Domingo da Santíssima Trindade
A Solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar
a mistério que se esconde por
detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite a contemplar o Deus que é
amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer
comungar nesse mistério de amor.
A primeira leitura sugere-nos a contemplação do Deus criador. A sua
bondade e o seu amor estão inscritos e manifestam-se aos homens na beleza e na
harmonia das obras criadas (Jesus Cristo é “sabedoria” de Deus e o grande
revelador do amor do Pai).
A segunda leitura convida-nos a contemplar o Deus que nos ama e
que, por isso, nos
“justifica”, de
forma gratuita e
incondicional. É através
do Filho que
os dons de
Deus/Pai se derramam sobre nós e
nos oferecem a vida em plenitude.
O Evangelho convoca-nos,
outra vez, para
contemplar o amor
do Pai, que se
manifesta na doação e na entrega do Filho e que continua a acompanhar a nossa
caminhada histórica através
do Espírito. A meta final
desta “história de amor”
é a nossa inserção plena na comunhão com o Deus/amor, com o
Deus/família, com o Deus/comunidade.
LEITURA
I – Prov 8,22-31
O
Livro dos Provérbios
apresenta uma coleção
de “ditos”, de
“sentenças”, de “máximas”, de
“provérbios” (“mashal”), onde se cristaliza o resultado da reflexão e da
experiência (“sabedoria”) dos “sábios” antigos (israelitas e alguns não
israelitas), empenhados em definir as regras para viver bem, para ter êxito,
para ser feliz. Alguns dos materiais aí apresentados podem ser do séc. X a. C.;
outros, no entanto, são bem mais recentes.
O texto que nos é hoje proposto
faz parte de um bloco de “instruções” e “advertências” que vai
de 1,8 a 9,6.
Trata-se da parte
mais recente do
“Livro dos Provérbios” (segundo os especialistas, não
pode ser anterior ao séc. IV ou III a. C.).
O capítulo 8 do “Livro
dos Provérbios” (do qual é
retirado o texto que hoje nos é proposto) apresenta-nos um
discurso posto na boca da própria “sabedoria”, como se ela fosse
uma pessoa: trata-se
de um artifício
literário, através do
qual o autor pretende dar força e intensidade dramática
ao convite que ele lança no sentido de acolher e amar a “sabedoria”. Na
primeira parte desse discurso (vers. 1-11), o autor apresenta o “púlpito” de
onde a “sabedoria” vai discursar (o cume das montanhas, a encruzilhada dos
caminhos, as entradas das cidades, os umbrais das casas), os destinatários da
mensagem (todos os homens) e apela à escuta das palavras que ela vai
pronunciar; na segunda parte (vers. 12-21), o autor apresenta as “credenciais”
da “sabedoria” (ela possui a ciência,
a reflexão, o conselho, a equidade,
a força) e o prêmio reservado
àqueles que a acolhem; na terceira parte (vers. 8,22-31) – que é a que nos
interessa diretamente – o autor reflete sobre a origem da sabedoria e a sua
função no plano de Deus.
Em primeiro lugar, diz-se que a “sabedoria”
tem origem em Deus. O
autor do texto põe na boca da “sabedoria” a forma hebraica “qânâny”
(“gerou-me”) para expressar a responsabilidade de Deus na origem da “sabedoria”
(vers. 22).
Afirma também que ela é a
primeira das obras de Deus. Antes de serem lançadas as estruturas do cosmos, a
“sabedoria” já existia (vers. 24-29); mais, ela estava lá, tendo um papel
interveniente na criação: no vers. 30, a “sabedoria” é apresentada
como “arquiteto” (“amon”), isto é, como assistente activo de Deus na
obra criadora (embora certas
versões antigas leiam
como “amun” – “criança”
– o que sugere a ideia
da “sabedoria” como uma “criança” feliz que brinca e se deleita no meio
da obra criada). Em terceiro lugar, a “sabedoria” afirma que o seu interesse e
deleite é estar “junto dos filhos dos homens” (vers. 31): ela dirige-se aos
homens e o seu objetivo é “ser para os homens”. Ela desempenha, portanto, um
papel em favor dos homens.
Qual é esse papel? A perícope
está dominada por três palavras, que aparecem no princípio, no
meio e no fim:
“Jahwéh” (vers. 22),
“sabedoria” (“eu” – vers.
30) e “homens” (vers. 31). Esta
“coluna vertebral” revela, desde já, o objetivo do autor do texto: ao dizer que
a “sabedoria” tem origem em Jahwéh, está em íntima relação com Deus e se
destina aos homens, está a sugerir-se que ela tem a capacidade de pôr os homens
em relação e contacto com Deus. Através dessa realidade criada que a “sabedoria”
viu nascer, ela espevita a inteligência dos homens, leva-os a Deus, atrai- os
para Deus. A “sabedoria”, presente desde sempre na criação, revela aos homens a
grandeza e o amor do Deus criador.
A tradição judaica acabará por
identificar esta “sabedoria” com a Torah (cf. Ba 3,38-4,1; Pirkê Rabbí Eliezer,
III, 2). Por outro lado, os autores neo-testamentários, conhecedores dos livros sapienciais, atribuirão
a Jesus algumas das características que este texto atribui à
“sabedoria”: Paulo chama a Jesus “sabedoria” e “sabedoria de Deus” (cf. 1 Cor
1,24.30); considera também que Jesus, como a “sabedoria” de Prov 8, existe
antes de todas as coisas e desempenhou um papel privilegiado na criação do
mundo (cf. Col 1,16-17); por sua vez, o “prólogo” do Quarto Evangelho atribui
ao “Lógos”/Jesus os traços da “sabedoria” criadora de Prov 8 (diz que Jesus é
anterior à criação – cf. Jo 1,1) e que Ele deu existência a todas as obras
criadas – cf. Jo 1,3).
Os Padres da Igreja verão nesta
“sabedoria”, pré-criada e anterior à restante obra de Deus, traços de Jesus
Cristo ou do Espírito Santo.
ATUALIZAÇÃO
Ter em conta, na reflexão, os
seguintes desenvolvimentos:
♦
A referência ao Deus que tudo criou para nós com sabedoria faz-nos
pensar num Pai providente e cuidadoso, que tem um projeto bem definido para os
homens e para o mundo. Contemplar a
criação é descobrir, na beleza e na harmonia das obras criadas, esse Pai cheio
de bondade e de amor. Somos capazes de nos sentirmos “provocados” pela criação
de forma que, através dela, descubramos
o amor e a bondade de Deus?
♦
Olhando para a obra de Deus, aprendemos que o homem não é um concorrente
de Deus, nem Deus um adversário do homem. Ao homem compete reconhecer o poder e
a grandeza de Deus e entregar-se,
confiante, nas mãos desse Pai que tudo criou com cuidado e que tudo nos
entrega com amor. Entregamo-nos nas mãos
d’Ele, não como adversários, mas como crianças que confiam incondicionalmente
no seu pai?
♦O desenvolvimento desordenado e
a exploração descontrolada dos recursos da natureza põem em causa a harmonia
desse “mundo bom” que Deus criou e que nos confiou. Temos o direito de pôr em
causa, por egoísmo, a obra de Deus?
♦
A contemplação da obra criada leva ao espanto e ao louvor. Somos capazes
de nos extasiarmos diante das coisas que Deus nos oferece e de deixarmos que a
nossa admiração se derrame em louvor e agradecimento?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 8
Refrão: Como sois grande em toda a terra,
Senhor, nosso Deus!
Quando contemplo os céus, obra
das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes,
que é o homem para que Vos
lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?
Fizestes dele quase um ser
divino, de honra e glória o coroastes;
destes-lhes poder sobre a obra
das vossas mãos, tudo submetestes a seus pés:
Ovelhas e bois, todos os
rebanhos, e até os animais selvagens,
as aves do céu e os peixes do
mar, tudo o que se move nos oceanos.
LEITURA II – Rom 5,1-5
Quando Paulo escreve aos romanos,
está a terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para
Jerusalém. Tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e queria
levar o Evangelho ao ocidente. Sobretudo, Paulo aproveita a carta para contatar
a comunidade de Roma e apresentar aos romanos e a todos os crentes os
principais problemas que o ocupavam (entre os quais sobressaía a questão
da unidade – um
problema bem presente
na comunidade de
Roma, afetada por alguma
dificuldade de relacionamento entre
judeo-cristãos e pagano-cristãos). Estamos no ano 57 ou 58.
Paulo aproveita, então, para
sublinhar que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem
distinção de judeu, grego ou romano. Depois de notar que todos os homens vivem
mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20), Paulo acentua que é a “justiça de
Deus” que dá vida a todos sem distinção (cf. Rom 3,1-5,11). Neste texto, que a
segunda leitura de hoje nos propõe, Paulo refere-se à ação de Deus, por Cristo
e pelo Espírito, no sentido de “justificar” todo o homem.
Paulo parte da ideia de que todos
os crentes – judeus, gregos e romanos – foram justificados pela fé. Que
significa isto?
Na linguagem
bíblica, a justiça é, mais
do que um
conceito jurídico, um
conceito relacional. Define a fidelidade a si próprio, à sua maneira de
ser e aos compromissos assumidos no âmbito de uma relação. Ora, se Jahwéh Se
manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da misericórdia e do
amor, dizer que Deus é justo não significa dizer que Ele aplica os mecanismos
legais quando o homem infringe as regras;
significa, sim, que a
bondade, a misericórdia, o amor, próprios do “ser” de Deus, se manifestam em todas as
circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder. Paulo, ao
falar do homem justificado, está a falar do homem pecador que, por exclusiva
iniciativa do amor e da misericórdia de Deus, recebe um veredicto de graça
que o salva do pecado e lhe dá, de modo totalmente
gratuito, acesso à salvação.
Ao homem é
pedido somente que
acolha, com humildade
e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se
entregue completamente nas mãos de Deus.
Este homem, objeto da graça de Deus, é uma nova criatura (cf. Gal 6,15): é o
homem ressuscitado para a vida nova (cf. Rom 6,3-11), que vive do Espírito (cf.
Rom 8,9.14), que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (cf. Rom 8,17; Gal
4,6-7).
Quais os frutos que resultam
deste acesso à salvação que é um dom de Deus? Em primeiro lugar, a paz (vers.
1). Esta paz não deve ser entendida em sentido psicológico (tranquilidade,
serenidade), mas no sentido teológico semita de relação positiva com Deus e,
portanto, de plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.
Em segundo
lugar, a esperança (vers.
2-4). Trata-se desse
dom que nos
permite superar as dificuldades e a dureza da caminhada, apontando a um
futuro glorioso de vida em
plenitude. Não se trata de alimentar um otimismo fácil e
irresponsável, que permita a evasão do presente;
trata-se de encontrar um sentido
novo para a vida presente, na certeza de que as forças
da morte não terão a última palavra e que as forças da vida triunfarão.
Em terceiro
lugar, o amor
de Deus ao
homem (vers. 5-8).
O cristão é, fundamentalmente, alguém a quem Deus ama.
Como prova desse amor que age em nós através do Espírito, está Jesus de Nazaré
a quem Deus “entregou à morte por nós quando ainda éramos pecadores”.
Tudo aquilo que enche a vida do
crente, que lhe dá sentido, é um dom de Deus Pai que, através de Jesus,
demonstra o seu amor e que, pelo Espírito, derrama continuamente esse amor
sobre nós.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão da Palavra,
considerar as seguintes coordenadas:
♦
Na Solenidade da Santíssima Trindade, somos convidados a contemplar o
amor de um Deus que nunca desistiu dos homens e que sempre soube encontrar
formas de vir ao nosso encontro, de fazer caminho conosco. Apesar de os homens
insistirem, tantas vezes, no egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência, no pecado, Deus continua
a amar e a fazer-nos propostas
de vida. Trata-se
de um amor gratuito e incondicional, que se traduz
em dons não merecidos, mas que, uma vez acolhidos, nos conduzem à felicidade
plena.
♦
A vinda de Jesus Cristo ao encontro dos homens é a expressão plena do
amor de Deus e o sinal de que Deus não nos abandonou nem esqueceu,
mas quis até partilhar conosco a precariedade e a fragilidade da nossa existência para nos mostrar como nos tornarmos “filhos
de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.
♦
A presença do
Espírito acentua no
nosso tempo – o tempo
da Igreja – essa realidade de um Deus que continua
presente e atuante, derramando o seu amor ao
longo do caminho
que dia a
dia vamos percorrendo
e impelindo-nos à renovação, à transformação, até chegarmos à
vida plena do Homem Novo.
♦
Está em moda uma certa atitude de indiferença face a Deus, ao seu amor e
às suas propostas. Em
geral, os homens
de hoje preocupam-se
mais com os resultados
da última jornada
do campeonato de
futebol, ou com
as últimas peripécias da
“telenovela das nove” do que com Deus ou com o seu amor. Não será tempo de
redescobrirmos o Deus que nos ama, de reconhecermos o seu empenho em
conduzir-nos rumo à felicidade plena e de aceitarmos essa proposta de caminho
que Ele nos faz?
ALELUIA–
cf. Ap 1,8
Aleluia. Aleluia.
Glória ao Pai e ao Filho e ao
Espírito Santo, ao Deus que é, que era e que há-de vir.
EVANGELHO – Jo 16,12-15
Estamos no contexto da última
ceia e do discurso de despedida que antecede a “hora” de Jesus.
Depois de
constituir a comunidade
do amor e
do serviço (cf.
Jo 13,1-17) e de
apresentar o mandamento fundamental que deve dar corpo à vida dessa comunidade
(cf. Jo 15,9-17), Jesus vai definir a missão da comunidade no mundo: testemunhar acerca de Jesus, com a
ajuda do Espírito (cf. Jo 15,26-27).
Jesus avisa,
no entanto, que o caminho
do testemunho deparará com a
oposição decidida da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o
mundo (cf. Jo 16,1-4a); mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele
ajudá-los-á e dar-lhes-á segurança
no meio da perseguição (cf.
Jo 16,8-11). De
resto, a comunidade em marcha pela história encontrar-se-á muitas
vezes diante de circunstâncias históricas novas, diante
das quais terá
de tomar decisões
práticas: também aí
se verá a presença do Espírito, que ajudará a responder
aos novos desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da mensagem de Jesus
(cf. Jo 16,12-15).
O tema fundamental desta leitura tem, portanto, a ver com a
ajuda do Espírito aos discípulos em caminhada pelo mundo.
Jesus começa
por dizer aos discípulos que há muitas
outras coisas que eles
não podem compreender de momento (vers. 12). Será o “Espírito da
verdade” que guiará os discípulos para
a verdade, que
comunicará tudo o
que ouvir a
Jesus e que interpretará o que está para vir (vers.
13). Isto significa que Jesus não revelou tudo o que havia para revelar ou que
a sua proposta de salvação/libertação ficou incompleta?
De forma nenhuma. As palavras de
Jesus acerca da ação do Espírito referem-se ao tempo da existência cristã no
mundo, ao tempo que vai desde a morte de Jesus até à “parusia”. Como será
possível aos discípulos, no tempo da Igreja, continuar a captar, na fé, a
Palavra de Jesus e a guiar a vida por
ela? A resposta de Jesus é: “pelo
Espírito da verdade, que fará com que a minha proposta continue a ecoar todos
os dias na vida
da comunidade e no
coração de cada
crente; além disso,
o Espírito ensinar-vos-á a
entender a nova ordem que se segue à
cruz e à ressurreição e a discernir, a
partir das circunstâncias concretas diante das quais a vida vos vai colocar,
como proceder para continuar fiel às minhas propostas”. O Espírito não
apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de Jesus seja sempre
a referência da comunidade em caminhada pelo mundo e que essa comunidade saiba
aplicar a cada circunstância nova que a vida apresentar, a proposta de Jesus.
Aonde irá
o Espírito buscar
essa verdade que
vai transmitir continuamente
aos discípulos? A resposta é: ao próprio Jesus (“receberá do que é meu e
vo-lo anunciará” – vers. 14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia
com os discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do
Espírito: realizar a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela
história.
A última expressão deste texto
(vers. 15) sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão
atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus
e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.
ATUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes
desenvolvimentos:
♦
O Espírito aparece, aqui,
como presença divina
na caminhada da
comunidade cristã, como essa realidade que potencia a fidelidade
dinâmica dos crentes às propostas que o Pai, através de Jesus, fez aos homens.
A Igreja de que fazemos parte tem sabido estar atenta, na sua caminhada
histórica, às interpelações do Espírito? Ela tem procurado, com a ajuda do
Espírito, captar a Palavra eterna de Jesus e deixar-se guiar por ela? Tem
sabido, com a ajuda do Espírito, continuar em
comunhão com Jesus?
Tem-se esforçado, com a ajuda
do Espírito, por responder às interpelações da história e por atualizar, face aos novos
desafios que o mundo lhe coloca, a proposta de Jesus?
♦
Sobretudo, somos convidados a contemplar o mistério de um Deus que é
amor e que, através do
plano de salvação/libertação do
Pai, tornado realidade
viva e humana em Jesus, e
continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes, nos conduz para a
vida plena do amor e da felicidade total – a vida do Homem Novo, a vida da
comunhão e do amor em plenitude.
♦
A celebração da Solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de
compreender e decifrar essa estranha charada de “um em três”. Mas deve ser,
sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto, comunidade.
Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa família – pai, mãe
e filho – é afirmar três deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai,
o Filho e o Espírito são três formas de apresentar o mesmo Deus, como três
fotografias do mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é, também,
negar a fé. A natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um Deus
comunidade, expressa-se na nossa linguagem
imperfeita das três
pessoas. O Deus família torna-se trindade de pessoas
distintas, porém unidas. Chegados aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem
finita e humana não consegue “dizer” o mistério de Deus.
♦
As nossas comunidades cristãs
são, realmente, a expressão desse Deus que é amor e
que é comunidade
– onde a
unidade significa amor
verdadeiro, que respeita a
identidade e a especificidade do outro, numa experiência verdadeira de amor, de
partilha, de família, de comunidade?
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