08º Domingo do Tempo Comum - Ano A
O essencial é servir a Deus e não
ao mundo
A liturgia deste 8º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão
sobre as nossas prioridades. Recomenda que dirijamos o nosso olhar para o
que é verdadeiramente importante e que libertemos o nosso coração da tirania
dos bens materiais. De resto, o cristão não vive obcecado com os bens mais
primários, pois tem absoluta confiança nesse Deus que cuida dos seus filhos com
a solicitude de um pai e o amor gratuito e incondicional de uma mãe.
O Evangelho convida-nos a buscar o essencial (o “Reino”) por entre
a enorme bateria de coisas secundárias que, dia a dia, ocupam o nosso
interesse. Garante-nos, igualmente, que escolher o essencial não é negligenciar
o resto: o nosso Deus é um pai cheio de solicitude pelos seus filhos, que provê
com amor às suas necessidades.
A primeira leitura sublinha a solicitude e o amor de Deus, desta
vez recorrendo à imagem da maternidade: a mãe ama o filho, com um amor
instintivo, avassalador, eterno, gratuito, incondicional; e o amor de Deus
mantém as características do amor da mãe pelo filho, mas em grau infinito. Por
isso, temos a certeza de que Ele nunca abandonará os homens e manterá para
sempre a aliança que fez com o seu Povo.
Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto a fixarem o seu
olhar no essencial (a proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus
fez aos homens) e não no acessório (os veículos da mensagem).
LEITURA I – Is 49, 14-15
A primeira leitura apresenta-nos,
hoje, um trecho do Deutero-Isaías, o profeta da esperança. O Deutero-Isaías é
um profeta que exerce a sua missão entre os exilados judeus na Babilónia, na
fase final do Exílio (por volta de 550/540 a.C.); a sua missão consiste em
consolar um povo decepcionado e desiludido, porque a libertação tarda. Os
capítulos que recolhem a sua mensagem (Is 40-55) chamam-se, por isso, “Livro da
Consolação”.
A mensagem de “consolação” do
Deutero-Isaías desenrola-se à volta de duas grandes coordenadas: na primeira
(cap. 40-48), o profeta anuncia a libertação do cativeiro e um “novo êxodo” do
Povo de Deus em direção à Terra Prometida; na segunda (cap. 49-55), o profeta
fala aos exilados da reconstrução e da restauração de Jerusalém.
O nosso texto pertence à segunda
parte. Faz parte de um quadro com três cenas (cf. Is 49,14-26), nas quais
Jahwéh responde às questões postas por Jerusalém (aqui apresentada na figura de
uma mulher). Na primeira (Is 49,14-20), Jahwéh procura demonstrar que não
esqueceu nem abandonou Sião; na segunda (Is 49,21-23), Jahwéh promete o
regresso dos exilados; na terceira (Is 49,24-26), respondendo à questão da
viabilidade desse projeto, Jahwéh, o poderoso de Jacob, o “goel” (“vingador”)
de Israel, garante a sua concretização.
O Exílio na Babilónia representa
uma experiência bem dramática, que abala a fé e as convicções mais profundas do
Povo de Deus. O drama nem reside tanto na derrota e no exílio em si; mas
reside, sobretudo, no desmoronamento de todas as certezas e de todas as
convicções em que o Povo se apoiava. Porque é que Deus permitiu a derrota e o
exílio? Jahwéh abandonou o seu Povo? O Senhor rompeu a aliança que fizera com
Israel? Ainda mais: Jerusalém, a cidade do Templo e, portanto, o lugar da
residência de Deus no meio do seu Povo, foi reduzida a um montão de ruínas.
Pode, ainda, confiar-se em Jahwéh? Porque é que Ele não protegeu nem salvou a
sua morada? Ele não tinha feito uma aliança eterna com o seu Povo? A aliança
continua válida, ou Deus abandonou para sempre o seu Povo?
O profeta/poeta põe na boca da
“mulher” Jerusalém (o nome “Sião” é sinónimo de Jerusalém; e a mulher/Jerusalém
representa, na linguagem profética, a mulher/Povo de Deus) um lamento sentido
porque, depois de quarenta anos, continua reduzida a ruínas e Jahwéh não parece
ter qualquer plano para trazer de novo à sua cidade o esplendor antigo.
“O Senhor abandonou-me, o Senhor
esqueceu-Se de mim” (vers. 14). Tanto o verbo “abandonar” como o verbo
“esquecer” situam-nos no âmbito da aliança: são utilizados na literatura
profética para definir o quadro da infidelidade de Israel em relação a Deus
(cf. Jr 22,9; Os 2,15; 8,14; 13,6; Is 17,10; Jr 2,32; 13,25…). Sugerem,
portanto, que Jahwéh abandonou a aliança e repudiou a sua esposa (Israel). A
ideia que está por detrás deste versículo parece ser a seguinte: já que Israel
abandonou Jahwéh e enveredou por caminhos de pecado e de injustiça, Deus
repudiou o seu Povo e rompeu definitivamente a aliança. Isto será verdade? É
desta forma que as coisas se passam? O amor de Deus segue a lógica do “olho por
olho, dente por dente”?
Ao lamento de Sião, Deus responde
de forma dramática: pode uma mãe abandonar a criança que amamenta e a quem ama
ternamente? (vers. 15).
Para definir o amor da mãe pelo
filho, o profeta utiliza o verbo “raham” (“amar ternamente”). Ele expressa o
apego quase instintivo de um ser a outro, um amor que vem das “entranhas”
(“rehem”: “entranhas”), um amor especial e gratuito que nenhuma vicissitude
pode destruir e que é feito de ternura, de misericórdia, de compaixão, de
fidelidade, de eternidade. Este amor encontra, de facto, a sua expressão mais
feliz no amor que a mãe tem pelo seu filho, pois da unidade que liga a mãe ao
filho, brota uma particular ligação com ele, um amor especial que é total,
absoluto, único, avassalador, gratuito e não fruto de qualquer merecimento.
A pergunta é, portanto, retórica:
é evidente que uma mãe que ama o filho não o pode esquecer… No entanto, mesmo
que por hipótese absurda isso acontecesse, Deus não esqueceria o seu Povo e a
sua cidade. A conclusão é óbvia: Deus ama o seu Povo, ainda mais do que uma mãe
ama o seu filho. Como o amor da mãe, também o amor de Deus é ternura,
misericórdia, compreensão, bondade, amor inquebrantável e eterno, apego instintivo
e gratuito; mas o amor de Deus por Israel é tudo isso em grau infinito.
O amor total, inquebrantável,
eterno, que Deus tem pelo seu Povo traduz-se, concretamente, na aliança. Não
têm, portanto, qualquer razão de ser os lamentos da cidade/Povo: a aliança não
acabou nem acabará, pois Jahwéh não cessou nem cessará nunca de amar o seu
Povo.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode partir das
seguintes pistas:
• A um Povo que vive numa
situação dramática de frustração, de desorientação, de total incerteza em relação
ao futuro, que olha à volta e não vê Deus presente na sua caminhada, que começa
a duvidar do amor e da fidelidade de Deus, o profeta diz: “não desanimeis:
apesar da aparente ausência, Deus ama-vos ainda mais do que uma mãe ama o
filho; por isso, Ele continua comprometido convosco, continua a percorrer
convosco esse caminho histórico que, dia a dia, vos leva ao encontro da vida
plena”. É uma mensagem eterna, consoladora e repousante… Num mundo em que as
referências se alteram rapidamente, em que o futuro é incerto e a humanidade
não sabe exatamente para onde caminha, em que o terrorismo, a guerra, as
ameaças ambientais, o totalitarismo dos bens materiais ameaçam o frágil
equilíbrio da humanidade, somos convidados a descobrir o amor materno de Deus,
a sua solicitude nunca desmentida, a sua presença protetora. Temos medo de quê,
se Deus é a mãe que nos ama de forma absoluta, que vigia o berço onde nós
dormimos, que vela e nos serena com a sua presença e a sua solicitude maternal?
• A fotografia de Deus que o
profeta nos apresenta convida-nos a descobrir um Deus que não é interesseiro,
chantagista, negociante… O nosso Deus é um Deus que nos ama, gratuitamente, de
forma absoluta e eterna – como uma mãe ama o filho, mesmo quando ele é rebelde.
Qual é, na verdade, o Deus em quem acreditamos?
• O amor de Deus não é
condicional e não espera nada em troca. É este amor desinteressado que
procuramos testemunhar, ou os nossos gestos de bondade, de amizade, de
misericórdia são um negócio em que esperamos ganhar?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 61 (62)
Refrão: Só em Deus descansa, ó
minha alma.
Só em Deus descansa a minha alma,
d’Ele me vem a salvação.
Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei
abalado.
Minha alma, só em Deus descansa:
d’Ele vem a minha esperança.
Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei
abalado.
Em Deus está a minha salvação e a
minha glória,
o meu abrigo, o meu refúgio está
em Deus.
Povo de Deus, em todo o tempo
ponde n’Ele a vossa confiança,
desafogai em sua presença os
vossos corações.
LEITURA II – 1 Cor 4, 1-5
O texto que nos é proposto como
segunda leitura é a parte final da argumentação de Paulo sobre a questão das
divisões na comunidade de Corinto (cf. 1 Cor 1,10-4,21). Os coríntios
transportaram para a comunidade cristã os esquemas das escolas filosóficas gregas,
elegeram os seus mestres preferidos (seduzidos pelo brilho do discurso e pela
elegância das palavras), dividiram-se em grupos, cada um deles com o seu guia e
o seu mentor… Dessa forma, a fé cristã corria o risco de se transformar numa
aposta em pessoas, em linguagens, em filosofias, em lugar de se tornar uma
adesão a uma proposta de salvação apresentada por Jesus. Diante disto, Paulo
sente que tem de dar um “murro na mesa”, pois é a essência da experiência
cristã que está a ser adulterada.
Paulo não utiliza meias palavras:
os mensageiros do Evangelho são apenas “servos de Cristo e administradores dos
mistérios de Deus” (vers. 1). Eles não são os protagonistas da mensagem; são,
apenas, os veículos de que Deus se serve, a fim de que a sua Boa Nova chegue
aos homens. A missão destes veículos da Palavra não é colocar-se no centro do
palco e atrair sobre si próprios a atenção das multidões; mas é levar os homens
a aderir ao Evangelho e a acolher a proposta de salvação que, em Jesus, Deus
lhes faz.
De resto, os mensageiros da
Palavra não devem estar preocupados com a forma como as pessoas os vêem, mas
devem apenas preocupar-se em transmitir, com fidelidade, a proposta de Deus
(vers. 2).
Por sua parte, Paulo está de
consciência tranquila. Ele nunca usou o Evangelho para servir interesses
próprios ou para promover a sua pessoa. Não lhe interessa se os coríntios
acharam ou não brilhantes as suas palavras. Ele apenas procurou anunciar o
Evangelho com integridade, com verdade e sem adoçar a mensagem. A este
respeito, os coríntios podem julgá-lo da forma que entenderem; a Paulo só
interessa o juízo de Deus.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar os
seguintes dados:
• A reflexão de Paulo
convida-nos, em primeiro lugar, a tomar consciência daquilo que é essencial na
nossa fé: a proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus oferece aos
homens. É isso e apenas isso que deve atrair o nosso olhar e encher o nosso
coração. Não convém perder isto de vista: o cristianismo não é a adesão a uma
determinada filosofia ou estilo de vida, nem a aceitação de uma moda que agora
está “in” mas a qualquer momento pode ficar “out”; mas é o abrir o coração à
oferta de salvação que, em Jesus, Deus nos faz.
• Portanto, não interessam muito
os “invólucros”, através dos quais a proposta de salvação de Deus nos chega: se
o padre é simpático ou não, se o seu discurso é cativante ou não, se temos
razões de queixa contra ele ou não, se ele tem muitos defeitos ou muitas
virtudes… O essencial é a mensagem; os mensageiros são apenas veículos mais ou
menos imperfeitos dessa mensagem eterna.
• Os veículos da mensagem – sejam
eles padres ou leigos – devem ter consciência de que não estão a anunciar-se a
si próprios… Por isso, devem evitar atrair sobre si as luzes da ribalta; devem
apresentar a proposta salvadora de Deus com fidelidade e coerência – sem adoçar
as palavras e sem procurar fazer jogos de “charme”; devem assumir-se como
discretos e fiéis “servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”.
• Paulo refere o seu desinteresse
em relação ao julgamento dos homens; só lhe interessa o julgamento de Deus.
Estas palavras, no entanto, não podem servir para justificar comportamentos
arbitrários ou prepotentes por parte dos animadores das comunidades cristãs
(“faço o que me apetece e não tenho de dar satisfações a ninguém”…). Devem ser
entendidas no contexto em que se apresentam: Paulo está, apenas, a dizer que
não lhe interessam os juízos dos homens acerca do seu jeito para brilhar com as
palavras; só lhe interessa ser fiel à missão que Deus lhe confiou.
ALELUIA – Heb 4, 12
Aleluia. Aleluia.
A palavra de Deus é viva e
eficaz, conhece os pensamentos e intenções do coração.
EVANGELHO – Mt 6, 24-34
Estamos, ainda, no contexto do
“sermão da montanha” (cf. Mt 5-7). Jesus continua aqui a apresentar a “nova Lei”
(como, no Antigo Testamento, Deus apresentou ao seu Povo, na montanha do Sinai
a antiga Lei) que deve guiar a comunidade cristã na sua caminhada histórica.
O Evangelho que hoje nos é
proposto começa com um “dito” de Jesus (vers. 24) que, em rigor, faz parte da
secção anterior (cf. Mt 6,19-24: é aí que aparecem os “ditos” ou “sentenças” de
Jesus que advertem os discípulos para o uso das riquezas). Depois, na
sequência, Mateus apresenta uma “instrução” (vers. 25-34), na qual se procura
definir (a partir das lições das “sentenças” anteriores) a atitude vital e o
caminho do cristão.
O “dito” do vers. 24 afirma a
incompatibilidade entre o amor a Deus e o amor aos bens materiais (o termo
utilizado por Mateus – “mamonas” – personifica o dinheiro como um poder que
domina o mundo). Qual a razão dessa incompatibilidade?
Em primeiro lugar, Deus deve ser
o centro à volta do qual o homem constrói a sua existência, o valor supremo do
homem… Mas, sempre que a lógica do “ter” domina o coração, o dinheiro ocupa o
lugar de Deus e passa a ser o ídolo a quem o homem tudo sacrifica. O verdadeiro
Deus passa, então, a ocupar um lugar perfeitamente secundário na vida do homem;
e o dinheiro – ídolo exigente, ciumento, exclusivo, que não deixa espaço para
qualquer outro valor – é promovido à categoria de motor da história e de
referência fundamental para o homem.
Em segundo lugar, o amor do
dinheiro fecha totalmente o coração do homem num egoísmo estéril e não deixa
qualquer espaço para o amor aos irmãos. O homem deixa de ter lugar, na sua
vida, para aqueles que o rodeiam; e, por amor do dinheiro, torna-se injusto,
prepotente, corrupto, explorador, autossuficiente…
Na “instrução” (vers. 25-34) que
se segue aos “ditos” sobre a riqueza, Mateus procura responder às seguintes
questões: como deve ser ordenada a hierarquia de valores dos discípulos de
Jesus? Os membros da comunidade cristã não se devem preocupar minimamente com
as suas necessidades básicas?
Para os discípulos de Jesus, o
“Reino” deve ser o valor mais importante, a principal prioridade, a preocupação
mais séria, aquilo que dia a dia “faz correr” o homem e que domina todo o seu
horizonte (“procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”).
E as preocupações mais
“primárias” da vida do homem: a comida, a bebida, a roupa, a segurança? São
valores secundários, que não devem sobrepor-se ao “Reino”. De resto, não
precisamos de viver obcecados com essas coisas, pois o próprio Deus Se
encarregará de suprir as necessidades materiais dos seus filhos (“tudo o mais
vos será dado por acréscimo” – ver. 33). Aliás, quem aceita o desafio do “Reino”
descobre rapidamente que Deus é esse Pai bondoso que preside à história humana,
que cuida dos seus filhos, que vela por eles com amor, que conhece as suas
necessidades: se Deus, cada dia, veste de cores os lírios do campo e alimenta
quotidianamente as aves do céu, não fará o mesmo – ou até mais – pelos homens?
O crente que escolheu o “Reino”
passa, então, a viver nessa serena tranquilidade que resulta da confiança
absoluta no Deus que não falha.
A proposta de Jesus será um
convite a viver na alegre despreocupação, na inconsciência, na passividade, no
comodismo, na indiferença? Não. As palavras de Jesus são um convite a pôr em
primeiro lugar as coisas verdadeiramente importantes (o “Reino”), a relativizar
as coisas secundárias (as preocupações exclusivamente materiais) e, acima de
tudo, a confiar totalmente na bondade e na solicitude paternal de Deus. De
resto, viver na dinâmica do “Reino” não é cruzar os braços à espera que Deus
faça chover do céu aquilo de que necessitamos; mas é viver comprometido, trabalhando
todos os dias, a fim de que o sonho de Deus – o mundo novo da justiça, da
verdade e da paz – se concretize.
ATUALIZAÇÃO
A atualização da Palavra pode
fazer-se a partir das seguintes linhas de reflexão:
• A primeira grande questão que,
neste texto, Jesus nos coloca é a questão das nossas prioridades. Dia a dia
somos bombardeados com um conjunto de propostas mais ou menos aliciantes, que
nos oferecem a chave da felicidade e da vida plena: o dinheiro, o êxito
profissional, a progressão na carreira, a beleza física, os aplausos das
multidões, o poder… E estes ou outros valores semelhantes – servidos por
técnicas de publicidade enganosa – tornam-se o “objetivo final” na vida de
tantos dos nossos contemporâneos. No entanto, Jesus garante-nos que a vida
plena não está aqui e que, se estes valores se tornam a nossa prioridade
fundamental, a nossa vida terá sido um tremendo equívoco. Para Jesus, é no
“Reino” – isto é, na aposta incondicional em Deus e no acolhimento do seu projeto
de salvação/libertação – que está o segredo da nossa realização plena. Quais
são as minhas prioridades? Em que é que eu tenho apostado incondicionalmente a
minha vida?
• As propostas equívocas de
felicidade criam, muitas vezes, desorientação e confusão. Ao encherem o coração
do homem de ídolos com pés de barro, afastam o homem de Deus e deixam-no
perdido e sem referências, só diante de um mundo hostil – como criança perdida,
indefesa, impotente. Jesus lembra-nos, porém, que Deus é um Pai cheio de
solicitude e de amor, permanentemente atento às necessidades dos filhos (Ele
até veste os lírios do campo e alimenta as aves do céu…). Ele convida-nos a
colocar a nossa confiança e a nossa esperança nesse Pai que nos ama e a
enfrentar o dia a dia com essa serena confiança que nos vem da certeza de que
Deus é nosso Pai, conhece as nossas dores e necessidades e nos pega ao colo nos
momentos mais dramáticos da nossa caminhada.
• A referência à
incompatibilidade entre Deus e o dinheiro convida-nos a uma particular reflexão
neste campo… O dinheiro é, hoje, o verdadeiro centro do poder no mundo. Ele
compra consciências, poder, bem-estar, projeção social, reconhecimento e até
compra amor. Por ele mata-se, calcam-se aos pés os valores mais fundamentais,
renuncia-se à própria dignidade, envenena-se o ambiente (que interessa o buraco
do ozono, a poluição dos rios, o desaparecimento das florestas, se isso fizer
mais ricos os donos do mundo…), escravizam-se os irmãos. Quando a lógica do
“ter mais” entra no coração do homem e o domina, o homem torna-se escravo e,
por sua vez, leva a escravidão aos outros homens. Torna-se injusto, prepotente
e explorador, passa indiferente ao lado dos irmãos que vivem abaixo do limiar
da dignidade humana, deixa de ter tempo para gastar com aqueles que ama (o amor
do dinheiro sobrepõe-se a todos os outros amores), relega Deus para a lista dos
valores secundários, acha o “Reino” proposto por Jesus “uma absurda quimera”.
Como nos situamos face a isto? Se tivermos que optar (não em termos teóricos,
mas nas situações concretas da vida) entre o dinheiro e os valores do “Reino”,
qual é que escolhemos?
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