«Mas, então, quem pode salvar-se?»
Marcos 10,17-27.
Em resposta à pergunta do jovem rico, Jesus tinha revelado como se podia
aceder à vida eterna. Mas o jovem, entristecido com a ideia de ter de
abandonar as suas riquezas, foi-se embora. E Jesus declarou: «É mais fácil
passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de
Deus.» Então Pedro, que se despojara de tudo, renunciando à sua profissão
e à sua barca, que já não possuía sequer um anzol, aproximou-se de Jesus e
perguntou-Lhe: «Quem pode, então, salvar-se?»
Repara na reserva mas também no zelo deste discípulo. Ele não diz:
«Tu ordenas impossíveis, essa ordem é demasiado difícil, essa lei é
demasiado exigente.»
E também não se cala. Mas, sem faltar ao respeito e
mostrando que estava atento aos outros, pergunta: «Quem pode, então,
salvar-se?»
É que, muito antes de ser pastor, já ele tinha alma de pastor;
antes de ser investido de autoridade [...], já se preocupava com a terra
inteira. Um rico teria provavelmente feito essa pergunta por interesse,
preocupado com a sua situação pessoal e sem pensar nos outros. Mas Pedro,
que era pobre, não pode ser suspeito de ter feito a sua pergunta por esses
motivos, mas porque se preocupava com a salvação dos outros, e queria
aprender do Mestre como alcançá-la.
Daí a resposta encorajadora de Cristo: «Aos homens é impossível, mas
a Deus não; pois a Deus tudo é possível.» Querendo dizer: «Não penseis
que vos deixo ao abandono. Eu próprio vos assistirei em assunto tão
importante, e tornarei fácil o que é difícil.»
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de
Constantinopla, doutor da Igreja
Homilia sobre o devedor de dez mil talentos,3; PG 51, 21
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