4º DOMINGO DO TEMPO COMUM
31 de janeiro de 2016
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“Porém, Jesus, passando pelo meio deles, prosseguiu seu caminho” (Lc 4,29)
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Leituras:
Jeremias 1, 4-517.-19;
Salmo
71 (70);
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 12, 31-13,13;
Lucas 4, 21-30.
COR
LITÚRGICA: VERDE
Nesta páscoa semanal de Jesus o
evangelho nos lembra a expulsão de Jesus da sinagoga. Os habitantes de Nazaré
recusam a Palavra de Jesus e tentam lançá-lo no precipício. Sentimos em nossas
vidas, muitas vezes, as consequências da rejeição por causa da justiça, do bem
e da solidariedade com os pobres. Nesta celebração, estamos em comunhão com
aqueles e aquelas que, por causa da justiça, são desprezados. A causa deles é
também nossa causa.
1. Situando-nos
Neste domingo, páscoa semanal continuamos a celebrar o mistério
da manifestação de Jesus como Salvador de todos (as) filho (as) dispersos pelo
mundo. Recordamos o dia em que Ele viveu a experiência de desprezo de rejeição
e de expulsão de sua cidade, consequência de sua encarnação e de sua missão
profética. Na rejeição, a misericórdia se transforma em apelo para que andemos
pelos caminhos do amor, de não violência.
Somos chamados a acolher a salvação, como dom de Deus aberto a
todos, como nos motiva a antífona da entrada: “Salvai-nos, Senhor nosso Deus,
reuni vossos filhos dispersos pelo mundo, para que celebremos o vosso santo nome
e nos gloriemos em vosso louvor” (Sl 105/104,47).
Com tantos os povos e culturas celebremos o louvor de nosso
Deus. Que ele nos dê a coragem e a firmeza de Jesus, para não nos deixarmos
abater pela hostilidade pela rejeição ou por qualquer coisa que enfraqueça
nossa missão de profetas, hoje.
2. Recordando a Palavra
O Evangelho de hoje repete o versículo final ouvido no terceiro
domingo, narrando o acontecimento da sinagoga de Nazaré e lhe dá continuidade.
Depois que leu o trecho de Isaías 61, Jesus diz: “hoje realizou-se essa
Escritura que acabastes de ouvir”. Quem, o ouvia se espantava com a graça que
saia de sua boxa e se perguntavam: “Não é o filho de José?”
O povo tem atitudes contraditórias neste acontecimento: ficam
com os olhos fixos em Jesus, profundamente atentos enquanto ele proclama a
profecia de Isaías. Testemunham e se espantam com as palavras cheias de graça
que ele pronuncia. Por fim, se enfurecem contra ele e querem mata-lo. Qual será
o motivo de tanta fúria dos conterrâneos e contemporâneos de Jesus?
O povo compara a origem humilde de Jesus e a pretensão do
programa de sua vida. O preconceito insinua que a importância e a capacidade de
uma pessoa são determinadas pela origem, berço familiar, profissão, parentesco,
relações e categorias sociais: “O que se pode esperar de um operário de
Nazaré?” (cf. Mc 6, 2-3; Jo 1,46; 7,27s). A palavra de Jesus no versículo 24
lembra um dito popular, conhecido por israelitas gregos e romanos, mostrando
que o destino de Jesus é o mesmo dos profetas (cf. Jr 11, 18-23). Nenhum
profeta é bem recebido pela sua gente.
O povo, rejeitando Jesus, rejeitou também o “ano da graça” que
se concretizou em sua pessoa e ação. Descrevendo a reação do povo, a passagem
se refere ao término da atividade de Jesus em sua terra.
O texto de Jeremias (627 a.C.), no tempo do rei Josias,
apresenta a sua vocação profética, procurando explicar as raízes da sua
atividade contraditória e desconcertante. Sua vocação de profeta parte de uma
experiência da Palavra de Deus que o ultrapassa e o chama à missão, antes que
ele tomasse consciência, e antes mesmo de ter sido formado no ventre da mãe.
O chamado é a destinação feita por Deus que precede, fundamenta
e abarca toda a existência. Ele era muito jovem quando recebeu a vocação, Com a
força de Deus, o profeta não terá medo e enfrentará a força da nas nações, dos
poderosos, dos reis, dos príncipes, dos sacerdotes e do próprio povo. Sua vida
será um aluta constante, mas não será vencido, porque Deus estava com ele para
salvá-lo.
O Salmo 71 (70) nos mostra Deus como o único que salva e
liberta. O salmista, em meio às perseguições, volta-se para o Senhor, porque
nele encontra o apoio desde o seio, desde as entranhas maternas, é a parte
Radical do profeta.
A segunda leitura, da primeira carta aos Coríntios, apresenta o
amor “ágape” como dom por excelência. Esse amor vai além da simples amizade e
supera toa a forma de egoísmo, pois é derramado pelo Espírito em nossos
corações (cf. Rm 5,5). As três afirmações idênticas (cf. 13,1-3) ressaltam que
se trata do amo oblativo, que dá sentido à vida dos que seguem a Cristo. A
caridade tem primazia entre as três virtudes principais, conhecidas como
“teológicas”: a fé, a esperança e o amor. Somente o amor permanece para sempre,
pois “Deus é amor”.
3. Atualizando a Palavra
Jesus diz que hoje se cumpriu a Palavra. Esse “hoje” é o tempo
de Deus na história humana. É o tempo (O Krónos) que se transforma em
experiência significativa: kairós. Isto é, o momento decisivo da graça que
marca o testemunho de vida de Jesus e é convite para que todos, ouvindo o seu
projeto, o aceitem ou o rejeitem.
A aceitação ou a recusa de Jesus Cristo são aceitação ou recusa
fundamentais, feitas no cerne da vida, mudando radicalmente o sentido de nosso
ser e nossa prática. É atitude que envolve atos e se expressa em palavras:
jeito de ser, viver, celebrar e agir no mundo.
A rejeição faz com que as pessoas sofram no seu interior e, por
vezes, acabam desistindo dos seus sonhos. A rejeição pode ser aquilatada em
diferentes ângulos: como obstáculo que nos leva à desistência ou como uma
oportunidade de qualificação e prosseguimento do projeto de vida. Jesus, o
profeta rejeitado por seus conterrâneos, não desisti da missão. Observemos que
a rejeição a Jesus e a seu projeto culmina em Jerusalém, onde ele é crucificado
e morto por seus opositores (Cf.
BERTOLINI. Op. Cit., p.590).
Normalmente, a rejeição é arquitetada por aqueles que desejam
“domesticar o profeta em favor de seus interesses”, O povo de Nazaré esperava
por um Jesus espetacular, capaz de ações mágicas e miraculosas. E como esperar
isso de uma pessoa comum e conhecida por todos? E Jesus se recusa a cumprir
sinais em benefício próprio; recusa-se a ser ídolo da abundância, do prestigio,
do poder e da riqueza (Cf. Ibidem, p.
590).
A rejeição dos profetas serviu como oportunidade para que Deus
se manifeste àqueles que o reconhecem e acolhem. No Evangelho de Lucas, a
rejeição ressalta que Jesus não veio para ser condicionado a um único povo. Sua
Boa-Nova de destina a todos os povos. Deter sua ação libertadora é um
empreendimento impossível: “Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o
seu caminho” (Lc 4,30).
A comunidade que se compromete com Jesus deve ser capaz de
deixar a competição, a busca de sucesso e autopromoção para unir-se
profeticamente nos serviços, nas lutas que tornam reais a arte de amar, a
prática da justiça, dos direitos iguais, da solidariedade e da partilha, do
amor que é maior do que tudo e que jamais passará.
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
Celebrar a Eucaristia é aderir a Jesus, o profeta rejeitado e
morto, com todas as consequências dessa adesão.
Na celebração eucarística a Igreja suplica: “Dai-nos olhos para
ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos
palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a
exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no
serviço a eles. Vossa Igreja seja testemunha viva da verdade e da liberdade, da
justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança de um mundo
novo” (Oração Eucarística para diversas
circunstancias VI D).
A Eucaristia nos abra os olhos, dando-nos consciência de que
somos comunidades proféticas a serviço da libertação dos pobres, oprimidos e
marginalizados. Unindo-nos a todos os profetas e profecias de ontem e de hoje,
renovamos nossa adesão ao seguimento de Jesus, valorizando nossos carismas,
comprometendo-os com o serviço amoroso aos irmãos, enfrentando com serena
coragem as hostilidades próprias do caminho.
“A Misericórdia é profecia de um mundo novo em que os bens da
terra e do trabalho são distribuídos de modo equânime e ninguém fica desprovido
do necessário, porque a solidariedade e a partilha são a consequência concreta
da fraternidade” (Papa Francisco,
discurso em Molise, 07 de julho de 2014).
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