6º Domingo do Tempo Comum-B
“Queres?”
Queres? Quero.
Com essas
palavrinhas foram resolvidos os problemas do leproso (cf. Mc 1,40-41).
Também nós podemos perguntar a Jesus: queres? Procuremos escutar a
resposta.
Mas será que pode ser que ele não queira o que eu estou
pedindo e que me parece tão importante?
É possível. Aquilo que julgamos
bom para nós e pedimos insistentemente, Deus, na sua onisciência,
poderia não estar de acordo.
Desta maneira, não nos concederá
determinada coisa ou talvez atrase a concessão da mesma.
E nem adianta viver na
ilusão.
Não faz muito tempo escutei a história daquela senhora,
diabética quase ao extremo, que acreditava tanto nas curas de Deus que
afirmou a outra pessoa o seguinte: – “Jesus me curou, já não sou
diabética?”
A sua amiga respondeu-lhe: – “puxa vida, pena que ele se
esqueceu de dar-lhe um pouco de cor, pois você está muito pálida;
vejamos se realmente está curada: vá tomar um café com muito açúcar.”
A
diabética afirmou: – “não, eu ainda não posso”.
Estou a afirmar que Deus
não cura? Não. Claro que o Senhor cura, liberta e faz milagres.
E não
obstante, pode ser que em determinados momentos ele não o queira e
permita que padeçamos porque ele sabe que tal sofrimento será para o
nosso bem e para a glória de Deus: “Esta enfermidade não causará a
morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado
o Filho de Deus” (Jo 11,4).
Infelizmente, alguns grupos cristãos têm
satanizado toda e qualquer enfermidade, as doenças viriam do diabo e por
isso seria preciso curar-se de qualquer jeito.
Um dos grandes perigos
dessa maneira de ver o sofrimento é a vinda do ateísmo.
Explico-me: as
pessoas que frequentam esses tipos de seitas, quando abrem os olhos e
percebem que há anos vêm pedindo cura e, paradoxalmente, não recuperam a
saúde desejada, podem vir a perder a fé em Deus.
Mas, deixemo-lo claro:
essas pessoas acreditam num Deus que não parece ser exatamente o Deus
que é Pai e Filho e Espírito Santo.
Tenho medo de que, com o passar do
tempo, essa grande onda de curas e de milagres venha a desembocar num
ateísmo cada vez maior e num secularismo que já não conhece a mensagem
cristã, cujo centro é justamente o mistério da cruz que eclode no
domingo da ressurreição.
Mas o fato é que no caso
do leproso de hoje, Jesus quis a sua cura.
Por quê?
Ora, naquele homem
enfermo, Jesus Cristo viu um “projeto de apóstolo”.
E assim foi! “Este
homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o
acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade.
Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter
com ele” (Mc 1,45).
O ex-leproso converteu-se então num mensageiro do
Evangelho. Neste caso, a cura dele também foi para a glória de Deus!
Em suma, tanto a nossa
enfermidade quanto a nossa cura podem ser para o nosso bem e para a
glória de Deus. Ele, que tem a visão de todas as coisas e conhece o mais
íntimo de nós mais que nós mesmos, sabe o que será melhor no nosso caso
concreto. Daí que devemos abandonar-nos confiadamente nas mãos do Bom
Deus.
Jesus também poderia
perguntar a você: Queres?
Queres seguir-me de verdade? Queres buscar-me
de verdade ou será que queres tão somente aquilo que eu posso te
oferecer?
As perguntas entram numa clara lógica de conversão.
A cura do
leproso não foi apenas uma cura do corpo, mas principalmente da alma:
ele tornou-se uma testemunha do Senhor. Jesus quis curá-lo, mas ele – o
leproso – também quis seguir o Senhor de verdade.
Conta-se que certa vez a
irmã de Santo Tomás de Aquino perguntou-lhe qual era o segredo da
santidade. O santo respondeu sem hesitar: – querer!
Caso nós percebemos
que não vamos para frente na extirpação de tal ou qual vício ou no
progresso em determinada virtude, perguntemo-nos a nós mesmos: será que
eu quero?
A graça de Deus não nos falta, o problema não pode está aí; o
problema está na debilidade da nossa resposta aos apelos de Deus.
Lembro-me daquele espanhol, professor renomado, que confessou aos seus
alunos: – “Eu parei de fumar. O que eu fiz? Lutei para nem sequer pensar
no cigarro”. Esse homem QUERIA de fato deixar de fumar!
Queres, meu filho? Queres, minha filha?
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