Qual a origem do Carnaval e qual a atitude da Igreja diante dele?
Origem: antes do mais,
diga-se algo sobre a etimologia de “Carnaval”.
Comumente os autores explicam este nome a partir dos termos
do latim tardio “carne vale”, isto é, “adeus carne” ou “despedida da carne”;
esta derivação indicaria que no Carnaval o consumo de carne era considerado
lícito pela última vez antes dos dias de jejum quaresmal. –
Outros estudiosos
recorrem à expressão “carnem levare”, suspender ou retirar a carne: o Papa São
Gregório Magno teria dado ao último domingo antes da Quaresma, ou seja, ao
domingo da Quinquagésima, o título de “dominica ad carnes levandas”; a
expressão haveria sido sucessivamente, carneval ou carnaval”. –
Um terceiro
grupo de etimologistas apela para as origens pagãs do Carnaval: entre os gregos
e romanos costumava-se exibir um préstito em forma de nave dedicada ao deus
Dionísio ou Baco, préstito ao qual em latim se dava o nome de currus navalis:
donde a forma Carnavale.
Como se vê, não é muito clara a procedência do nome.
Quanto à realidade por
este designada deve-se dizer o seguinte:
As mais antigas notícias de pompas semelhantes às que hoje
chamamos “Carnaval” datam, como se crê, do séc. VI antes de Cristo, na Grécia:
as pinturas de certos vasos gregos apresentam figuras mascaradas a desfilar em
procissão ao som de música as pompas do culto do deus Dionísio, com suas
fantasias e alegorias, são certamente anteriores à era cristã. Entre os gregos,
análogas festividades eram ocasionadas pela entrada de novo ano civil (mês de
janeiro) ou pela aproximação da primavera e a consequente despedida do inverno.
Elementos da religiosidade pagã e da mitologia costumavam inspirar essas
celebrações; em geral os povos não-cristãos intencionavam, com seus ritos
exuberantes, expiar as faltas cometidas no inverno ou no ano anterior e pedir
aos seres superiores a fecundidade da terra e a prosperidade para a primavera e
o novo ano. Disto dão testemunho os costumes vigentes ocasião de tais
solenidades: para exprimir a expiação e o cancelamento das culpas passadas, por
exemplo, encenava-se a morte de um fantoche ou boneco que, depois de “haver
feito seu testamento” e após uma paródia de transporte fúnebre, era queimado ou
lançado à água ou de qualquer modo destruído (rito celebrado geralmente no dia
1º de janeiro) Em algumas regiões procedia-se à confissão pública dos vícios:
matava-se um peru, o qual, antes de morrer, proclamava pela boca de um dos
cidadãos os malefícios da gente do país. A denúncia das culpas tomava não raro
um caráter pilhérico e teatral: era, por exemplo, o cômico Arlequim que, antes
de ser entregue à morte confessava os seus pecados e os alheios. Apesar das
intenções sérias que inspiraram inicialmente tais manifestações públicas,
compreende-se que elas tenham mais e mais dado lugar à licenciosidade e a
deploráveis abusos, fomentados elo uso de máscaras, trajes alegóricos, pela
exibição de préstitos, peças de teatro, etc. Em tese, as danças e o tripudiar
característico dessas festas deviam servir de exortação ao povo para que cheio
de alegria iniciasse a nova estação do ano. As religiões ditas “de mistérios”
provenientes do Oriente e muito difusas no Império Romano, concorreram não
pouco, pelo fato de seguirem rituais exuberantes, para o incremento das
festividades carnavalescas. Estas, em consequência, tomaram o nome de “pompas
bacanais” ou “saturnais” ou “lupercais”. As demonstrações de alegria porém,
tornando-se subversivas da ordem pública, o Senado Romano, no séc. II a.C.
resolveu combater os bacanais; os adeptos destes passaram a ser acusado de
graves ofensas contra a moralidade e contra o Estado.
Dado o motivo de tais festividades populares, entende-se que
a data de sua celebração tenha sido vária: podia ser o dia 25 de dezembro (dia
em que os pagãos celebravam Mitra ou o Sol Invicto) ou o dia 1º de janeiro
(começo do novo ano), ou 6 ou 17 de janeiro ou 2 de fevereiro (datas religiosas
pagãs) ou algum termo pouco posterior.
Atitude da Igreja
Quando o Cristianismo se difundiu, já encontrou tais orgias
no uso dos povos. Por princípio, o Evangelho não é contrário às demonstrações
de júbilo, contanto que não degenerem em celebrações libertinas e pecaminosas.
Por isto, os missionários não se opuseram formalmente à realização do Carnaval,
mas procuraram dar-lhe caráter novo, depurando-o de práticas que tinham sabor
nitidamente supersticioso ou mitológico e enquadrando-o dentro da ideologia
cristã; assim, como motivo de alegria pública, os pastores de almas indicavam
por vezes algum mistério ou alguma solenidade do Cristianismo (o Natal, por
exemplo, ou a Epifania do Senhor ou a Purificação de Maria, dita “festa da
Candelária”, em vez dos mitos pagãos celebrados a 25 de dezembro 6 de janeiro u
2 de fevereiro). Por fim, as autoridades eclesiásticas conseguiram restringir a
celebração oficial do Carnaval aos três dias que precedem a quarta-feira de
cinzas (em nossos tempos alguns párocos bem intencionados promovem, dentro das
normas cristãs, folguedos públicos nesse tríduo, a fim de evitar sejam os fiéis
seduzidos por divertimento pouco dignos).
Como se vê, a Igreja não instituiu o Carnaval; teve, porém,
de o reconhecer como fenômeno vigente no mundo em que ela se implantou. Sendo
em si suscetível de interpretação cristã, ela o procurou subordinar aos
princípios do Evangelho; era inevitável, porém, que os povos não sempre
observassem o limite entre o que o Carnaval pode ter de cristão e o que tem de
pagão. Está claro que são contrários às intenções da Igreja os desmandos assim
verificados Em reparação dos mesmos, foram instituídas a adoração das Quarenta
Horas e as práticas de Retiros Espirituais nos dias anteriores à quarta-feira
de cinzas.
Texto: Prof. Felipe Aquino
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