria vida: a vida e não a morte. Comemorando a Páscoa, celebramos a
Ressurreição de Cristo-Cabeça e a nossa ressurreição, dos cristãos os seus
membros.
O Ressuscitado, que é nossa vida, nos garante a ressurreição futura e
nos chama desde agora a viver conforme a esta vida, a defender a vida e a
promover a paz.
Ao entrarmos no retiro espiritual deste tempo quaresmal, a Liturgia
nos propõe como modelo de penitência dos cristãos o próprio Jesus que jejua,
que ora e que passa fazendo o bem. Jesus nos mostra o caminho para a
observância quaresmal da penitência, indicando como se deve pôr em prática os
três exercícios de verdadeiro culto prestado a Deus, conhecidos no Antigo
Testamento e tratados por Jesus mesmo, segundo Mateus 6, 1-18: oração, jejum,
esmola.
São Leão Magno, no século V, já falava que estas três práticas se
ligavam profundamente com os três principais relacionamentos do homem: com
Deus, pela oração; com a natureza, pelo jejum; com o próximo, pela esmola. Um
equilíbrio necessário para se resgatar a plena harmonia e realização, rompidas
pelo pecado. Este Evangelho de Mateus, lido na quarta-feira de cinzas, abertura
da Quaresma, apresenta para todos nós o programa da penitência quaresmal.
A Quaresma, portanto, é este tempo forte de oração intensa, de jejum
religioso e de verdadeira caridade, a exemplo de Jesus orante que
freqüentemente se recolhia para uma oração profunda de comunhão com o Pai
(atitudes de oração), de Jesus penitente que vivia pobre e livre de coisas e
apegos (atitudes de jejum) para ampliar espaços para Deus e os outros, de Jesus
misericordioso que passava fazendo o bem, servindo, salvando, dando sua vida
por todos (atitudes de esmola).
A quaresma é uma viagem, uma peregrinação. E, ao empreendê-la, já
desde o primeiro passo na «radiosa tristeza» da Quaresma, percebemos ao longe,
bem longe, o destino à alegria da Páscoa, a entrada na glória do Reino.
E é esta visão, o gosto antecipado da Páscoa, que torna radiosa a
tristeza da Quaresma e que faz de nosso esforço na Quaresma «primavera
espiritual». A Quaresma é o socorro que nos oferece a Igreja, escola de
arrependimento que, somente ela, nos tornará possível acolher a Páscoa não como
uma simples permissão de comer, beber e se divertir, mas verdadeiramente como o
fim daquilo que é «velho» em nós, como nossa entrada no «novo».
Na Igreja primitiva, o principal objetivo da Quaresma era preparar ao
batismo os catecúmenos, isto é, os Cristãos recém-convertidos, em um tempo em
que o batismo era ministrado durante a liturgia pascal. Entretanto, mesmo
quando a Igreja não batizava mais adultos e a instituição do catecumenato tinha
desaparecido, o sentido da Quaresma permaneceu o mesmo. Pois, apesar de sermos
batizados, o que perdemos e traímos constantemente é precisamente o que
recebemos no batismo. É por isso que a Páscoa é nosso retorno anual a
nosso próprio batismo, enquanto que a
Quaresma é a preparação a este retorno, o esforço lento e resistente para,
finalmente, realizar nossa própria «passagem» ou «Páscoa» na nova Vida em
Cristo. A liturgia de Quaresma conserva ainda hoje seu caráter catequético e
batismal, não é como um resto arqueológico do passado, mas como algo de valioso
e essencial para nós. Pois, a cada ano, a Quaresma e a Páscoa nos fazem
redescobrir uma vez mais e recobrar aquilo que a passagem batismal através da
morte e da ressurreição havia operado em nós.
A Campanha da Fraternidade faz parte também da observância quaresmal e
é exercício excelente e prioritário de culto a Deus, como momento forte de evangelização
e de solidariedade humana e social. Ela aprofunda a vivência da fraternidade,
comprometendo-nos concretamente com a libertação do mal e do pecado.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em parceria com o
CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil), nos convida neste ano,
em comunhão ecumênica, a rezar pela paz, a promover a paz e a lutar pela paz,
começando dentro de nós, entre nós, ao nosso derredor e em todo o mundo e nós
traz como tema e lema: “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para
servir” (cf. Mc 10, 45), a Campanha da
Fraternidade (CF) 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo o cristão e
das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e
Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II.
O Senhor nos abençoe nesta Quaresma e nos dê o espírito de conversão,
vencendo em nós todo o pecado, causa da violência e divisões, e fazendo de
todos nós instrumentos de sua paz. Pois também este ano a CNBB proclamou o ano
da Paz no Brasil. Amém!
Pe.Emílio Carlos Mancini+
Diocese de São Carlos
Vigário Episcopal para as Novas Comunidades
Nenhum comentário:
Postar um comentário