Incomparavelmente superior a todas as maravilhas do universo é a graça, criatura que nos confere uma participação na vida divina, incriada
Jesus e a samaritana - Igreja de Nossa Senhora
da Encarnação, Granada (Espanha) |
Incomparavelmente superior a todas as maravilhas da criação - nas quais há sempre um reflexo visível das "perfeições invisíveis de Deus" (Rm 1, 20) - é o "dom de Deus", isto é, a graça, criatura que transcende todo o criado e nos confere uma participação na vida divina, incriada. A menor "gota" de graça supera o bem natural do universo inteiro.
Portanto, acompanhar o desenvolvimento da graça nas almas dos justos é um dos mais apaixonantes meios de conhecer a História da Igreja, além de uma excelente forma de amor a Deus.
Quis Ele tornar-nos participantes dos seus méritos
Voltemos, agora, o olhar ao alto da Cruz. Após Nosso Senhor Jesus Cristo ter proferido seu "consummatum est" (Jo 19, 30), a lança do soldado abriu-Lhe o costado, de onde jorraram sangue e água, símbolo do começo e do crescimento da Igreja.2 Foi, com efeito, "do lado de Cristo adormecido na Cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja".
Ao gênero humano, até então nas trevas do pecado, tornou-se acessível o caminho da virtude. Abriram-se as portas do Céu. Pela Redenção, a Lei Antiga é substituída pela Lei da graça.
Em seu desígnio salvador, quis Cristo constituir a Santa Igreja, sociedade visível, à maneira de Corpo cuja Cabeça é Ele próprio (cf. Ef 5, 23.30; Col 1, 18), para que, de sua plenitude, todos os membros recebêssemos graça sobre graça (cf. Jo 1, 16). Assim, tornou-nos também participantes dos infinitos méritos de sua vida, Paixão e Morte.4 Pois, na medida em que nós, enquanto membros, estamos unidos a Nosso Senhor, "não apenas a Paixão de Cristo nos é comunicada, mas também o mérito de sua vida".
"Brilhe vossa luz diante dos homens"
Conforme nos ensina a doutrina católica, todos os homens que estão em estado de graça possuem um misterioso vínculo entre si, procedente dessa união com a Cabeça. "Uma admirável e discreta circulação de bens espirituais os une, como estão unidas as diversas partes do corpo humano para a circulação dos líquidos e do sangue que repartem para todos os membros os eflúvios de vida" - explica o padre Monsabré. "Este mistério se chama Comunhão dos Santos".
A cada momento, esclarece Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, todo homem está influenciando seu próximo ou recebendo influências dele. "Está sendo para ele ora pastor, ora ovelha; ora mestre, ora discípulo; continuamente dando e recebendo algo".
Segundo o padre Monsabré, o "capital social" do qual participam os diversos membros da Igreja na Comunhão dos Santos compõe-se de três categorias de bens: "as boas obras, por via do exemplo e da imitação; as graças, por via de intercessão; os méritos, por via de substituição".8 Embora as duas últimas sejam de fundamental importância, limitar-nos-emos a tratar neste artigo da primeira delas: as boas obras.
"Brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus" (Mt 5, 16) - recomendou o Divino Mestre aos seus discípulos. São João Crisóstomo interpreta estas palavras como um convite: "haja em vós grande virtude, arda em vossos corações o fogo da caridade e sua luz brilhe diante dos homens. Porque, quando a virtude alcança esse grau de perfeição, é impossível mantê-la oculta, por mais que quem a pratica queira ocultá-la". Assim, os Apóstolos anunciavam o Reino de Deus sobretudo pelo exemplo de suas vidas.
Foi, com efeito, "do lado de Cristo adormecido na Cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja"
Loginus crava a lança no costado de Jesus - Catedral de León (Espanha)
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Ir. Patricia Victoria Jorge Villegas, EP
( parte do artigo )
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