É TEMPO DE CONVERSÃO
Eu lhes garanto: se
vocês não se converterem,e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão
no Reino do Céu. (Mt
18,3)
Depois que João Batista foi preso,
Jesus voltou para a Galiléia, pregando a Boa Notícia de Deus: “O tempo já se
cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa
Notícia” (Mc 1,14s).
Estas primeiras palavras de Jesus
funcionam como chave de compreensão para a novidade do Reino. Em seus
discursos, Jesus indica uma realidade (o Reino) que requer uma mudança (uma
transformação radical) em relação à situação de injustiça que assolava os
homens submetidos ao jugo do pecado. A informação de que o Reino está
próximo aponta para uma dinâmica e, ao mesmo tempo, para um fato iminente:
o Reino está aí; sempre crescendo. Na associação do convertam-se com o acreditem,
o Mestre indica uma ação radical capaz de servir de orientação para a vida dos
seus seguidores. Só se converte quem crê na missão redentora de Jesus; crê e se
compromete com ela, como forma de espiritualidade e adoração.
Já que o tema principal deste
tópico é conversão, no que consiste de fato uma conversão?
Converter-se,
basicamente, é mudar de rota. A gente vai por uma estrada e de repente decide
tomar outro caminho, mais à direita ou à esquerda. Diz-se que fizemos uma
“conversão” para um lado ou para o outro. No terreno da espiritualidade,
converter-se é mudar de vida, é deixar o caminho do pecado ou da indiferença
para abraçar o itinerário de Jesus. Converter-se é reconciliar-se com o bem e a
justiça, renunciando à mediocridade de uma vida sem sentido, longe de Deus, para
uma adesão àquela vida cristã preconizada por Jesus em seu evangelho.
Nesse aspecto, conversão nada
mais é do que a incondicional entrega de nosso coração e nossa vida a Jesus
Cristo e seu projeto libertador. Trata-se de uma entrega na fé, na atitude e na
missão. Sendo a conversão um crescimento progressivo e permanente na fé, ela se
torna um processo em marcha, nunca acabado, nunca definitivo. Estamos sempre nos
convertendo. É uma falácia dizer que estamos convertidos. Nesse terreno
estamos sempre a caminho...
Dirigindo-se aos crentes da Igreja primitiva, Pedro não cessava de
recomendar: “Convertam-se” (cf. At 2,37s).
Cristo exige um seguimento
radical que abrange o homem todo e todos os homens, que envolve todo o mundo e
o cosmo todo. Essa radicalidade faz com que a conversão seja um processo nunca
encerrado, tanto em nível pessoal quanto em nível social (P 193).
A partir da fé que nutre a
conversão do coração e da vida, se estabelece a denúncia de tudo aquilo que
impede e bloqueia a instauração do Reino de Deus no meio da sociedade humana. É
impossível uma conversão pessoal se não houver a ressonância da conversão
social, e vice-versa. Desde o princípio
Deus propôs aos seus filhos dois
caminhos, duas opções. Ele não violenta a vontade de ninguém, todos são livres
para decidir o que vão abraçar: a vida e a morte, a graça e a des-graça,
o bem e o mal. Tudo depende da opção que fizermos entre Deus e os ídolos do
mundo. Veja: hoje eu estou colocando diante de você a vida e a felicidade, a
morte e a desgraça. Se você obedecer aos mandamentos de Javé seu Deus, que hoje
lhe ordeno, amando a Javé seu Deus, andando em seus caminhos e observando os
seus mandamentos, estatutos e normas, você viverá e se multiplicará. Javé seu
Deus o abençoará na terra onde você está entrando para tomar posse dela. Todavia, se o seu coração se desviar e você
não obedecer, se você se deixar seduzir e adorar e servir a outros deuses, eu
hoje lhe declaro: é certo que vocês perecerão! (Dt 30, 15-18).
A conversão, baseada numa
espiritualidade vigorosa, gira em torno da fé que conduz às boas obras, segundo
o apóstolo Tiago (2,17). Quem realmente crê, coloca essa crença a serviço da
transformação dos corações (a partir do seu), gerando uma irreversível e incontrolável
atitude fraterna. Fé sem obras transformadora tem pouco valor. Na identificação
da espiritualidade verdadeira, aparece a metánoia, uma mudança de sentimentos,
de forma de pensar, de rumo e de atitudes.
Se não mudarmos nosso coração,
cheio das coisas do mundo, não conseguiremos suportar a exigência da conversão.
Se colocarmos vinho novo (as exigências do evangelho) em vasilhas velhas
(corações fechados e corrompidos) tudo irá se perder (cf. Mc 2,22).
É preciso mudar os corações.
Pe.Emílio Carlos .
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