(Heb 4,9)
Naquele tempo, Jesus passou através das searas em dia de sábado e os discípulos, sentindo fome, começaram a apanhar e a comer espigas.
Ao verem isso, os fariseus disseram-lhe: «Aí estão os teus discípulos a fazer o que não é permitido ao sábado!»
Mas Ele respondeu-lhes: «Não lestes o que fez David, quando sentiu fome, ele e os que estavam com ele?
Como entrou na casa de Deus e comeu os pães da oferenda, que não lhe era permitido comer, nem aos que estavam com ele, mas unicamente aos sacerdotes?
E nunca lestes na Lei que, ao sábado, no templo, os sacerdotes violam o sábado e ficam sem culpa?
Ora, Eu digo vos que aqui está quem é maior que o templo.
E, se compreendêsseis o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício, não teríeis condenado estes que não têm culpa.
O Filho do Homem até do sábado é Senhor.»
O sábado não foi estabelecido como uma prova que permita um discernimento entre a vida e a morte, entre a justiça e o pecado, tal como outros preceitos pelos quais «o homem que os observar viverá» (Lv 18,5), ou morrerá se não os cumprir. Não, o sábado, no seu tempo, foi dado ao povo, tendo em vista o repouso; tal como os homens, os animais também deviam parar de trabalhar (cf. Ex 23,12). [...]
Se o sábado não tivesse sido instituído para o repouso de todos os seres que exercem um trabalho corporal, as criaturas que não trabalham, para serem justificadas, teriam de observar também o sábado desde a origem. Pelo contrário, nós vemos o sol avançar no céu sem cessar, a lua percorrer a sua órbita, as estrelas seguirem o seu curso, os ventos soprarem, as nuvens vogarem no céu, os pássaros voarem, os ribeiros jorrarem das nascentes, as vagas a agitarem-se, os raios caírem e iluminarem a criação, o trovão ribombar violentamente a seu tempo, as árvores darem os seus frutos e cada criatura crescer e fortificar-se. Na verdade, não vemos nenhum ser repousar ao dia de sábado, a não ser os homens e os animais de carga que estão submetidos à lei do trabalho.
A nenhum dos justos do Antigo Testamento foi dado o sábado para nele encontrarem a vida [...], mas a fidelidade ao sábado foi prescrita para que aqueles que se fatigavam com o seu trabalho, os servos, as servas, os mercenários, os estrangeiros e os animais de carga, pudessem descansar e refazer-se. Porque Deus cuida de toda a Sua criação, tanto dos animais domésticos como das feras, tanto dos pássaros como dos animais selvagens. Escuta agora qual é o sábado que agrada a Deus. Isaías disse-o: «Nisto consiste o repouso: deixem descansar os fatigados» (Is 28,12). [...] Guardemos, pois, fielmente, o sábado de Deus; façamos o que agrada ao Seu coração. Entraremos assim no sábado do grande repouso em que o céu e a terra repousarão, em que toda a criatura é recriada.
Afraates (?-c. 345), monge e bispo perto de Mossul (santo das Igrejas ortodoxas)
Exposições, nº 13, 1.3.9
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