O
que é um Ato de Contrição?
Entre
os atos do penitente, a contrição ocupa o primeiro lugar. Ela é «uma dor da
alma e uma detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar no
futuro» (01).
Quando
procedente do amor de Deus, amado sobre todas as coisas, a contrição é dita
«perfeita» (contrição de caridade).
Uma
tal contrição perdoa as faltas veniais: obtém igualmente o perdão dos pecados
mortais, se incluir o propósito firme de recorrer, logo que possível, à
confissão sacramental (02).
A
contrição dita «imperfeita» (ou «atrição») é, também ela, um dom de Deus, um
impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração da fealdade do pecado ou do
temor da condenação eterna e das outras penas de que o pecador está ameaçado
(contrição por temor).
Um
tal abalo da consciência pode dar início a uma evolução interior, que será
levada a bom termo sob a ação da graça, pela absolvição sacramental. No
entanto, por si mesma, a contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados
graves, mas dispõe para obtê-lo no sacramento da Penitência (03).
É
conveniente que a recepção deste sacramento seja preparada por um exame de
consciência, feito à luz da Palavra de Deus.
Os
textos mais adaptados para este efeito devem procurar-se no Decálogo e na
catequese moral dos evangelhos e das cartas dos Apóstolos: sermão da montanha e
ensinamentos apostólicos (04).
A
penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma
conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma aversão
ao mal, com repugnância pelas más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, implica
o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina
e a confiança na ajuda da sua graça. Esta conversão do coração é acompanhada
por uma dor e uma tristeza salutares, a que os Santos Padres chamaram animi
cruciatus (aflição do espírito), compunctio cordis (compunção do coração) (05)1431).
O
que vem primeiro: o arrependimento ou a fé? Essa é uma pergunta desnecessária;
e fútil, a insistência de que um é anterior ao outro. Não há qualquer
anterioridade. A fé para a salvação é uma fé de arrependimento; e o
arrependimento para a salvação é um arrependimento de fé...A interdependência
entre a fé e o arrependimento pode ser vista quando lembramos que a fé é a fé
em Cristo para a salvação do pecado. Mas, se a fé é direcionada à salvação do
pecado, tem de haver ódio do pecado e desejo de ser salvo do pecado.
Esse ódio
do pecado envolve arrependimento, que consiste essencialmente em converter-se
do pecado para Deus. Ora, se lembramos que o arrependimento é o volver-se do
pecado para Deus, esse volver-se para Deus implica fé na sua misericórdia
revelada em Cristo. É impossível separar a fé do arrependimento. A fé salvadora
é permeada de arrependimento, e este é permeada de fé.
A regeneração se torna
expressiva em nossa mente por meio do exercício da fé e do arrependimento.
O
arrependimento consiste essencialmente em mudança de coração, mente e vontade.
Essa mudança de coração, mente e vontade diz respeito, em especial, a quatro
coisas: é uma mudança que diz respeito a Deus, a nós mesmos, ao pecado e à
justiça. Sem a regeneração, os nossos pensamentos sobre Deus, nós mesmos, o
pecado e a justiça são drasticamente pervertidos. A regeneração muda a mente e
o coração. Ela os renova por completo. Há uma mudança radical em nossa maneira
de pensar e sentir. As coisas velhas passaram, e todas as coisas se tornaram
novas. É importante observar que a fé para a salvação é a fé acompanhada por
mudança de pensamento e atitude.
O
arrependimento é aquilo que descreve a resposta de converter-se do pecado para
Deus.
Este é o caráter específico do arrependimento, assim como o caráter
específico da fé é receber a Cristo e confiar somente nEle para a salvação.
O
evangelho é não somente a mensagem de que pela graça somos salvos, mas também a
mensagem de arrependimento e a mudança radical de mentalidade.
Padre
Emílio Carlos Mancini
__________________________
01-Concílio
de Trento, Sess. 14ª, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS 1676.
02-Cf.
Concílio de Trento, Sess. 14ª, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS
1677.
03-Cf.
Concílio de Trento, Sess. 14ª. Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 4: DS
1678: ID., Sess. 14ª, Canones de sacramento Paenitentiae, can. 5: DS 1705.
04-Cf.
Rm 12-15: Cor 12-13: Gl 5: Ef 4-6.
05-
Cf. Catecismo 1431
Nenhum comentário:
Postar um comentário