CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA
Nós, católicos, nos acostumamos com muitas das orações que a Igreja nos ensina desde os primeiros tempos, a começar pelo Pai Nosso que Jesus ensinou. E como nos habituamos a elas, nem sempre prestamos muita atenção ao que rezamos ou no significado das palavras que pronunciamos.
Por exemplo, no Pai nosso, pedimos a Deus que nos perdoe como nós perdoamos, mas muitas vezes nós nos negamos a perdoar! Então Deus não nos perdoará também?!
Em outros casos, desconhecemos o real significado das palavras e rezamos automaticamente sem nos darmos conta do compromisso ou da promessa que fazemos. É o caso das orações de consagração que muitas pessoas pensam que consagrar-se é somente pedir a proteção de Deus.
Consagrar, de fato, significa muito mais que isso; significa dedicar ou oferecer, isto é, entregar totalmente algo ou alguém, não retendo para si mais nada.
No Antigo Testamento, após a saída do Egito e entrada na Terra Prometida, Deus ordenou que todos os primogênitos fossem consagrados a Ele (cf. Ex 13,11-16) e, portanto não mais pertencentes aos pais.
Quando, então, se faz uma consagração a Deus ou a Nossa Senhora, está se fazendo uma entrega total definitiva e concordamos que não mais temos controle sobre o que entregamos, dando autorização, a quem consagramos, de tratar o consagrado como propriedade Sua.
Assim sendo, analisemos um pouco mais aprofundadamente a consagração a Nossa Senhora:
Ó minha Senhora:
Senhora porque Mãe de Deus (Concílio de Éfeso – 431dC), de Jesus, verdadeiro Deus, Senhor dos senhores, Deus com o Pai e o Espírito Santo e verdadeiro Homem. Se Ela é minha Senhora, então eu sou Seu servo, Seu escravo.
Ó minha Mãe:
Jo 19,26.27 – “...Mulher, eis aí o teu filho” “...Eis aí a tua mãe...”. Como a Igreja sempre interpretou; nesse momento João representava a todos nós e, portanto posso chamar Maria de Mãe. Somos filhos de Maria desde aquele momento. Não necessito pedir-lhe que me receba como filho, nem me proteja como tal, pois Maria é Mãe amantíssima.
Eu me ofereço, inteiramente, todo a Vós:
Oferecer: dar como oferta, como presente. Sou Teu, já não me pertenço; sou dedicado a Ti.
Inteiramente, todo: não retenho nada comigo nem para mim. Tudo é Teu.
E em prova da minha devoção:
Devoção: veneração, afeição. A Maria, dedicamos culto de dulia (veneração ou ainda hiperdulia - veneração maior que aos santos) e não de latria (adoração – idolatria: adoração aos ídolos).
Eu, hoje, vos dou meu coração:
Dando o meu coração (meus sentimentos, pensamentos, vontades, ideais, etc.) eles já não me pertencem. Maria se torna a Senhora dele, podendo dispor dele como quiser, conforme a Sua vontade.
Consagro a Vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca. Tudo o que sou desejo que a Vós pertença:
Desejo que tudo pertença a Maria e, portanto nada mais é meu. Maria pode dispor de tudo o que sou e que tenho, segundo a Sua vontade à qual me submeto inteiramente.
E porque assim sou Vosso, ó Incomparável Mãe:
Sou de Maria; não só como filho, mas, agora, totalmente. Faço a entrega total, pois creio que Maria é Mãe incomparável no amor, no afeto, na dedicação por nós, assim como foi com Jesus.
Guardai-me, defendei-me, como coisa e propriedade Vossa:
Se entrego tudo a Maria, deixo tudo em Suas mãos maternas e amorosas e, com amor e confiança, peço a Ela que me guarde e defenda como coisa e propriedade Dela, isto é, não mais só como filho que pode a qualquer momento “pedir sua parte na herança e sair de casa” (Lc 15,12) e não mais estar sob a proteção do pai mas, como um objeto precioso (uma obra de arte, a obra prima da criação do Pai) que é guardado cuidadosamente até em um cofre forte (o Coração Imaculado de Maria) para não ser roubado ou danificado pelo inimigo. Como filho, Maria já nos acolhe desde o momento da entrega por Jesus na cruz. Agora quero, de livre e espontânea vontade, que me acolha mais profundamente, como um bem pessoal, uma preciosidade querida que Ela pode dispor como desejar.
Amém.
Que assim seja, pois assim o quero, com a graça de Deus.
A troca de “coisa” por “filho”, que se tem feito algumas vezes, fica fora do contexto da oração, pois se fizermos isso, deveríamos retirar também o termo “propriedade”, pois filho não é propriedade dos pais.
Com a afirmação que queremos ser “guardados como coisa e propriedade” demonstramos toda a nossa entrega a Maria e mais que isso, toda a confiança e fé que temos em Seu amor e cuidado por nós.
Confiamos em Maria assim como Ela confiou em Deus quando disse “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa palavra” (Lc 1,38).
O enfoque de colocar “coisa” não é o de diminuir a dignidade da pessoa humana como pensam alguns humanistas, mas sim, é o de nos entregar, humildemente e com toda a confiança, ao ponto de deixar que Ela nos cuide não só como filhos, mas também como um bem precioso, assim como Deus o faz (“...és precioso para mim...”, “...por ti troco reinos...”)(Is 43, 4).
Para um aprofundamento maior neste ato de consagração, sugiro ler o livreto “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem” de São Luís Maria Grignion de Monfort, Editora Vozes.
Outras orações que podemos fazer para pedir a proteção de Nossa Senhora como Mãe de Deus e nossa.
Outra versão da mesma oração:
Ó minha Senhora, ó minha Mãe, eu me ofereço todo a Vós, e em prova de minha devoção para convosco, eu vos consagro neste dia meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e inteiramente todo o meu ser. E como assim sou vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me e, defendei-me como coisa e propriedade vossa. Amém.
À vossa proteção:
À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Amém.
Lembrai-vos:
Lembrai-vos, ó Piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que tenha recorrido à vossa clemência, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por vós abandonado.
Animado eu, pois, com igual confiança, a vós, Virgem das Virgens, como Mãe recorro, de vós me valho e gemendo sob o peso de meus pecados, me prostro a vossos pés.
Não desprezeis as minhas súplicas, ó mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-vos de ouvi-las propícia e de me alcançar o que vos rogo.
Amém.
Texto elaborado por Etore Antonio Maggiotto
Do Dicionário Aurélio:
Consagrar: Dedicar, ou oferecer a Deus, ou aos santos, por culto ou voto.
Escravo: Que está sujeito a um senhor, como propriedade dele.
Servo: Aquele que não tem direitos, ou não dispõe de sua pessoa e bens.
Propriedade: Direito de usar, gozar e dispor de bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente os possua. Bens sobre os quais se exerce este direito.
A†Ω
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