4º.
DOMINGO DO TEMPO COMUM E
FESTA
DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR
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“Ele será um sinal de contradição”
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Leituras:
Malaquias 3, 1-4;
Salmo 23;
Carta aos Hebreus 2,14-18;
Lucas 2,22-40.
COR LITÚRGICA: BRANCO
Senhor, estamos reunidos para celebrar a festa da tua
apresentação, no Templo. O encontro de Maria com Simeão é um momento de alegria
porque ele confirma que tu és o Filho de Deus, mas também é um momento de dor
quando Maria escuta o anúncio de sua dor: "Uma espada transpassará a tua
alma". Peçamos a Maria que nos assista nos momentos difíceis, nos
aconselhe nas dúvidas e incertezas nos livre de todo erro. Senhor tu és
anunciado como “Luz do mundo” por isso vamos iniciar a celebração com a bênção
de nossas velas.
1. Situando-nos
brevemente
Neste domingo, quarenta dias depois do Natal, celebramos
o mistério da Apresentação de Jesus no templo, nos braços de Maria. Esta festa
situa-se ainda no contexto do Natal, apresentando outro aspecto da manifestação
do Senhor: humano como nós, nasce de uma mulher e submisso à tradição da lei.
Esta festa já era celebrada nos finais do século IV, em Jerusalém,
e, mais tarde, foi assumida por toda a Igreja. No século V, com inspiração no
cântico de Simeão, eram usadas tochas, tornando a celebração mais expressiva:
celebremos o mistério deste dia com lâmpadas flamejantes, dizia São Cirilo de
Alexandria (+444). O Missal atual conserva, com este sentido, o rito inicial da
benção das velas.
Com a reforma do Concílio Vaticano II, a festa que, por
muito tempo tinha o título de “Purificação da Bem aventurada Virgem Maria”, em
conformidade com a prescrição da lei judaica de os pais apresentarem o filho
recém-nascido, quarenta dias após o nascimento, e da purificação de sua mãe,
foi mudado para a Apresentação do Senhor. Fica assim mais evidente que se trata
de uma festa do Senhor, cujo mistério se inscreve na dinâmica da Páscoa.
Contudo, entre nós esta festa mantém ainda um acentuado
caráter mariano, recebendo vários títulos, como: Nossa Senhora das Candeias,
Nossa Senhor da Luz, Candelária, Nossa Senhora de Belém.
Com nossas velas acesas, entramos no mistério de Cristo,
deixando-nos iluminar por ele, luz do mundo. Maria, com seu silêncio e
meditação, nos ensina como acolhê-lo, reconhecê-lo e oferecê-lo.
2. Recordando a
Palavra
Nos antigos tempos históricos, a consagração do
primogênito pode ter sido um sacrifício humano, como nos lembra o sacrifício de
Isaac. Maria apresenta a Deus o filho Jesus. Oferece-o a Deus e sua oferta é
uma renúncia, um sofrimento que a levará aos pés da cruz. A cruz será a espada
que traspassará seu coração de mãe. Este filho primogênito será o memorial
cotidiano da libertação da grande escravidão. Ele não será poupado.
A purificação era um rito destinado somente à mãe (cf.
Lv 12, 1-8). A criança devia ser resgatada (cf. Nm 18,15). Lucas registra,
cuidadosamente, que os pais de Jesus, bem como os pais de João, cumpriram todas
as prescrições da Lei.
Relatando a apresentação de Jesus ao Templo, Lucas quer
salientar o zelo dos pais em obedecer à missão que Deus lhes confiou. A
narrativa centraliza o primeiro ato cultural de Jesus na Cidade Santa, lugar do
acontecimento pascal.
Todo primogênito devia ser consagrado a Deus, conforme
Ex 13,2: “Consagra-me todo primogênito: todo o primeiro parto entre os
israelitas [...] será meu”. Em Levítico 12,8 lemos que, se a mãe “não dispuser
de recursos suficientes para oferecer um cordeiro tomará duas rolas ou dois
pombinhos, um para o holocausto e outro para o sacrifício pelo pecado. O
sacerdote fará por ela o rito de expiação e ela ficará purificada”. Maira faz a
oferenda dos pobres para ser purificada da impureza legal advinda do parto.
Lucas se refere a Simeão com expressões próprias para
designar um profeta. O Espírito Santo lhe revelara que veria o Cristo do
Senhor, aquele que o Senhor ungiu para uma missão de salvação. O Messias que
irá instaurar o Reino de Deus.
Simeão, tomando o menino nos braços, entoa um hino de
ação de graças, pautado em Isaías, que define a salvação universal trazida pelo
Messias Jesus: a salvação é anunciada aqui, pela primeira vez, em Lucas. Ela só
será claramente proclamada a partir do mistério pascal – Lc 24, 47. A missão de
Jesus será acompanhada de hostilidade e perseguição. Simeão termina sua
profecia declarando que uma espada traspassará a alma de Maria. Nesta ocasião,
Simeão anuncia a missão messiânica universal de Jesus, atribuindo-lhe os
títulos luz das nações e glória do povo de Israel.
Também se faz presente uma mulher consagrada a Deus e
interprete de seus desígnios, com uma apresentação minuciosa: a profetisa Ana,
filha de Fanuel, da tribo de Aser, viúva, com oitenta e quatro anos, número
perfeito de números perfeitos (7 vezes 12). Fanuel é uma palavra hebraica que
significa “face a face com Deus”, ou “o rosto de Deus”, e Aser significa
felicidade, alegria.
A apresentação de Ana com tanto esmero, oferece a dimensão,
a importância e o sentido profundo da apresentação do Menino. A existência de
Jesus é a realização da visita de Deus. Poderemos vê-lo face a face, com ele
conviver na alegria e na felicidade.
Ana não se afastava do templo, ideal de todo israelita
perfeito, cf. Sl 23 (22), 6b: “Minha morada é a casa do Senhor por dias sem
fim”. No templo, Ana servia Deus com orações e jejuns; louvava Deus e falava do
menino a todos que viviam na esperança do Messias, os anawin.
Maria e José, depois de cumprirem a lei, voltaram para
Nazaré, na Galileia, onde o menino cresceu e tornou-se forte, cheio de
sabedoria, e a graça do Pai estava com ele.
Malaquias, cerca de 450 a.C, proclama sua mensagem
depois do exílio, quando o Templo está reconstruído, mas o culto está afastado
do projeto de Deus e a convivência social totalmente estragada. A profecia de
Malaquias anuncia a chegada do “dia do Senhor”, vinda do juízo de Deus. Chama
os sacerdotes à conversão. É preciso que o Templo e o sacerdócio sejam
purificados, para isso, um mensageiro, tido como a volta de Elias, há de
preceder esse dia do Senhor.
O Salmo 24 (23), liturgia de entrada no santuário, canta
a entrada do Rei da Glória e convoca as portas a se abrirem. Quem é esse Rei da
Glória? É o Senhor: o forte e valente, é o Senhor dos exércitos!
Em Hebreus nos é revelado que Jesus assume plenamente
nossa condição humana. Leva às últimas conseqüências sua “quenose”, seu
esvaziamento na encarnação e no sofrimento. Torna-se nosso irmão.
Assumindo nossa existência, na entrega até a morte,
tornou-se o sumo sacerdote fiel e misericordioso. É ele que santifica nossa
existência e apaga todo nosso pecado, o pecado do mundo, e nos socorre e nos
faz entrar em comunhão com o Pai.
3. Atualizando a
Palavra
A festa da apresentação do Senhor enche-nos novamente do
espírito natalino. O conjunto desta festa é de alegria, mesmo que uma espada
paire sobre a vida de Maria. É festa de pureza e de luz. É festa que une o
início e a plenitude da vida humana. Festa da família, na qual se reúnem
crianças, jovens adultos e idosos, cada um com sua preciosa contribuição para
que se realize o projeto de Deus na humanidade. Ao mesmo tempo, é festa que
evoca o mistério de Deus encarnado em Jesus de Nazaré.
Ao nascer, Jesus se manifestou, em primeiro lugar, aos
pastores que eram pobres e excluídos. Agora, ao ser apresentado no Templo,
revela-se, em primeiro lugar, não aos levitas nem aos sacerdotes que executaram
os ritos da purificação de Maria e do resgate do Menino, mas os dois “pobres de
Deus”, os anciãos Ana e Simeão.
Os dois pertenciam aos círculos dos anawin e esperavam a libertação de Israel. O lugar da nova
revelação messiânica não é o campo aberto, a manjedoura, entre trabalhadores
pobres, mas é o Templo.
O nome ‘Simeão’ significa “escutador” (“O Senhor escutou”, Cf. Gn 29,33),
aquele que vive atentamente à escuta dos sinais dos tempos, dos acontecimentos
como Palavra viva de Deus. É idoso justo, piedoso e esperançoso pela consolação
de Israel. Vivia à espera e à escuta. Foi ao Templo, e, ao ver aquele Menino,
pegou-o nos braços: por isso, os padres gregos dão a Simeão o título de
Theodóchos = recebedor de Deus.
Também, Ana, profetisa, uma velhinha que andava
sintonizada com a Palavra de Deus, chegou carregada de esperança. Ana significa
“graça”. Com tanta intimidade com Deus ‘Também a profetisa Ana, serena e feliz,
viu aquele Menino. Diz o evangelho que se pôs a falar dele a todos os que
esperavam a libertação de Jerusalém!
Hoje, onde encontramos Ana e Simeão? Em nossos templos?
Em nossas famílias? Na sociedade? Como os ouvimos? Que lugar ocupam neste mundo
da globalização do bem estar e da beleza?
“Esta é a festa da alegria e da esperança acumulada e
realizada. É a festa da Luz. Simeão e Ana viram a Luz e exultavam de alegria.
Hoje somos nós que nos chamamos Simeão e Ana. Somos nós que recebemos esta Luz
nos braços, e que entramos na família da felicidade para viver pertinho de
Deus, rosto a rosto com Deus, escutadores atentos do bater do coração de Deus,
[...] Fevereiro é um mês de alegria, de apresentação e encontro, de consagração
e contemplação. Num mundo triste e cansado como o nosso, Maria, José e o
Menino, Simeão e Ana são ícones de felicidade, que nos vêm dizer que se cresce
não apenas em idade, mas também em sabedoria e graça!” (Antonio Couto, em “Mesa de Palavras.file.wordpress”).
De São Sofrônio,
bispo do século VII (Orat.
3, de Hypap., 6.7: PG, n.87, 3, 3291-3293) colocamos o sermão desta festa,
centrado em nosso encontro com Jesus Cristo, luz do mundo e luz de nossas vidas:
Recebamos a luz
clara e eterna: “Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o
mistério do encontro do Senhor, corramos para ele cheio de entusiasmo. Ninguém
deixe de participar deste encontro, ninguém recuse levar sal luz.
Acrescentamos
também algo no brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que
se aproxima e ilumina todas as coisas; ele dissipa as trevas do mal com a sua
luz eterna, e também manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr
ao encontro com Cristo.
Do mesmo modo que
a Mãe de Deus, Virgem imaculada, trouxe nos braços a verdadeira luz e a
comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados pelo seu
fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos
pressurosos ao encontro daquele que á verdadeira luz.
Realmente, a luz
veio ao mundo (Cf. Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol que
nasce do alto nos visitou (Cf. Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas. É
este o significado do mistério que hoje celebramos. Por isso, caminhamos com
lâmpadas nas mãos, por isso, acorremos trazendo as luzes, não apenas
simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar o
esplendor maior que dela nos virá no futuro. Por este motivo, vamos todos
juntos, corremos ao encontro de Deus.
Chegou a
verdadeira luz, “que veio ao mundo a todos iluminar” (Jo 1,9). Portanto, irmãos,
deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós. Que ninguém fique
excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado na noite. Mas
avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos ao seu
encontro e, com o velho Simeão, recebamos a luz clara e eterna. Associemo-nos à
sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da
luz, que enviou a luz, verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez
participantes do seu esplendor.
A salvação de
Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence,
a nós que somos o novo Israel. Também fez com que víssemos, graças a ele, essa
salvação e fossemos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa. Assim aconteceu com
Simeão que, depois de ver a Cristo, foi liberado dos laços da vida presente.
Também nós,
abraçando pela fé a Cristo Jesus que nasceu em Belém, de pagãos que éramos, nos
tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a salvação de Deus Pai – e vemos
com nossos próprios olhos o Deus feito homem. E porque vimos a presença de Deus
e a recebemos, por assim dizer, nos braços de nosso espírito, somos chamados de
novo Israel. Todos os anos celebramos novamente esta festa, para nunca nos
esquecermos daquele que um dia há de voltar”.
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Com velas acesas, hoje somos apresentados e oferecidos
com Cristo ao Pai, suplicando que sejamos plenamente renovados em sua Páscoa e
iluminados por seu Espírito, como lâmpadas flamejantes.
Em cada Eucaristia, ao apresentarmos os dons do pão e
vinho, frutos da terra e de nosso suado trabalho, revivemos o gesto de oferenda
de Maria e José. Ao recebermos em troca o sacramento do corpo e sangue de
Cristo, contemplamos e participarmos, agradecidos da salvação como Simeão e
Ana, enquanto aguardamos sua vinda gloriosa.
Nossa atitude é de alegria cheia de esperança, inspirada
pelo casal de idosos, o pequeno gesto fiel, ao acolherem o Menino em seus
braços e também de humilde oferenda, como Maria e José. Apresentando-nos em
ação de graças, com Cristo ao Pai. O cuidado e a defesa da vida em todas as
fases e a irradiação da luz de Cristo em todas as nossas ações, são
conseqüências desta celebração, na liturgia da vida.
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