“SENHOR JESUS, ABRI-NOS AS ESCRITURAS,
FALAI-NOS E INFLAMAI O NOSSO CORAÇÃO”!
(Lc 24,32)
Jesus ressuscitou verdadeiramente? Como é que podemos fazer uma
experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como é que podemos
mostrar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer aos homens a
salvação? É, fundamentalmente, a estas questões que a liturgia do 3°
Domingo da Páscoa procura responder.
O Evangelho assegura-nos que Jesus está vivo e continua a ser o centro à
volta do qual se constrói a comunidade dos discípulos. É precisamente
nesse contexto eclesial – no encontro comunitário, no diálogo com os
irmãos que partilham a mesma fé, na escuta comunitária da Palavra de
Deus, no amor partilhado em gestos de fraternidade e de serviço – que os
discípulos podem fazer a experiência do encontro com Jesus
ressuscitado. Depois desse “encontro”, os discípulos são convidados a
dar testemunho de Jesus diante dos outros homens e mulheres.
O apelo ao arrependimento e à conversão que aparece no discurso de Pedro
lembra-nos essa necessidade contínua de reequacionarmos as nossas
opções, de deixarmos os caminhos de egoísmo, de orgulho, de comodismo,
de auto¬suficiência em que, por vezes, se desenrola a nossa existência. É
preciso que, em cada instante da nossa vida, nos convertamos a Jesus e
aos seus valores, numa disponibilidade total para acolhermos os desafios
de Deus e a sua proposta de salvação.
De regresso a casa, os discípulos de Emaús contaram aos Onze o que
lhes tinha acontecido pelo caminho! E nós sabemos o que foi: Jesus
atravessou-Se no caminho daqueles dois discípulos em fuga, escutou as
expressões da sua esperança desiludida e, acompanhando-os ao longo de
todo o caminho, «explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que Lhe
dizia respeito» (Lc 24,27).
Mas pelos vistos, isto não chegou ainda para
O reconhecerem. A verdade é que só O reconheceram quando Jesus Se pôs à
mesa com eles, no gesto típico da fração do pão. Mas como se isto
também ainda não bastasse, mal chegaram a casa, Jesus manifestou-Se-lhes
de novo. Mostrou-lhes as mãos e os pés, a Sua carne ferida com as
marcas da Sua vida oferecida.
Doravante o Ressuscitado encontra-Se na
carne dos que sofrem.
2. Tenhamos hoje em conta estes três “lugares” do encontro com o Ressuscitado:
1.º
Em primeiro lugar, aprendamos a venerar e a encontrar Cristo no corpo
das Escrituras.
Perante a incredulidade e o medo, os discípulos precisam
de aprender a ler e a escutar e a aplicar à vida a Palavra das
Escrituras. Para chegarem à fé em Cristo Ressuscitado, não basta vê-l’O e
tocá-l’O. É preciso abrir a inteligência à compreensão das Escrituras.
Jesus, tal como Pedro (At 3,13-19), ajuda-os a entrar na compreensão do
seu mistério, a partir do Antigo Testamento: “Tem de se cumprir tudo o
que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos
Salmos. Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as
Escrituras” (Lc 24,44-45). Os cristãos leem sempre o Antigo Testamento à
luz de Cristo morto e ressuscitado, na certeza de que «o Novo
Testamento está oculto no Antigo e o Antigo está patente no Novo» (Santo
Agostinho).
Sem o conhecimento das Escrituras não há, pois, verdadeira
fé na Páscoa de Cristo. As Escrituras cumprem-se na Páscoa do Senhor e,
por isso, o anúncio da Páscoa não pode fazer-se sem
recurso às
Escrituras: “Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de
ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em
seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações” (Lc
24,46-47).
A Palavra de Deus revestida de carne humana apareceu apenas
uma vez, agora essa mesma Palavra vem até nós nas Escrituras e na voz
humana de quem a proclama. Só quem conhece as Escrituras reconhece o
Ressuscitado!
2.º Em segundo lugar, aprendamos a venerar e
a encontrar Cristo no seu Corpo eucarístico, no pão partido e
repartido.
A presença de Jesus, primeiro com as palavras e depois com a
fração do pão, tornou possível aos discípulos reconhecê-l´O. Palavra e
Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem ser
compreendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus faz-Se carne,
sacramentalmente, na Eucaristia. Por isso, à Palavra de Deus e à
Eucaristia devemos a mesma veneração.
3.º Por último,
aprendamos a venerar e a encontrar Cristo no seu Corpo ferido.
O
Ressuscitado mostra não o rosto, mas as mãos e os pés. “Tocai-me e
olhai” (Lc 24,39), diz Jesus. É outra forma de dizer “Isto é o meu
Corpo, cuidai de Mim”! A mesa da Palavra e do Pão tornam-se então uma
fonte de caridade, que fazem de nós pessoas prontas a tocar e reconhecer
Jesus, no rosto dos pobres e dos que mais sofrem.
“Somos testemunhas destas coisas (Lc 24,48)! Que o nosso encontro com
Cristo Ressuscitado, no corpo da Palavra, no corpo eucarístico e na
carne sofredora dos irmãos, faça de nós testemunhas credíveis da
ressurreição!
Cristãos de peso e não cristãos pesados...
Que os outros vejam em nós pessoas tão felizes, tão
tocadas e tão transformadas pelo amor do Senhor, que a nossa própria
vida se torne pregação ao vivo, verdadeiro anúncio pascal.
Peçamos
essa graça ao Senhor, rezando, como o salmista nos ensina: “Fazei
brilhar sobre nós, Senhor, a luz do vosso rosto” (Sl 4,7).
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