JESUS APARECE AOS DISCÍPULOS DE EMAÚS
A liturgia deste III Domingo da Páscoa convida-nos a descobrir esse Cristo vivo que acompanha os homens pelos caminhos do mundo, que com a sua Palavra anima os corações magoados e desolados, que se revela sempre que a comunidade dos discípulos se reúne para "partir o pão"; apela, ainda, a que os discípulos sejam as testemunhas da ressurreição diante dos homens.
É no Evangelho, sobretudo, que esta mensagem aparece de forma nítida. O texto que nos é proposto põe Cristo, vivo e ressuscitado, a caminhar ao lado dos discípulos, a explicar-lhes as Escrituras, a encher-lhes o coração de esperança e a sentar-Se com eles à mesa para "partir o pão". É aí que os discípulos O reconhecem.
A primeira leitura mostra (através da história de Jesus) como do amor que se faz dom a Deus e aos irmãos, brota sempre ressurreição e vida nova; e convida a comunidade de Jesus a testemunhar essa realidade diante dos homens.
A segunda leitura convida a contemplar com olhos o projeto salvador de Deus, o amor de Deus pelos homens (expresso na cruz de Jesus e na sua ressurreição). Constatando a grandeza do amor de Deus, aceitamos o seu apelo a uma vida nova.
Celebrar a Eucaristia no caminho da vida
A história dos dois de Emaús é já muito conhecida. O ponto de partida é um momento da história que talvez não gostemos de recordar. A cruz de Jesus produziu uma verdadeira debandada nas filas de seus seguidores. Os que tinham deixado tudo para segui-lo decidiram voltar a deixar tudo para começar de novo. A decepção, a desesperança, a sensação de fracasso instalaram-se em seus corações. E decidiram voltar-se sobre seus passos ao que eram e tinham dantes de conhecer Jesus. Tanto esforço não tinha valido a pena! Num momento, os chefes dos judeus e os romanos tinham convertido em pedaços o sonho do Reino. Não tinha nada que fazer!
Tudo isto é já conhecido. Não nos resulta difícil nos sentir identificados com estes dois discípulos que voltam desencantados a sua terrinha, que abandonam o sonho do Reino. Mas não é isso o melhor do relato. O melhor é que ao final os discípulos voltam sobre seus passos. Retornam a Jerusalém, lugar da cruz e a decepção, mas com o coração cheio de entusiasmo e de vida ("Não ardia nosso coração...?"), como fruto do encontro com um caminhante, com um desconhecido.
Aparece um caminhante
Simplificando, podemos dizer que se trata de um dos relatos da aparição de Jesus ressuscitado. Mas, como alguma outra, é um aparecimento misterioso. Jesus não é reconhecido à primeira vista - como foi possível que não lhe reconhecessem seus discípulos?-. É só um caminhante com o qual eles tem um encontro casual, que escuta aos dois discípulos e compartilha com eles a trilha e a direção (para o fracasso?). O caminhante não tem nome nem rosto. É um mais. Caminha com eles. Escuta-lhes pacientemente. Depois intervém. Alumia-lhes o sucedido desde a Escritura. Falam, dialogam, compreendem... Ao longo do caminho.
Entretanto os discípulos não mudaram de direção em sua caminhada. Mas, ao menos, decidem que é tempo de fazer uma parada no caminho. É tempo de descansar, de deter-se, de compartilhar a ceia. Convidam ao desconhecido. Aí se produz o reconhecimento, ao partir o pão. Dão-se conta de que o que caminhou com eles, o que lhes falou, o que lhes partiu o pão, é Jesus mesmo.
Mas então desaparece. Não há mais Jesus visível. Os discípulos ficam sozinhos. Com suas forças. Com sua fé. Mas o pão e a palavra abriram-lhes à vida. O caminhante desconhecido tocou-lhes o coração e ajudou-lhes a encontrar o sentido do sucedido. E retomam o caminho a Jerusalém, agora o lugar da ressurreição e do triunfo, da esperança e da vida.
Uma Eucaristia feita relato
O relato dos de Emaús é o relato de uma Eucaristia daqueles primeiros tempos. Ainda não há formalismos. Não existem os missais nem os ritos. Tudo é mais singelo, mais simples, mais próximo. Os discípulos reúnem-se, recordam, comentam, alumiam-se uns a outros. E compartilham o pão, fazendo memória de Jesus, utilizando as mesmas palavras de Jesus na última ceia. Os desconhecidos fazem-se família em torno do pão e da palavra. Nesse compartilhar e recordar, se faz presente Jesus ressuscitado. Sentem a força da vida presente Nele. Comungam com sua missão.
Na Eucaristia encontram as forças para voltar a Jerusalém, para sair de novo para o caminho, a manchar os pés e as mãos com o barro da história, a falar e dialogar, a nos encontrar como desconhecidos, com os diferentes, a não deixar um rincão sem que chegue a palavra misericordiosa e cheia de esperança que Jesus pronunciou definitivamente na história da humanidade.
Fazer do caminho encontro e Eucaristia
Aquelas primeiras Eucaristias foram o detonante da vida e a esperança nos discípulos que se deixavam levar pela morte e o desengano. Os caminhos eram os mesmos, mais a direção tinha mudado. Os desconhecidos descobriam-se irmãos. Tinham um tesouro para compartilhar com os homens e mulheres de seu tempo. Fazer realidade na vida diária o Reino de Deus. Até nós, longe no tempo e no espaço, chegou seu estimulo, sua capacidade de escuta. Graças a Deus!
O caminho da vida é nossa oportunidade para fazer encontro, fraternidade, Eucaristia, para fazer presente o Reino. A Eucaristia põe-nos a caminho e o caminho em fraternidade faz-se Eucaristia.
Fonte: Fernando Torres, cmf |
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