Retiro Pessoal Mensal
Mês de Maio/ 2013
Chamados à vida plena pela participação na
vida divina
Um fardo que nos alegra
Jesus disse: «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos,
que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque
sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» (Mateus 11, 28-30)
Num determinado
sentido, todos estamos fatigados, sobrecarregados. No fundo de nós, esconde-se
uma pobreza que, porque nos causa medo, nos oprime e nos pesa. Através das
palavras deste texto, Cristo acolhe esta fragilidade e não parece assustar-Se.
«Vinde a mim» diz como dirá mais tarde: «Deixai as crianças e não as impeçais
de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.» (Mateus 19, 14).
Jesus parece
ensinar-nos a apresentar esta pobreza a Deus que, apenas Ele, sabe cobri-la.
Assumindo as nossas impossibilidades, Cristo toma sobre Ele aquilo que, sendo
nosso, nos prejudica.
E a proposta de
Jesus vai ainda mais longe: os nossos ombros não permanecem vazios durante
muito tempo. Quando o fardo Lhe é confiado, devolve-nos um outro que parece
ainda mais pesado. Jesus chama a este fardo um jugo, como o grande pedaço de
madeira que une dois bois um ao outro para trabalhar.
De um esforço
solitário, passamos a participar num esforço a dois. Fazer-se boi partilhando o
jugo com Cristo, eis uma imagem única.
Evoca aquela de
que fala o profeta Isaías, a de um servo que sofre, carregado com o fardo de
outros.
Suportar a dois,
um gesto que se torna naquilo que nos liga a Deus. Mais do que não ter medo da
nossa pobreza, Deus permite-nos realizar com Ele a grande obra que concretiza
pelo mundo: libertar os homens dos fardos, em particular aqueles que lhes são
impostos por si próprios, por vezes devido à pouca consideração que têm por si
mesmos.
Não é uma tarefa
que se possa efetuar sozinho. Carregar-se a si mesmo significa, muitas vezes,
tornar-se a caricatura de si próprio, de tal forma preocupado consigo que chega
a esquecer-se dos outros ou, pior, a impôr-se-lhes.
Escutando Jesus
proferir estas palavras, trata-se, principalmente, de nos despirmos do nosso
problema e aceitar tomar em seu lugar o de Cristo, de assumir sobre nós um
fardo que, parodoxalmente, nos alegra.
Esta troca
lembra o próprio sentido da vida de Jesus. Nos primeiros séculos, ousava
dizer-se: Cristo revestiu-Se da nossa humanidade para nos revestir da Sua
divindade.
Assim, faz de
nós reis que nada mais têm a fazer do que carregar os fardos dos pequenos.
Para que o ser
humano não seja mais vítima de si mesmo, ousemos, então, oferecer os nossos
ombros. É um serviço real, o início da grande libertação, a vinda do Reino.
Chamados à vida
A vida é o
primeiro dom que recebemos de Deus, dom pelo qual nos chamou da não existência
à existência humana neste mundo. Dom maravilhoso e extraordinário, realidade
“sagrada” que foi confiada a nossa responsabilidade e, portanto, a nossa
custodia amorosa, a nossa “veneração”[1].
O enorme valor
que esta vida possui aos olhos do Criador fica manifestado no fato de que, logo
após da rejeição do homem[2], Ele não quis nossa morte, mas sim nossa conversão
e vida em sua dimensão completa. E chegou ao extremo de mostrar que a vida do
homem é valiosa para Ele, que Ele mesmo, fazendo-se homem, pagou por nosso
resgate um preço de Sangue na Cruz!
Sua vida pela
nossa! Em seu Filho
amado Deus nos presenteou novamente a vida perdida por nosso pecado e seu
anseio é que esta vida em nós chegue a sua plenitude.
O anseio do homem: uma vida plena
Quem de nós não
anseia uma vida plena, plenamente feliz? Não é esse o almejo constante que
brota do profundo de nossos corações? Não é esse o anseio que nos impulsiona
continuamente a buscar as fontes de uma alegria inesgotável[3]?
Todo ser humano
aspira à plenitude de vida simplesmente porque a isto está chamado, porque a
isto se orienta todo seu ser. Sabe bem que tal plenitude e felicidade não é
algo já dado, mas algo que deve buscar e conquistar nos dias que lhe são
concedidos viver neste mundo. Todos estamos continuamente em busca de uma vida
plena, plena de gozo e felicidade: ela é para nós como uma exigência profunda,
uma “necessidade vital”.
Mas, de onde vem
este anseio? Deus, autor de nossa vida, nos criou para que participemos de sua
própria vida e felicidade infinitas. Ele pôs esse selo em nós para que o
busquemos [4]. É a razão pela qual experimentamos esse impulso interior, essa
“sede de infinito” que nada pode apagar essa necessidade de plenitude e
felicidade.
Chamados à vida plena pela realização
Quando com São
Irineu afirmamos que a gloria de Deus é a vida do homem [5], não nos referimos
somente à vida entendida como um mero bater do coração, porque uma vida assim
pode chegar a ser muito miserável, um sobreviver mais que um viver. A vida do
homem, que é a glória de Deus, é a vida entendida como uma total realização do
ser, o homem que pela fé, amando e servindo, realiza-se como pessoa humana
plena na medida em que tudo isto lhe é dado neste peregrinar terreno, segundo o
divino desígnio.
Sinal de uma
correta realização é a fecundidade, a capacidade de produzir nova vida, de
transmitir a vida que por dom se possui, e por isto disse o Senhor: «A glória
de meu Pai está em que deis muito fruto»[6].
Com efeito, o
homem é fecundo e dá fruto de vida mediante a correta realização de seu ser,
seguindo a direção na qual apontam os dinamismos fundamentais inscritos e
impressos por Deus no profundo de sua mesmidade. Assim como um grão de trigo
“dá glória” a quem o criou realizando a
vida que em si levava oculta até alcançar a plena fecundidade, assim também o
ser humano poderá dar fruto abundante de vida e santidade graças à total
realização de seu ser, elevando com isso um contínuo canto de louvor e
glória Àquele que o criou.
Pois bem, a “vida do homem” em realidade só pode
realizar-se plenamente permanecendo em uma relação vital com o Senhor Jesus,
que é a própria Vida e que é a fonte de
vida de todo homem[7].
O cristão,
incorporado a Cristo pelo Batismo e na medida em que coopera com o dom do amor
derramado em seu coração e se abre ao dinamismo da graça vivificante, está
chamado a dar glória ao Pai realizando-se ele mesmo, alcançando pelo amor sua
própria plenitude em uma humanidade plena.
É nos passos do Senhor Jesus, na escola de Maria, que aprendemos também
que este crescimento na vida pela realização se dá na pedagogia da alegria-dor[8]
.
Chamados à vida plena pela participação na
vida divina
Deus chama, entretanto a todo homem a «uma
plenitude de vida que vai mais além das dimensões de sua existência terrena» [8],
plenitude que «consiste na participação da vida mesma de Deus»[9].
Com efeito,
quando o Senhor Jesus afirma que veio para que tenhamos vida, e vida em
abundância, se refere finalmente «àquela vida “nova” e “eterna”, que consiste
na comunhão com o Pai, a qual todo homem está chamado gratuitamente no Filho
por obra do Espírito Santificador»[10]. Com estas palavras, o Senhor Jesus
«abre diante do homem a perspectiva da vida divina»[11] e sustenta a aspiração
do homem à completa realização de si, já aqui em quanto lhe é dado e finalmente
na eternidade.
Esta vocação
sobrenatural à vida plena manifesta, por sua vez, a grandeza e o valor da vida
humana inclusive em seu período temporal. A vida no tempo é «condição básica,
momento inicial e parte integrante de todo o processo unitário da vida
humana»[12]. Já aqui o homem pelo Batismo participa da vida divina, e está
chamado a ir realizando-se nesta vida mediante a progressiva conformação com o
Senhor Jesus, até alcançar a verdadeira plenitude de vida na eterna
participação da comunhão divina de Amor.
Para rezar:
O Verbo foi enviado pelo Pai: existia junto
ao Pai: Jo 1,1-2; 17,5; saiu do Pai: Jo 7,28-29; 8,42; 13,3; 16,27; fez-se
homem: Lc 1,26ss.; Jo 1,14.
Para que tenhamos vida: Jo 10,10; 3,17;
6,33; 12,46-50; Lc 19,10;
Cristo é a Vida, em si mesmo e para o
homem: Jo 1,4.9; 6, 68; 10,28; 14,6; 1Jo 1, 2-3.
O homem obtém a vida nova e eterna mediante
a adesão ao Filho: Jo 1,12; 3,14-16; 5,24; 6,40;
O Senhor nos vivifica por seu Espírito: Jo
4, 14; 7, 38-39; Rm 8, 10-11.
Questione-se:
Que importância tem o nascimento do Senhor
Jesus em tua vida?
Por
que tem relação contigo?
Tomaste
consciência do valor do dom da vida?
Amas
o dom da vida?
Você
tem atitude agradecida a Deus por haver te chamado à vida? Em que, como?
Enumera alguns anseios que te fazem
descobrir que você está chamado à vida plena.
Reflete nesta citação: “Eu vim para que
tenham vida e vida em abundância”, Jo 10,10.
A que
se refere o Senhor Jesus?
Medite:
![-](file:///C:\DOCUME~1\USER\CONFIG~1\Temp\msohtml1\01\clip_image001.gif)
Olhando à minha vida
pessoal, quais são os fardos que devo carregar pelos outros? Possuem uma
ligação com o «jugo» de Cristo?
![-](file:///C:\DOCUME~1\USER\CONFIG~1\Temp\msohtml1\01\clip_image001.gif)
Como viver da melhor
forma a dimensão da preocupação pelo outro presente na relação de amor?
Bom Retiro +
___________________________________________________
[1] Ver
Evangelium vitae, 22.
[2] Ver
Catecismo da Igreja Católica, 397-398.
[3] Ver Jo
4,13-15.
[4] Catecismo da
Igreja Católica, 1718.
[5] São Ireneo,
haer. 4, 20, 7; ver também Catecismo da
Igreja Católica 294; Evangelium Vitae, 34b, 38b.
[6] Jo 15,8.
[7] Ver Jo 1,4.
[8] Ver Luis
Fernando Figari, Em Companhia de Maria, VE, Lima 1995, pp 23-24, 56-65.
[9] Evangelium
vitae, 2.
[10] Ali mesmo.
[11] Ali mesmo,
1.
[12] S.S. João
Paulo II, Mensagem para a Jornada mundial do enfermo, 6/8/99, n.10.
[13] Evangelium
vitae, 2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário