« A transformação
como cura para o coração»
Neste tempo favorável de quaresma para a conversão dos nossos corações é
importante o tempo do silêncio interior, pois o homem de hoje é barulhento
demais e não mais se escuta a si mesmo e é impressionante de que a
transformação seja conquistada por meio do silêncio: Quando descobrirmos o
silêncio em nossos corações, discernimos Deus no mundo todo! Em outras
palavras, a transformação começa com a consciência de que Deus está no centro
de toda a vida. "Fica em silêncio, e conhece a Deus." (Salmos 44,1).
Por meio do silêncio, damo-nos conta de que a graça de Deus está muito
mais próxima de nós; na verdade, ela faz mais para definir quem somos do que
nós mesmos!
A transformação do coração é a profunda consciência de que "o reino
de Deus está dentro de vós" (Lucas, 17,21).
A transformação interna, contudo, exige mudanças radicais. Na
terminologia religiosa, ela exige metanóia - uma mudança de atitude e
pressupostos. Não podemos ser transformados a menos que tenhamos antes sido
limpos do que quer que se coloque contra a transformação, e tenhamos entendido
o que desfigura o coração humano.
Esse processo de auto - descoberta resulta apenas da graça de Deus e
acaba levando a um respeito verdadeiro pela natureza humana, com todos os seus
defeitos, tanto em nós mesmos quanto nos outros. Ele abre caminho para o
respeito por todos os seres humanos, independentemente de diferenças, dentro da
sociedade e da comunidade global.
Através da transformação interna, essas diferenças são bem recebidas,
honradas e assumidas como peças únicas de um quebra-cabeça sagrado; elas fazem
parte do mistério mais profundo da criação maravilhosa de Deus. A transformação
demanda despertar da indiferença saindo de toda alienação e estado de letargia e
comodismo que vivemos e levar a compaixão a vítimas da pobreza e de todas as
formas de injustiça na condição de comunidades de fé e líderes religiosos,
devemos imaginar e desencadear caminhos alternativos, que rejeitem a violência
e reconheçam a paz. Nossa época será lembrada em função daqueles que se dedicam
à cura e à transformação da comunidade-sociedade. Nosso mundo será moldado por
aqueles que creem e "assim, pois, sigamos as coisas que servem para a
paz" (Romanos 14,19).
A forma como tratamos uns aos outros se reflete na forma como tratamos
nosso universo, assim como a forma com que respondemos a outras pessoas se
reflete em como respeitamos o ar que respiramos, a água que
bebemos e o alimento que consumimos. Por sua vez, nossa proteção do ambiente natural
revela a medida da autenticidade de nossa oração e nosso culto.
Isso porque, sempre que reduzimos a vida religiosa a nossas preocupações,
negligenciamos a vocação profética da Igreja para implorar a Deus e invocar o
Espírito divino pela renovação de todo o cosmos poluído. Na verdade, o cosmos
como um todo é o espaço em que a transformação tem lugar.
Quando somos transformados pela graça divina, podemos discernir
adequadamente a injustiça da qual somos participantes ativos e não meros
observadores passivos. Quando somos tocados pela graça de Deus, choramos pela
des-graça que causamos ao não compartilhar os recursos de uma vida mais digna e
santa.
Uma visão de mundo transformada nos permite perceber o impacto duradouro
de nossas maneiras de agir sobre outras pessoas, especialmente os pobres, como
imagem sagrada de Cristo.
Pedimos no Salmo 50,12: «Criai em mim, ó Deus, um coração puro» esta
súplica manifesta a profundidade com que devemos preparar-nos para celebrar,
nas próximas semanas, o grande mistério da paixão, morte e ressurreição do
Senhor e ajuda-nos também a olhar no íntimo do coração humano, especialmente em
momentos feitos de sofrimento e de esperança como os que atravessam atualmente.
O anseio de um coração puro, sincero, humilde, agradável a Deus era já muito
sentido por Israel, à medida que ia tomando consciência da persistência do mal
e do pecado no seu seio, como um poder praticamente implacável e impossível de
superar. A única possibilidade que lhe restava era confiar na misericórdia de
Deus onipotente e esperar que Ele mudasse a partir de dentro, do coração, uma
situação insuportável, obscura e sem futuro. Assim foi ganhando espaço o
recurso à misericórdia infinita do Senhor, que não quer a morte do pecador, mas
que se converta e viva (cf. Ez 33, 11). Um coração puro, um coração novo, é
aquele que se reconhece impotente por si mesmo e se coloca nas mãos de Deus
para continuar a esperar nas suas promessas.
Deus quer a conversão do nosso coração e ajuda muito quando jejuamos,
porque jejuar é domar o próprio corpo. É domar as paixões. Quando nós nos
submetemos a Deus, Ele retira de nós toda dureza, então nós adquirimos uma visão
profunda de Jesus, do Espírito Santo e passamos a compreender a preciosidade
neste mundo de provas e dificuldades e o que é a brandura do Espírito Santo.
Nós precisamos nos deixar educar por Deus para sermos pessoas brandas e
mansas e alcançarmos a cura do nosso coração. Precisamos purificar o nosso
coração de toda maldade! São as coisas que se acumulam dentro de nós que vão
modelando os nossos comportamentos e direcionando as nossas ações! Por isso
Jesus mesmo disse: “O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de
fora, mas o que sai do seu interior” (Marcos 7, 15).
Pe. Emílio Carlos Mancini +
Diocese de São Carlos
Nenhum comentário:
Postar um comentário