Jesus não necessitava desta vida contemplativa como preparação para seu
ministério. Contudo, ao assumir uma natureza como a nossa, tornou-Se
nosso modelo e quis demonstrar, através de seus próprios atos, o imenso
valor do recolhimento.
Para que um mestre desempenhe com propriedade o ofício de ensinar, um
conferencista realize com sucesso sua exposição, ou ainda um
sacerdote obtenha excelentes frutos espirituais com suas homilias e
retiros, é indispensável que haja antes um período de preparação e
estudo que os proporcione um conhecimento mais amplo a respeito daquilo
que transmitirão, podendo, assim, satisfazer a sede de conhecimento
dos seus discípulos. Já afirmava São Pio X a respeito das aulas de
catecismo as quais, mesmo em meio às inúmeras ocupações pontificais,
fazia questão de ministrar: para uma hora de catecismo são necessárias
duas horas de estudo.[1]
E isto sendo a maior parte dos ouvintes crianças…
No
campo humano isto se entende sem muita dificuldade visto que conhecemos
as limitações de nossa natureza. Mas, o Homem-Deus também teria
necessidade desta preparação para poder exercer bem sua missão
salvadora?
De dentro dos próprios relatos bíblicos, brota-nos a
resposta: segundo a narração de São Lucas, Jesus começou a exercer o seu
ministério somente por volta dos trinta anos de idade (Cf. Lc 3, 23).
Antes disso, porém, viveu na humilde casa de Nazaré, crescendo em graça e
santidade, apenas diante de Deus, Nossa Senhora, São José, e algumas
almas privilegiadíssimas que, de vez em quando, se encontravam com a
Sagrada Família nas estradas da Judéia.
Devido à sua natureza
divina, Jesus não necessitava desta vida contemplativa como preparação
para seu ministério. Contudo, ao assumir uma natureza como a nossa,
tornou-Se nosso modelo e quis demonstrar, através de seus próprios atos,
o imenso valor do recolhimento. É como uma arca em que se guarda aquilo
que se pensou e que se sentiu, para, no momento oportuno, saber
manifestar aos demais por meio de palavras e bons exemplos.
E isto
se manifestou de maneira ainda mais enfática quando o Espírito O
conduziu ao deserto, onde permaneceu quarenta dias e quarenta noites em
oração e penitência, contemplando o grandioso e terrível panorama de sua
missão salvadora e obtendo forças para beber o cálice de terríveis
sofrimentos que o Pai lhe havia destinado.
Se estes foram os
sublimes exemplos deixados pelo próprio Deus, quanta lição devem deles
tirar todos os que desejam que seu apostolado produza plenamente seus
frutos!
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[1] SÃO PIO X apud CLÁ DIAS, João
Scognamiglio. Subiremos ao Céu em virtude da Ascenção.
O inédito sobre
os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos Dominicais. Advento, Natal,
Quaresma e Páscoa – Ano B. Città del Vaticano – São Paulo: LEV; Lumen
Sapientiae, 2014, Op.cit., v. III, p. 359.
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