6º
DOMINGO DA PÁSCOA
Impossível compreender o alcance do
amor sem contemplar a cruz.
10
de maio de 2015
Leituras:
Atos 10, 25-26. 34-35.44-48;
Salmo 98;
Primeira Carta de João 4, 7-10;
João 15,
9-17.
COR LITÚRGICA: BRANCA OU DOURADA
Aleluia irmãos e irmãs! Cristo Ressuscitou! Como o Tempo
Pascal deve ser celebrado com alegria e exultação, como se fosse um só dia de
festa, “um grande domingo”, (cf. Normas Universais do Ano Litúrgico, 22)
faremos memória da grande Vigília Pascal, “mãe de todas as vigílias” (Sto.
Agostinho). O fogo que acendeu o círio pascal fez memória da Bênção do fogo
novo. A liturgia deste domingo pascal nos convida a contemplar o amor de Deus
manifestado na pessoa, nos gestos e nas palavras de Jesus, e que um dia se
torna presente na vida de todos nós. Hoje, também, lembramos nossas queridas
mães, as quais têm em Maria sua referência maior de doação, de presença silenciosa
e amorosa aos filhos.
1. Situando-nos
Avança o Tempo Pascal. Surge o
perigo de deixarmos esmorecer a alegria da Ressurreição do Senhor. Por isso
quem preside, com toda a equipe de celebração, deve esforçar-se por viver o que
pede a oração do dia: “Dai-nos celebrar com fervor estes dias de júbilo em
honra do Cristo ressuscitado”. E não podemos descuidar da motivação, do ar
festivo da liturgia trazido pelo evento pascal. Ainda mais hoje, que temos um
dos pontos mais altos da missão cristã: a vivência do amor, animados pelo
Espírito Santo.
Neste espírito recordamos Maria,
junto com o dia das mães, Maria, sem nada tirar da centralidade do Senhor, é
boa mestra para celebrar a Páscoa, por sua proximidade a Cristo em seu caminho
da Cruz, Ressurreição e envio do Espírito. Já que foi a melhor discípula, pode
ser boa mestra para a comunidade pascal.
2.
Recordando a Palavra
Continuamos hoje a leitura do
Evangelho do último domingo. Depois da alegoria da videira, temos a meditação
sobre o mistério do amor de Deus em Jesus Cristo e nossa missão de frutificar
no amor fraterno. “Jesus não manda amar a Deus (...). O Evangelho de João
menciona só o mandamento de amar os irmãos. De fato, o amor é um presente. Ora,
um presente não se devolve, mas reparte-se com os outros. É amando os irmãos
que mostramos nossa gratidão pelo amor do Pai que se manifesta a nós em Jesus.
E assim levamos esse amor ao seu destino. Tornamo-nos ‘aliados’ de Deus e de
Jesus, na expansão do seu amor” (KONINGS,
Johan. Evangelho segundo João – amor e fidelidade. São Paulo: Loyola, 2005,
p.288).
Impossível compreender o alcance do
amor sem contemplar a cruz. É por isso que Jesus Diz: ninguém tem maior amor do
que aquele que dá a vida pelos amigos. Da contemplação da entrega de Cristo por
nós é que nos vem força para entregar também a nossa vida pelos irmãos. A única
justificativa para o amor é a cruz. Nela é que compreendemos o sentido da
entrega de Cristo. Sem o amor, a cruz revela-se absurda.
O Senhor nos chama de amigos, não
mais de servos. Contudo, mantém sua transcendência. Há diferenças entre uma
amizade humana e nossa amizade com Cristo. Nós não escolhemos ser amigos de
Jesus, foi Ele quem nos escolheu. Do mesmo modo, Jesus fala que nós somos seus
amigos, se cumprirmos sua vontade.
Jesus fala do discurso de Pedro,
que está na primeira leitura de hoje, destaca o seu pensamento fundamental:
Deus não faz acepção (distinção) de pessoas; a melhor prova disso é fazer com
que os pagãos participem dos benefícios de um Pentecostes parecido com o que
aconteceu em Jerusalém. E isso se deu antes de serem batizados! Pedro é levado,
por causa dos fatos, a tomar posição e medidas claras: batizar os pagãos.
O fundamento de tudo está no fato
de que Deus é amor. Não seria exagero dizer que é um dos melhores resumos de
toda a Escritura. “Dado que Deus, foi primeiro a amar-nos (cf. 1Jo 4,10), agora
o amor não é apenas um ‘mandamento’, mas é a resposta ao dom do amor com que
Deus vem ao nosso encontro” (DCE, n.1)
Ao tratar do texto da Primeira
carta de João 4, 7-10, é importante sabermos que ele faz parte da seção que
fala das fontes da caridade e da fé. Falar do amor é sempre um perigo, porque
tratamos com uma palavra banalizada. Os cristãos são chamados a amar porque
Deus é amor, porque esse amor de Deus chegou a nós e nos chamou à existência;
porque esse amor fez com que Cristo entregasse sua vida na Cruz; porque esse
amor de Deus ressuscitou Jesus e nos faz hoje crer e viver nele.
3.
Atualizando a Palavra
Em nossos dias, percebemos que
permanece a separação entre pagãos e os que creem. A religião é empurrada cada
vez mais para o âmbito privado. Os próprios cristãos correm a tentação de
fecharem-se em pequenos guetos, sem dialogar mais com o mundo, que consideram
perdido.
Precisamos novamente de Pedro para
reconciliar, para restabelecer o dialogo, para fazer-nos perceber que a cultura
e a mentalidade não são obstáculo para o anúncio do Evangelho. Estamos tão
amarrados à nossa verdade absoluta que podemos não mais conseguir dialogar,
pois talvez julguemos o diferente como errado, pecaminoso, afastado.
Se há algo claro nas leituras de
hoje é que para Deus não há acepção de pessoas. Para Deus só há seres humanos
aos quais ele ama profunda e totalmente, a ponto de considerá-los filhos seus.
Por outro lado, fica claro que a
história da humanidade é uma história de separados: bancos e negros, ricos e
pobres, cultos e ignorantes, poderosos e fracos.
Como interpretar isso? Onde está a
causa dessa separação toda? A resposta é simples: na falta de amor. Não somos
capazes de amar sem interesses econômicos, políticos, utilitaristas. Pode
aparecer desanimador, mas é muito do que se vê.
Cornélio, mesmo sendo pagão, foi
acolhido pela comunidade cristã. É sinal da acolhida que não deve deixar nunca
de inspirar nossa ação pastoral.
O amor de Deus, na Páscoa de Cristo
e em Pentecostes, mostrou-se universal. Por isso, nosso amor também deve ser
universal. Católico significa universal. Às vezes, parece que restringimos
demais nossa compreensão da própria identidade cristã. Não nos identificamos
como católicos para nos separar dos outros, mas para ser sinal de quem quer
acolher, ir ao encontro de todos.
O amor é sempre mais forte do que o
ódio. Por isso, a vida triunfa sobre a morte. Deste modo, a Páscoa de Cristo
acontece na força do amor. Desde o momento em que Cristo desfaz com seu poder
os laços da morte, o amor recebe essa
força de ser vencedor da morte. Por isso, o fruto mais desejável da renovação
pascal e sinal maior da presença de Cristo Ressuscitado é o crescimento do amor
entre os irmãos.
Imaginemos todos os cristãos do
mundo vivendo o amor. Seria um impacto formidável, transformador. Nosso
problema é que, com o passar do tempo, perdemos o animo, o impulso, a fé, a
esperança e, assim, não vivemos mais o amor.
Ao falar da Evangelização, o Papa
Francisco nos ensina: “A primeira motivação para evangelizar é o amor que
recebemos de Jesus naquela experiência de sermos salvos por Ele, que nos impele
a amá-Lo cada vez mais” (EG, n.264).
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
A fé deve levar-nos à vida e à
celebração. O problema é que damos um salto: passando logo da fé à celebração,
esquecendo-nos da vivência do amor.
“A união com Cristo é, ao mesmo
tempo, união com todos os outros, aos quais ele se entrega. Eu não posso ter
Cristo só para mim; posso pertencer-lhe somente unido a todos aqueles que se
tornaram ou se tornarão seus. A comunhão tira-me para fora de mim mesmo
projetando-me para ele e, desse modo, também para a união com todos os
cristãos. Tornamo-nos ‘um só corpo’, fundidos numa única existência” (DCE,
n.14).
A Eucaristia é o Sacramento do
Amor, onde os amigos de Jesus são alimentados por Ele. Desse amor é que brota o
mandato do amor ao próximo.
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