3. Para isso, basta o conhecimento de Deus e o de nós mesmos, saber o que Ele é o que somos nós; como infinita é sua bondade e quão profunda a nossa miséria.
Para orar, uma única ciência é necessária: a fé.
As palavras serão deitadas pelas nossas próprias necessidades. Poucas ideias (quanto menos numerosas, melhor será) alguns desejos, e finalmente umas palavras saídas do coração, – porque se assim não for, não há oração propriamente dita, – eis tudo o que é preciso.
Haverá, por acaso, um homem que não tenha um só pensamento, um único desejo? Pois bem, é apenas do que precisamos saber para empreender o nobre trabalho da oração. A graça, Deus no-la dá, de bom grado, a todos e a cada um em particular.
4. Por conseguinte, orar, é simplesmente falar com Deus; é conversar com Ele, mediante a adoração, o louvor, a súplica. Alguns teólogos opinam ser a oração um discurso feito a Deus, uma audiência por Ele concedida. É avançar muito. Grande é o numero dos que não sabem produzir um discurso, e a audiência, sendo por demais cerimoniosa, exclui a cordialidade.
Durante a oração, o nosso proceder deve ser idêntico ao que temos relativamente a um amigo íntimo e querido. A ele confiamos com sinceridade o que nos vai na alma: dissabores ou alegrias, esperanças e receios; dele recebemos conselhos e avisos, auxilio e conforto; com ele decidimos os mais importantes negócios, singelamente e quase sempre sem que a sensibilidade se manifeste de forma alguma. É assim que, na oração, devemos ser para com Deus.
Quanto maior for a nossa simplicidade, tanto melhor será: demos voz ao coração.
5. Se muitas vezes a oração se desenvolve de forma penosa e difícil, é culpa nossa; é porque não sabemos como nos colocar em concordância, e fazemos dela uma ideia errônea. Manifestemos a Deus os sentimentos de nossa alma; digamos as coisas tais como se apresentam e a oração será sempre proveitosa. Todo caminho leva a Roma, diz o adágio, e toda ideia abre o seu para chegar a Deus.
Só saberemos orar quando o fizermos simplesmente. Que nos adianta dirigirmos ao Senhor discursos sublimes ou torneados com graça?
Se acontecer que nenhuma ideia nos venha à mente, tenhamos a simplicidade, de expor essa mesma nossa indigência. É isto ainda orar, glorificar a Deus e expressamente advogar a nossa causa.
Extraído do livro “a vida espiritual reduzida a três princípios” R.P. Maurício Meschler, S.J. Livro de 1923 - 253 págs
Nenhum comentário:
Postar um comentário