Domingo de Ramos - da
Paixão –
A liturgia deste último Domingo da Quaresma
convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro,
partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que
o egoísmo e o pecado fossem vencidos.
A cruz (que a liturgia deste domingo coloca
no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo
desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por
amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta
anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da
salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e
concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos
viram neste “servo” a figura de Jesus.
Jesus, o “servo” sofredor que faz da sua vida
um dom por amor, mostra aos seus seguidores o caminho: a vida, quando é posta
ao serviço da libertação de toda escravidão, não é perdida mesmo que pareça, em
termos humanos, fracassada e sem sentido. Temos a coragem de fazer da nossa
vida uma entrega radical ao projeto de Deus e à libertação dos nossos irmãos? O
que é que ainda entrava a nossa aceitação de uma opção deste tipo? Temos
consciência de que, ao escolher este caminho, estamos a gerar vida nova, para
nós e para os nossos irmãos?
Temos consciência de que a nossa missão
profética passa por sermos Palavra viva de Deus? Nas nossas palavras, nos
nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta libertadora de Deus alcança o
mundo e o coração dos homens?
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de
Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência
ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida
que a Palavra de Deus nos propõe.
É óbvio o apelo à humildade, ao desprendimento,
ao dom da vida, que Paulo aqui faz aos Filipenses e a todos os crentes: o
cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da
sua vida um dom a todos. Esse caminho não levará ao aniquilamento, mas à
glória, à vida plena ainda que aparentemente temos o fracasso da cruz .
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão
e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de
libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão.
Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor
que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Ao longo de todo o processo, Jesus manifesta
uma grande serenidade, uma grande dignidade e uma total conformação com aquilo
que se está a passar. Não se trata de passividade ou de inconsciência, mas de
aceitação serena de um caminho que Ele sabe que passa pela cruz. Jesus está perfeitamente conformado com o
projeto do Pai e que a sua vontade é cumprir fiel e integralmente o plano de
Deus, sem objeções ou resistências de qualquer espécie.
Apesar de Filho de Deus, Jesus é também homem e partilha da debilidade
e da fragilidade da natureza humana até mesmo um júri desonesto e uma
condenação injusta. Não há
dúvida: Jesus é, também, o homem/Jesus
que Se solidariza com os homens, que os acompanha nos seus sofrimentos, que
experimenta os seus dramas, fragilidades e debilidades.
Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e
a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude que Ele assumiu e
solidarizar-Se com aqueles que são crucificados neste mundo. Olhar a cruz de Jesus significa denunciar
tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores,
práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar
outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver
deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é
viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida
nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
Quantas vezes a multidão estava perto de
Jesus! Para O escutar, para beneficiar dos seus gestos, para cruzar o seu
olhar, para aprender a rezar… A mesma multidão estende os mantos ou os ramos à
passagem de Jesus e grita: “Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor!
Bendito o Reino que vem! Hosana no mais alto dos céus!” Sabiam o que diziam,
todos estes pobres que esperavam o Messias? Estavam prontos a reconhecer ainda
como Rei aquele que teria como trono uma cruz e como coroa uma coroa de
espinhos?
O seu grito era uma aclamação, alguns dias
mais tarde o seu grito será uma condenação: “Crucifica-O!”
Chegou o tempo do silêncio que permite
acolher o mistério, o mistério do Amor.
E você ?Qual será seu grito hoje!
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