«Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me
ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e
manifestar-Me-ei a ele».
São João 14,21-26.
A razão principal por que na Lei Antiga eram lícitas as perguntas que
se faziam a Deus, e era justo que os profetas e os sacerdotes quisessem
revelações e visões de Deus, era porque ainda não estava bem
fundamentada a fé nem estabelecida a Lei evangélica. […] Mas agora, […]
não há razão para O interpelar daquela maneira, nem para que Ele agora
fale e responda como então. Porque ao dar-nos, como nos deu, o seu
Filho, que é a sua Palavra (Jo 1,1) – e não tem outra –, Deus disse-nos
tudo ao mesmo tempo, e nada mais tem a revelar.
É este o sentido daquele texto de S. Paulo aos Hebreus: o que
antigamente Deus disse pelos profetas a nossos pais de muitos modos e de
muitas maneiras, agora, por último, nestes dias, disse-nos pelo Filho
de uma só vez (Heb 1,1-2) […]
Portanto, quem agora quisesse consultar a Deus ou pedir-Lhe alguma
visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas faria agravo a
Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora dele outra
realidade ou novidade.
Deus poderia responder-lhe desta maneira : «Se já te disse tudo na
minha Palavra, que é o meu Filho – e não tenho outra –, que mais te
posso Eu responder agora ou revelar? Põe os olhos só nele, porque nele
tudo disse e revelei, e acharás ainda mais do que pedes e desejas. […]
Fi-lo desde o dia em que desci com o meu Espírito sobre Ele no monte
Tabor dizendo: “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu
encanto, escutai-O” (Mt 17,5). Já não tenho mais fé para revelar, nem
mais nada para manifestar. Porque, se falava antes, era prometendo a
Cristo; e, se Me interrogavam, as perguntas eram orientadas à petição e
esperança de Cristo, no qual haviam de encontrar o Bem total, como vo-lo
explica agora a doutrina dos evangelistas e dos apóstolos.»
São João da Cruz
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