«Ajuda a minha pouca fé»
Em verdade, eu percebi que tudo é obra de Deus, por mais pequeno que
seja; que nada acontece por acaso, que tudo é ordenado pela sabedoria
previdente de Deus. O fato de o homem ver nisso a sorte ou o acaso deve-se à
nossa cegueira ou vista curta. As coisas que Deus, na sua sabedoria, previu
desde toda a eternidade e que conduz de forma perfeita, incessante e
gloriosamente até ao seu melhor fim, acontecem para nós de forma inesperada, e
dizemos, na nossa cegueira e vista curta, que acontecem por acaso ou por
acidente. Mas não é assim aos olhos do Senhor Deus. Devemos, por conseguinte,
reconhecer que tudo o que é feito é bem feito, dado que é Deus que faz tudo.
[…] Mais tarde, Deus mostrou-me o pecado na sua nudez, bem como a forma como
opera a sua misericórdia e a sua graça. […]
Vi perfeitamente que Deus nunca altera os seus desígnios, sejam eles
quais forem, e que não os alterará por toda a eternidade. Não há nada que, na
sua perfeita disposição das coisas, Ele não conheça desde toda a eternidade.
[…] Nada faltará nesse aspecto, porque foi na plenitude da sua bondade que Ele
tudo criou. É por isso que a Santíssima Trindade nunca está plenamente
satisfeita com as suas obras. Deus mostrou-mo para minha grande felicidade:
«Olha! Sou Deus. Olha! Estou em todas as coisas. Olha! Faço todas as coisas!
Olha! Nunca retiro a minha mão das minhas obras, e nunca a retirarei pelos
séculos dos séculos. Olha! Conduzo todas as coisas até ao fim que lhes atribuí
desde toda a eternidade, com o mesmo poder, a mesma sabedoria, o mesmo amor que
quando te criei. O que poderá correr mal?»
Juliana de Norwich (1342-depois de 1416), mística inglesa
Revelações do amor divino, cap. 11
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