20º
DOMINGO DO TEMPO COMUM - B
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“Feliz aquela
que acreditou”
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Leituras:
(Missa do dia)
Apocalipse: 11, 19a; 12, 1.3-6a.10ab;
Salmo 44 (45), 10bc.
11.12ab.16 (R/ 10b);
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 15, 20-27a;
Lucas
1, 39-56.
COR LITÚRGICA: Branca ou Dourada
A
Igreja celebra hoje em Nossa Senhora a realização do Mistério Pascal. Maria a
escolhida de Deus, é elevada ao céu em toda sua grandeza e dignidade. Maria do
serviço e da doação total, Maria da gruta de Belém, Maria da cruz do Calvário.
É essa a Maria simples e humilde que devemos ter como exemplo e nos identificar
no dia a dia. Rendemos graças a Deus pela vocação para a vida consagrada:
religiosos (as) e consagrados (as) seculares.
1. Situando-nos
brevemente
“Alegremo-nos todos nos Senhor, celebrando este dia
festivo em honra da Virgem Maria; os anjos se alegram pela sua Assunção e dão
glória ao Filho de Deus” (antífona de entrada).
Ao celebrar a solenidade da Assunção de Nossa Senhora, a
Igreja reconhece o mistério da Páscoa plenamente realizado nela. De fato,
Maria, glorificada na Assunção, atingiu a plenitude da salvação, até a
transfiguração do corpo. “Desde toda a eternidade unida misteriosamente a Jesus
Cristo, pelo mesmo desígnio de predestinação, a augusta Mãe de Deus, imaculada
na concepção, virgem inteiramente intacta na divina maternidade, generosa
companheira do divino Redentor, que obteve pleno triunfo sobre o pecado e suas
consequências, ela alcançou ser guardada imune da corrupção do sepulcro, como
suprema coroa de seus privilégios. Semelhantemente a seu Filho, uma vez vencida
a morte, foi levada em corpo e alma à glória celeste, onde, rainha, refulge à
direita do seu Filho, o imortal rei dos séculos” (Da Constituição Apostólica
Munificentíssimus Deus, do Papa Pio XII, Século XX. Oficio das Leituras da
Solenidade da Assunção de Nossa Senhora).
Com a Bem-aventurada virgem Maria cantamos as maravilhas
que o Senhor fez por nós, sobretudo fazendo-nos participar integralmente do mistério
pascal de seu Filho, Jesus Cristo. Bendizemos a Deus, porque Ele reaviva em nós
a esperança de mudanças radicais na sociedade em que vivemos.
2. Recordando a
Palavra
O Evangelho de Lucas pertence às narrativas sobre o
anúncio e o nascimento de João Batista e de Jesus (cap. 1-2), as quais preparam
para acolher Jesus, o Messias Salvador. Sublinha o caminho percorrido por
Maria, associada, de modo particular, ao mistério da encarnação, paixão e
glória de seu Filho Jesus.
Como modelo exemplar de discípula, Maria escuta e
pratica a Palavra do Senhor. A fé em Deus e a solidariedade aos sofrimentos e
anseios do povo levam Maria a participar ativamente dos planos divinos de
salvação.
Maria dirige-se apressadamente à montanha de Judá, para
visitar Isabel e juntas celebrarem a ação de Deus em suas vidas. A saudação de
Maria enche de paz e alegria toda a casa. Até João Batista, o precursor de
Jesus, “salta de alegria no ventre de Isabel” (cf. 1,41).
Maria, como a arca da aliança, é portadora da presença
do Senhor que visita e traz salvação. Isabel, iluminada pelo Espírito Santo,
proclama Maria “Bendita entre todas as mulheres e bendito o fruto do seu
ventre” (cf. 1,42). Ela termina exclamando: “Feliz és tu que acreditaste, pois
será cumprido o que foi prometido pelo Senhor” (cf. 1,45).
Por meio do cântico do Magnificat (1,46-55), Maria louva
e agradece a Deus Salvador, pelas maravilhas que realiza ao longo da história.
Maria exulta como Ana (cf. 1Sm 2, 1-10) e com todos os que esperam a salvação.
Ela representa os pobres e os humildes, que confiam em Deus e se dispõem para
servir seu Reino com generosidade.
A humilde serva Maria (cf. 1,38) é exaltada porque,
mediante seu Filho, Deus revela a Boa-Nova da salvação ao povo sofrido. A
misericórdia manifestada a Maria estende-se a todos “aqueles que temem a Deus”.
Maria reconhece o longo caminho de conversão, para
acolher o dom gratuito do amor de Deus oferecido a todos. O Senhor mostrou a
força de seu braço, “dispersou os soberbos de coração, derrubou do trono os
poderosos e elevou os humildes; aos famintos encheu de bens, e despediu os
ricos de mãos vazias” (cf. 1, 52-53). Deus realizou um novo êxodo, demonstrando
sua predileção pelos pequenos e oprimidos, a ser revelada em seu Filho Jesus e
na missão de seus discípulos.
A situação dos oprimidos ressaltada na pessoa de Maria
será transformada pela adesão a Jesus e a seu projeto salvífico. Jesus, o
Messias, o Ungido pelo Espírito, anuncia a Boa Notícia da misericórdia, da compaixão
de Deus aos pobres (Cf, 4,18). As promessas divinas feitas desde os tempos de
Abraão (Cf. 1,54) cumprem-se de forma nova e profunda na atuação de Jesus (Cf4,
21), que culmina com sua morte redentora na cruz.
A leitura do livro do Apocalipse mostra a situação das
comunidades cristãs, no fim do século I, quando o livro foi escrito. Diante das
hostilidades e perseguições por causa do anúncio da Boa-Nova de Cristo, o autor
orienta a cultivar a esperança e a manter a resistência. O sinal da sétima
trombeta tocada pelo anjo (Cf. 11,15s) anuncia a salvação, pois o reinado
pertence a Deus Pai e ao Messias. A “arca da aliança’ simboliza a presença
permanente do Senhor, que conduz a história humana.
A mulher, vestida de sol e corada com doze estrelas,
manifesta o novo povo de Deus, a Igreja. A ação de Deus, revelada na libertação
da dominação do Egito (Cf. Ex 19,4) e, de modo especial, na ressurreição de
Cristo, ilumina e fortalece a missão das comunidades.
O dragão, adornado com chifres e diademas, representa os
poderes opressores dos impérios deste mundo. No entanto, o reinado deixa de ser
dos poderosos, pois “agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso
Deus, e o poder do seu Cristo” (12,10).
O Salmo 44 (45), que realça a celebração nupcial de um
rei com uma princesa, adquiriu sentido messiânico, sendo aplicado a Cristo, o
verdadeiro rei que celebra as núpcias da aliança definitiva com a humanidade (Cf.
Ap 19,7; 21, 2-9).
A leitura da primeira Carta aos Coríntios é uma parte da
reflexão sobre a ressurreição, desenvolvida ao longo do capítulo quinze. Paulo
sublinha a participação no mistério da ressurreição, que decorre da Páscoa de
Jesus e marca o início da nova humanidade. “Cristo ressuscitou dos mortos como
primícias dos que morreram” (15,20), esperança de nossa ressurreição. Ele
ascendeu ao céu e ofertou a si mesmo a Deus como representante de todos os seus
seguidores e seguidoras.
A adesão a Cristo leva a percorrer o caminho que conduz
à vida plena em Deus. Os que pertencem a Cristo, por ocasião de sua vinda,
participarão também de sua ressurreição. Cristo entregará a realeza a Deus Pai,
depois de vencer todo poder e forças opostas a seu projeto salvífico. A morte é
o último inimigo a ser destruído. Cristo, por seu mistério pascal, venceu a
morte e o pecado para que “Deus seja tudo em todos” (15,28).
3. Atualizando a
Palavra
A solenidade da glorificação de Maria convida a
proclamarmos a obra grandiosa do Senhor, que impele a trilharmos o caminho da
vida nova, enquanto peregrinamos em busca da comunhão definitiva.
O exemplo de Maria, a mãe do Salvador que permaneceu
fiel ao projeto do Pai, ensina a sermos solidários diante das necessidades dos
irmãos sofredores. O sonho de esperança de um mundo novo começa a se tornar
realidade com nosso compromisso a serviço da justiça e da fraternidade.
Como em Caná da Galileia, quando Maria orientou: “fazei
tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5), ela continua o ministério com o Filho
glorificado junto ao Pai. A Lumen Gentium,
no número 62, destaca que “Maria, depois de ter sido elevada ao céu, exerce a
missão como intercessora para alcançar-nos os dons da salvação eterna. Por sua
maternal caridade, cuida dos irmãos de seu Filho que ainda peregrinam na terra,
rodeados de perigos e dificuldades até chegarem à pátria bem-aventurada”.
A celebração da assunção de Maria evoca as raízes da fé
dos primeiros séculos da Igreja. A devoção a Maria, como a mãe do Senhor,
desenvolveu-se progressivamente no seio da comunidade cristã até a consolidação
do título Theotokos, “mãe de Deus”,
no Concílio de Éfeso em 431.
O Papa Pio XII, ao proclamar o dogma da assunção de
Maria em 1950, reconheceu seu caminho exemplar de fé e esperança. Maria,
glorificada junto ao Pai, nos ensina a adesão total à Palavra que leva a se
colocar a serviço com generosidade, combatendo as causas da desigualdade e da
injustiça que contradizem o ensinamento de Cristo.
Neste dia dedicado aos religiosos e às religiosas, neste
Ano da Vida Consagrada, as palavras do Papa Francisco são apelo a renovar o
compromisso com a alegria do Evangelho. “Que seja sempre verdade aquilo que eu
disse uma vez: Onde estão os religiosos, há alegria”. Somos chamados a
experimentar e mostrar que Deus é capaz de preencher nosso coração e fazer-nos
felizes sem necessidade de procurar em outro lugar nossa felicidade; que a autêntica
fraternidade vivida em nossas comunidades alimenta nossa alegria; que nossa
entrega total ao serviço da Igreja, das famílias, dos jovens, dos idosos, dos
pobres nos realize como pessoas e dê plenitude à nossa vida.
Também nós sentimos dificuldades, mas nisto mesmo,
deveremos encontrar a “perfeita alegria”, aprender a reconhecer o rosto de
Cristo, que em tudo se fez semelhante a nós e, consequentemente, sentir a
alegria de saber que somos semelhantes a Ele que, por nosso amor, não se recusou
a sofrer na cruz.
Em uma sociedade que ostenta o culto da eficiência, da
saúde, do sucesso e que marginaliza os pobres e exclui os “perdedores”, podemos
testemunhar, através de nossa, a verdade destas palavras da Escritura: “Quando
sou fraco, então sou forte” (2Cor 12,10) (Cf. Carta Apostólica às Pessoas
Consagradas, para a Proclamação do Ano da Vida Consagrada Vaticano, 21 de
novembro de 2014).
Durante a visita ao Sri Lanka e às Filipinas, o Papa
Francisco sublinhou que a conversão à novidade do Evangelho implica um encontro
diário com o Senhor na oração. Os santos nos ensinam que isto é a fonte de todo
o zelo apostólico. Para os religiosos, viver a novidade do Evangelho significa
encontrar incessantemente, na vida da comunidade e em seus apostolados, o incentivo
para uma união cada vez mais estreita com o Senhor na caridade perfeita.
Para todos nós, isto significa viver de tal forma que
espelhemos a pobreza de Cristo, cuja vida estava inteiramente focalizada em
fazer a vontade do Pai e servir aos outros. Tornar-se pobre permite nos
identificarmos com os últimos dos nossos irmãos e irmãs e anunciar a
radicalidade do Evangelho em uma sociedade acostumada à exclusão, à polarização
e a uma desigualdade escandalosa. (Cf. Homilia na Missa aos Bispos, Sacerdotes,
Religiosos e Religiosas. Manila, Filipinas, 16 de janeiro de 2015).
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
A celebração litúrgica, assim como o encontro de Maria
com Isabel, é, para nós, momento privilegiado de contemplação do mistério de
Deus presente em nossa vida e na vida das pessoas que compartilham conosco a
mesma fé.
Que sejamos bem-aventurados por acreditar que Deus
cumpre sua promessa. Na ressurreição de Jesus, temos a concretização da
promessa de Deus realizada, pois Deus não abandonou Jesus à morte e se Cristo
venceu a morte, nós, venceremos juntamente com Ele.
Ao participar do mistério de Cristo, recebemos de Deus a
alegria e a esperança oferecidas aos pobres e aos humildes. Deus nos oferece a
salvação em seu Filho Jesus, mas é preciso acolhê-la sentar-se à mesa.
Maria, a mãe de Deus, já participa do banquete do Reino,
com seu Filho, pois foi levada à glória do céu em corpo e alma (cf. oração do
dia). Quanto a nós, na Eucaristia já antegozamos a alegria reservada a todos os
que se dispõem a receber o Filho.
Alimentados com o sacramento da salvação, nós que ainda
peregrinamos aqui na terra, temos, no céu, um modelo de fé e fidelidade a Deus:
“Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi levada à glória do céu. Aurora e
esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo
ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de
modo inefável, vosso próprio Filho feito homem, autor da vida” (Oração
pós-comunhão e prefácio).
Temos de Deus, a garantia de que a salvação atinge a
pessoa inteiramente. Ele dispersa os soberbos de coração, derruba os poderosos
do trono, eleva os humildes, enche de bens os famintos, despede os ricos de
mãos vazias, socorre Israel seu servo, pois é misericordioso e é o Senhor da palavra
– dito e feito (cf. Lc 151-55).
Maria, a mulher pobre, livre e obediente, acreditou.
Cabe a nós também termos “a estranha mania de ter fé na vida”, vida que nos é
doada por Deus.
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