Missa Domingo Ramos -2015
Baste-nos alguns pensamentos, nesta Eucaristia solene que abre a
grande semana da nossa fé, a Semana santíssima, que culminará com a solenidade
da Páscoa, domingo próximo.
Já fizemos memória da entrada do Senhor Jesus em Jerusalém. Ele é o
Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que vem tomar posse de sua Cidade
santa. Mas, que surpresa! É um Messias humilde, que entra não a cavalo, mas num
humilde burrico, sinal de serviço e pequenez! Ei-lo: seu serviço será dar a
vida pela multidão. Ele é Rei, mas rei coroado de espinhos e não de humana
vanglória. Termos seguido o Senhor nessa solene procissão com ramos é tê-lo
reconhecido como nosso rei, rei pobre e humilde. Tê-lo seguido é nos dispor a
segui-lo nas pobrezas e humildades da vida, dispondo-nos a participar de sua
paixão e cruz para ter parte na glória de sua ressurreição.
Primeiro: o meio que Deus
escolheu para nos salvar não foi o que é grande e vistoso, tão apreciado pelo
mundo. Ao invés, o Pai nos salvou pela humilde obediência do Filho Jesus.
Reconheçamos na voz do Servo sofredor da primeira leitura a voz do Filho de
Deus: “O Senhor Deus me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar
atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem
voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para arrancarem a
barba. O Senhor é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo,
porque sei que não serei humilhado”. Palavras impressionantes, caríssimos! O Filho
buscou humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí
encontrou força e consolo, encontrou a certeza de sua vida. São Paulo, na
segunda leitura de hoje, confirma isso com palavras não menos impressionantes:
“Jesus Cristo, existindo na condição divina, esvaziou-se de si mesmo,
humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Caríssimos em
Cristo, num mundo que nos tenta a ser os donos da verdade, desprezando os
preceitos do Senhor Deus e seus planos para nós, aprendamos a humilde
obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão com o Cristo obediente ao Pai
até a morte. Só então seremos livres realmente, somente então viveremos de
verdade!
Um segundo pensamento: o
breve e concreto relato da Paixão segundo São Marcos, apresenta-nos ao menos
três modos de nos colocar diante do Cristo nosso Senhor. Dois modos inadequados, que deveremos evitar, apesar de tantas vezes
neles cairmos; e um modo correto, a que somos continuamente chamados.
Ei-los: primeiramente, o modo
dos discípulos, tão vergonhoso: “Então todos o abandonaram e fugiram”. Oh!
que desde o início temos sido covardes, desde os princípios somos um mísero
bando de infiéis! Quantas vezes, nos apertos da vida, fugimos e o abandonamos:
no vício, no comodismo, na busca de crendices e seitas, no fascínio por
ideologias, idéias e filosofias opostas à nossa fé! Como é fácil fugir, como é
fácil, ainda agora, abandoná-lo! – Perdoa-nos, Senhor Jesus, porque ainda hoje
somos assim, ainda somos como os primeiros discípulos: frágeis, inconstantes,
covardes mesmo! Perdoa-nos pelo pouco amor, pela falta de compromisso!
Depois, o modo de Pedro, que “seguiu Jesus de longe”. Atenção,
caríssimos Pedros aqui presentes! Não se pode seguir Jesus de longe! Quem o
segue assim? Quem pensa poder ser discípulo pela metade; quem se ilude,
pensando seguir o Senhor sem combater seus vícios e pecados; quem imagina poder
servir a Deus e ao dinheiro, ao Senhor e aos costumes e modos e pensamentos do
mundo! Como terminarão esses? Como terminou Pedro: negando conhecer Jesus! –
Senhor, olha para nós, como olhaste para Pedro; dá-nos o arrependimento e o
pranto pela covardia e frieza em te seguir! Faze-nos verdadeiros discípulos
teus, que te sigam de perto até a cruz, como o discípulo amado, ao lado de tua
santíssima Mãe!
Finalmente, uma atitude bela e
digna de um verdadeiro discípulo do Senhor: aquele gesto, da misteriosa
mulher, que ungiu a cabeça do Senhor com nardo puro, caríssimo! Notaram, o
detalhe de Marcos? “Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de
Jesus”. Quebrou o vaso... isto é, derramou todo o perfume, sem reservas, sem
pena, com amoroso estrago... Para o Senhor, tudo; para o Salvador o melhor! E
São João diz que “a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo” (Jo 12,3).
Ó mulher feliz, discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou toda a casa
com o bom odor de um amor sem reservas! Quanta generosidade dessa mulher
politicamente incorreta! Quanta hipocrisia, quanta mesquinhez dos apóstolos
politicamente corretos, que não compreenderam seu gesto de amor gratuito! –
Senhor Jesus, faz-nos generosos para contigo! Que te amemos como essa mulher:
sem reservas, sem fazer contas! Ó Senhor, que nos amaste até o extremo,
ensina-nos a te amar assim também, colocando nossos perfumes, isto é, aquilo
que temos de precioso, a teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o bom
odor do amor haverá de se espalhar como testemunho da tua presença!
Fiquemos com estes santos pensamentos, preparando-nos durante toda
esta semana para o tríduo pascal, que terá seu cume na santa vigília da
Ressurreição!
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo e vos bendizemos, porque
pela vossa santa cruz remistes o mundo.
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