"NO AMADO DO PAI, SOMOS TODOS FILHOS!"
O Homem, feito a imagem e
semelhança de Deus, é chamado a viver a vocação plena do amor, para
atingir o auge da sua existência, superando seus limites. Deus o fez
para grandes conquistas e o revestiu com a sua força.
Jesus Cristo é o
primogênito das criaturas, ao encarnar-se em nosso meio, ele aceitou o
desafio de ir à frente da humanidade para mostrar o caminho, nesse
itinerário cheio de desafios como a trilha de Indiana Jones, que requer
do aventureiro muita habilidade, prontidão e persistência.
No evangelho desse
Domingo do Batismo do Senhor, Lucas apresenta-nos o Filho Amado do Pai,
Aquele com quem o Pai se alegra, aquele que está pronto para o
confronto definitivo com as forças do mal.
O Antigo Testamento é todo
esse longo tempo de preparação, de exercício e treinamento, o homem é
estimulado e encorajado por Deus para o combate e a vitória, Deus lhes
empresta sua coragem e sua força, presente no seu espírito, que se
apodera daqueles que ele chama, profetas e reis, juízes, nenhum deles
agiu sozinho mas deixaram-se conduzir pelo Espírito de Deus.
Mas é em Jesus de Nazaré
que todas as promessas serão cumpridas, é ele o verdadeiro ungido do
Senhor, o Servo escolhido, o predileto e amado, aquele que não
sucumbirá diante do mal, mas será persistente e fiel até que todo mal
seja aniquilado e o Reino impere por todo sempre.
É este homem forte,
perfeito e santo, preparado para a missão, sem tremer ou vacilar, é o
Jesus que emerge das águas após receber a força do Espírito Santo e
ouvir a voz do Pai que o confirma – “Tu és o meu filho amado, em ti
ponho o meu bem querer”.
Ele é mais forte do que
João e todos os profetas que o anunciaram, ele é mais Poderoso que
todos os reis que governaram o Povo de Israel, simplesmente não porque
fala em nome de Deus, mas porque é o próprio Deus, que em Jesus vem dar
a cada homem o seu espírito de força, coragem, determinação, empenho,
ou seja, ele restituiu a cada homem aquilo que Adão havia perdido,
resgatando a humanidade do fracasso, direcionando para a vitória,
mudando o rumo da trajetória humana, e tudo começa no dia do nosso
Batismo...
O Batismo penitencial de João era apenas um sinal exterior, que
mostrava a vontade e o desejo que o homem tinha, de mudar de vida, o
Batismo de Jesus, é o momento em que Deus se abre para esse homem que
demonstra ter consciência do seu erro e fracasso, Deus se inclina para
ouvir este homem que agora quer vencer, e ao chamar a Jesus de Filho
amado, Deus esta dizendo a todo homem, que ele aprova essa decisão
tomada, e que mais do que isso, ele colocará nas entranhas do homem o
poder do seu Espírito, a força poderosa que conduzirá o homem á
vitória.
Mas o Batismo de Jesus,
além de tudo isso, tem um significado ainda mais profundo, ele caminha à
frente de todos os batizados, e como aquele companheiro mais velho do grupo de adolescentes, Ele afirma com muita propriedade, que agora o
homem está realmente preparado para o confronto, pois ao ser ungido,
ele também nos ungiu e nos capacitou dando-nos todos os dons
necessários para atingirmos nosso objetivo que é alcançar a vida plena,
pois, embora por adoção, nós também somos em Cristo, os Filhos e
filhas amados, com quem Deus se alegra, e o Batismo é o dia em que
Deus, oficialmente reconhece cada homem como seu Filho....
Mistério do batismo
Hoje é um dia para dar
graças a Deus pelo dom do nosso batismo. Você se lembra do dia, mês e
ano em que foi batizado? É importante: foi o dia do seu nascimento
para Deus, para a vida sobrenatural. Com a mesma alegria com que
celebramos o nosso aniversário, deveríamos celebrar também o nosso
aniversário batismal, e ainda com maior solenidade. Lá fomos
regenerados, o pecado foi destruído, fomos transformados em filhos de
Deus e em membros da Igreja.
No nosso caso está claro,
mas, e no caso de Cristo? Consta pelo Evangelho que acabamos de
escutar que ele também foi batizado. Contudo, ele não tinha pecado, é o
Filho de Deus e o Fundador da Igreja. Ora, o seu batismo tem algum
sentido? Ou será que devemos admitir que existia algum pecado em
Jesus? É uma verdade de fé que Cristo não teve nenhum só pecado. Já
Santo Ambrósio, diante dessa dificuldade, respondeu que o Senhor foi
batizado, não para ser purificado, mas para purificar as águas nas
quais seríamos batizados.
Além do mais, no batismo
de Cristo vemos a estrutura fundamental do batismo da Igreja: água,
presença das três Pessoas da Trindade, alguém que batiza e alguém que é
batizado.
Essa estrutura seria posteriormente desenvolvida na
tradição litúrgica da Igreja, guiada pelo Espírito Santo, com diversos
ritos que ajudam a dar um maior entendimento do que está acontecendo
misteriosamente enquanto se realizam os gestos externos de passar pela
água ouvindo do ministro sagrado a invocação do Pai e do Filho e do
Espírito Santo.
No entanto, o essencial, que aparece em todos os ritos
litúrgicos, já se encontra no batismo de Cristo no Jordão e no
mandato de Mt 28,19 (“batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”):
o batismo se realiza com água em nome das três Pessoas da Trindade e
há sempre alguém que o administra (bispo, presbítero ou diácono) e
alguém que o recebe (sujeito do sacramento); pelo menos esta é a
maneira ordinária de batizar ou de ser batizado.
Todos os mistérios da vida
de Jesus são salvadores, o batismo no Jordão também; Jesus é o único
Salvador de todo o gênero humano. No mistério do seu batismo, o Senhor
santifica as águas nas quais seríamos sepultados em sua morte e
vivificados em sua Ressurreição, este evento também é a “manifestação
(Epifania) de Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus” (Catecismo,
nº 535).
Assim como pelo contato do
madeiro, as águas amargas de Mara se tornaram doces (cf. Ex
15,22-27), assim também pelo madeiro da Cruz e pelo passar de Cristo
por aquelas águas do Jordão, elas se tornaram capazes de lavar os nossos
pecados; elas são a partir desse momento signos da ação eficaz de
Deus quando a elas se assomam os nomes das Pessoas divinas.
Fomos batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, fomos batizados “no Espírito Santo e no fogo”
(Lc 3,16). Não necessitamos, portanto, depois do nosso batismo, um
“batismo no Espírito Santo”, o que nós necessitamos é ser dóceis à
ação do Espírito Santo nas nossas almas. Quando isso acontece, quando
nos despertamos para a ação de Deus através da fé e da conversão, da
volta aos sacramentos, da escuta da Palavra de Deus, se dá o que nós
chamamos “efusão do Espírito Santo”. É como se o Espírito Santo, que
está em nós pelo batismo, não encontrasse uma maneira de atuar porque
nós, pela dureza do coração, não permitimos. Por outro lado, qualquer
pecado grave expulsa o Espírito Santo das nossas almas, daí a
importância da confissão sacramental e de constantes efusões do
Espírito Santo. Tudo é graça! É preciso que recebamos essas graças com
espírito de fé e agradecimento.
De fato, os “mysteria
baptismatis”, expressão herdada dos Padres da Igreja que quer dizer
“mistérios do batismo”, incluíam sempre para os mesmos Padres os
Sacramentos do Batismo e da Confirmação, mostrando assim a grande
unidade entre o Batismo e a doação do Espírito Santo. Hoje em dia, a
Igreja administra o Sacramento do Batismo e o da Confirmação em
celebrações distintas e, contudo, continua manifestando essa unidade
ao ungir o batizando com o óleo do crisma à espera do momento em que
será crismado.
O BATISMO DO SENHOR
AT (Lc 3, 15-16.21-22)
INTRODUÇÃO: O
testemunho de João, o Batista, é duplo: Primeiro ele afirma o que não
é para depois apontar que é a voz que prepara o que realmente importa
e que deve iniciar o tempo futuro,o tempo do Senhor. Porém temos além
do testemunho humano de João o testemunho do próprio Deus. A voz veio
após a abertura do céu e em forma corporal, o Espírito posou sobre
Jesus que recebeu o batismo de João. A voz de João era de preparação e
conversão. A voz do Espírito de Deus e sua presença foi um
consequência dessa preparação e dessa humilde confissão. Também em nós
é necessária essa conversão que o evangelho chama metanoia para que o
Espírito habite dentro de nós.
NEGATIVA DE JOÁO: Estando, pois, em expectativa [prosdoköntos<4328>=existimante] a multidão, e meditando [dialogizomenön<1260>=cogitantibus] todos
em seus corações sobre o João, se não era ele o Cristo (15),
respondeu o João a todos dizendo: Eu certamente vos batizo [baptizö<907>=baptizo] em água; vem, porém, o mais forte [ischuroteris<2478>=fortior]do que eu do qual não sou digno de desatar [lusai<3089>=solvere] a correia [imanta<2438>=corrigia] das sandálias. Ele vos batizará em espírito sagrado [agiö<40>=sancto]
e em fogo (16). Existimante autem populo et cogitantibus omnibus in
cordibus suis de Iohanne ne forte ipse esset Christus. Respondit
Iohannes dicens omnibus ego quidem aqua baptizo vos venit autem
fortior me cuius non sum dignus solvere corrigiam calciamentorum eius
ipse vos baptizabit in Spiritu Sancto et igni. 40>2438>3089>2478>907>1260>4328>
EM EXPECTATIVA: A frase grega é um particípio de presente do verbo Prosdokaö como
significado de estar a espera de, ou na expectativa. Eram os tempos
em que Israel esperava o Rei-Messias como Salvador. Lucas usa um termo
geral, falando das suposições e rumores da época. João, testemunha
dos fatos e que foi discípulo do Batista, concretiza mais a pergunta e
por ele, sabemos que a pergunta foi feita de modo formal por
sacerdotes e levitas, especialistas em questões de purificação ritual,
da classe dos fariseus ( 1, 19-25). Tenhamos em conta que João, o
Batista, era filho de um sacerdote e que os levitas eram geralmente os
guardas do templo. A pergunta era dupla: Quem és tu? E qual o teu direito para batizar? A
reposta de João indica que os judeus, na época, esperavam três
eventos em particular: um ou vários Messias, Elias de volta, e um
profeta.
PRIMEIRA OPÇÃO: O Messias era o título de um rei davídico esperado na época. Elias porque também era esperado como precursor. Finalmente o profeta, pois era voz comum que com o Messias proposto por Malaquias em 3, 1 e 23, viria Elias, o profeta: Os envio o meu mensageiro(…) e vos enviarei Elias, o profeta, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor.
Do texto, podemos deduzir que a vinda do Messias (o mensageiro) era
um ato de juízo divino, pois o dia do Senhor é como anteriormente
demonstramos (ver comentário 1o Domingo do Advento no Dia
do Senhor) um dia terrível. Isso mesmo afirmará o Batista ao afirmar
quem vos ensinou a fugir da ira que está por vir?(Lc 3,7). Sabemos que
a PALAVRA Massiyah significa ungido (lambuzado) com óleo, traduzida ao grego por Xristós
ou Cristo. A palavra sai 40 vezes no AT. Inicialmente, o Ungido era o
sacerdote, como podemos ver no livro do Levítico. Logo, passou a
designar o Rei, nos livros de Samuel, Crônicas e Salmos; algumas vezes
o povo de Israel (1 Cr 16,22 e Sl 105, 15) e, unicamente, em Is 45,1 é
Ciro, o ungido ( como para designar que devia ser respeitado como rei
de Israel?). Finalmente, a palavra Messias tem em Dn 9, 25-26 um
significado no NT, que é o de Xristós grego, empregado por João em 1, 41. Segundo a profecia de Natã “Tua casa e tua realeza serão para sempre estáveis diante de ti, e teu trono, confirmado para sempre”(2
Sm 7, 10). Por isso, o Messias, como ungido do Senhor, viria quando o
rei de Israel não fosse de origem davídica. E, precisamente, estes
eram os tempos. O Messias seria um rei que administrasse justiça,
governasse todos os homens e seria a salvação do povo.
AS OUTRAS DUAS OPÇÕES são também rejeitadas por João, o Batista. Vejamos: SERIA ELIAS?
Seu nome significa cujo deus é Jahveh. Elias foi o restaurador do
javismo ao exterminar os profetas dos “Baalim” no monte Carmelo (1 Rs
cap 18). Milagroso e solitário, vestia uma túnica feita de pelos com
os lombos cingidos com um cinto de couro (2 Rs 1,8) à semelhança do
Batista. Sua vida não terminou com a morte comum, mas foi elevado ao
céu num carro com cavalos de fogo (2 Rs 2, 11). Devido a este último
sucesso, os judeus esperavam sua volta nos tempos messiânicos (Ml
4,5). Jesus identifica Elias com o Batista(Mt 11, 12-14) O próprio
João o nega em sua humilde confissão.
O PROFETA? A palavra significa aquele que fala em nome de Deus. Em hebraico é geralmente usada a palavra NAVI em plural naviim.
De Aarão diz-se que era o profeta de Moisés (Êx 4, 10-16). Este
terceiro personagem, esperado nos tempos messiânicos, era sem dúvida
devido às palavras de Moisés em Dt 18, 17-22 : ”Um profeta como tu suscitarei do meio de teus irmãos’.
João nega também esta suposição que aparece implícita nas palavras de
Jesus: (Mt 11, 9-10) louvando a figura do Batista. É mais que um
profeta porque não unicamente revela a palavra, mas a pessoa que é a
mesma palavra de Deus.
A VOZ: João justifica sua
norma de atuação declarando que é a voz que brada no deserto, como
disse o profeta Isaías (40, 3-4 ). A finalidade dessa voz era preparar
os caminhos para o Senhor. Uma volta dos corações dos filhos à crença
dos pais e conduzir os rebeldes a pensar como homens honestos a fim
de formar um povo digno do Senhor (Lc 1, 17). Em definitivo, um
reformador do verdadeiro Javinismo, como foi Elias, o profeta.
O BATISMO DE JOÃO: Eu vos batizo em água: Batizo, ou melhor, seria submergir em água. No grego clássico havia dois verbos para indicar um mergulho em água: Bapto e Baptizo. O médico Lisander que viveu perto do ano 200 aC os distingue perfeitamente: para fazer picles deve primeiro mergulhar (bapto) o vegetal em água fervente e depois submergi-lo (baptizo)
em vinagre. Desse modo o batismo não deve ser um ato casual, mas um
processo permanente. É uma conversão e, portanto, significa uma
mudança continuada. Lucas fala da mudança que João exige do povo
comum, dos coletores de taxas e dos policiais. Isso entre os judeus.
Para os gentios é só abrir as páginas de Paulo aos romanos em 1,
25-31 para ver em que devia consistir a methanoia
[conversão] entre eles. O batismo, segundo Paulo, é para se despojar
do velho homem, corrompido com concupiscências enganosas, para se
vestir do homem novo, criado segundo Deus em justiça e retidão,
procedentes da verdade (Ef 4,22-24). Podemos afirmar que, diante
destas reflexões, os batizados são menores que os lavados pela água
inicial.
O MAIS FORTE:
João acrescenta um ponto final: Virá um mais forte (maior) do que ele
do qual não é digno de levar as sandálias, como escravo. AS SANDÁLIAS: O Hypodema grego (atado em baixo literalmente; em latim calceamentum)
indica qualquer tipo de calçado, especialmente uma sola de couro,
casca de palmeira ou caniço, na planta dos pés que era depois atada
com correias de couro (o imas grego, em latim corrigia).
Esse calçado era usado para as viagens ou trabalho da lavoura da
terra. Era próprio da mulher ou do escravo mais humilde receber o dono
após voltar de uma viagem, desatar os cordéis das sandálias e lavar
seus pés. Esta lavagem se fazia sempre que um hóspede entrava numa casa
para um banquete (Gn 18,4 e Lc 7,38). Jesus lavou os pés dos
discípulos antes da última ceia (Jo 13, 5). Na igreja primitiva, as
viúvas lavavam os pés dos santos (=cristãos)( 1 Tm 5, 10).
Compreende-se o costume pela razão de que os comensais se deitavam
praticamente no chão sobre travesseiros, para os banquetes, entre os
quais devemos incluir a Ceia do Senhor (1 Cor 11,20). O Batista se
rebaixa até dizer que, como servo, nem é digno de fazer o que o último
dos tais faria ao seu senhor.
EM ESPÍRITO SANTO E FOGO: Ou seja, uma imersãono espírito divino [pneumati agiö]
em que os profetas e os homens santos escolhidos por Deus estavam
habitualmente imersos, ao mesmo tempo que uma simbólica purificação
pelo fogo, ou seja a máxima pureza que um metal podia obter através de
métodos de limpeza de escórias e contaminações. Logicamente, o
Batista não conhecia a ação do Espírito como terceira pessoa da
Trindade; mas nós temos textos de Qumrã que ele poderia conhecer, e
que dizem: “Então (quando aparecer para sempre a verdade sobre a terra) Jahvé purificará em sua verdade todas as ações do homem e depurará (por meio do fogo) para
si, o corpo de cada um; a fim de eliminar todo espírito de iniquidade
de sua carne e limpá-lo pelo espírito de santidade de todos os atos
de impiedade. E ele derramará sobre o homem o espírito de verdade como
água lustral”.( água obtida pela imersão de um tição aceso
trazido do altar dos sacrifícios ). No AT existiam várias lavagens com
água que se consideravam ritos, e numa delas misturavam-se cinzas do
sacrifício como é o caso da novilha vermelha para a água purificadora da
oferta pelo pecado (Nm 19, 9). Era o chamado Korban para Aduma (sacrifício da vaca vermelha) em que se prescreve a Juka (estatuto) da Torah
(lei) como uma coisa especial, embora não se saiba o porquê de uma
vaca vermelha. Talvez por representar a cor do sangue da menstruação
feminina que constituía com a morte a principal causa de impureza. O
fogo era também instrumento de purificação (Nm 31,23) O mensageiro
do Senhor purificará como o fogo do ourives e a potassa dos
lavandeiros. Purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e
como prata (Ml 3,2-3).Qual acrisolador te estabelecerei entre o meu povo…em vão continua o depurador porque os iníquos não são separados
(Jr 6, 27-29). Com estes textos do AT podemos deduzir que, sem
dúvida, o batismo ao qual se referia João era um batismo de
purificação. O dele era em água lustral para preparar o batismo mais
completo do Messias, que apresentava duas partes diferentes: 1a). A parte principal era o espírito novo a receber os que se submergiam no novo batismo de verdade e santidade. 2a)
Ao mesmo tempo pelo batismo em fogo referia-se João a esse sinal de
contradição (Lc 2, 34) que foi a vinda do Messias, e que imediatamente
expressará com o símbolo da pá para separar bons e maus. É o batismo
na ira divina. Por isso no início clamará: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?
O Batismo do Messias era, pois, uma imersão no espírito divino da
verdade para quem estivesse preparado pela mente da conversão, ou no
fogo destruidor para quem não tivesse preparado o caminho da verdade,
que não se admite sem uma pureza de mente e limpeza de sentimentos. A
alusão ao Batismo sacramental é como diz um autor, um estágio tardio
(o 3o) da tradição, uma vez sabida a força do Espírito Santo em Pentecostes.
BATISMO DE JESUS: Sucedeu, pois, que ao ser batizado todo o povo, também Jesus sendo batizado e orando, foi aberto [aneöchthënai<455>=apertum] o céu (21), e desce o Espírito, o Divino [agion<40>=sanctrus], em forma corporal [sömatikös<4984>=corporali] como pomba sobre ele e uma voz do céu surgir dizendo: Tu és meu filho ,o dileto [agapëtos<27>=dilectus em ti me agradei.[ëudokësa<2106>=conplacuit] (22).
Factum est autem cum baptizaretur omnis populus et Iesu baptizato et
orante apertum est caelum, et descendit Spiritus Sanctus corporali
specie sicut columba in ipsum et vox de caelo facta est tu es Filius
meus dilectus in te conplacuit mihi. 2106>27>4984>40>455>
A EPIFANIA:
Usando os tempos do verbo de modo correto, podemos traduzir: e
aconteceu que quando Jesus foi batizado e estando em oração;o primeiro
é um passado e o segundo um presente. Houve, pois dois tempos
diferentes. Uma vez batizado (em latim Jesu baptizato), e estando orando (orante) é quando se abriu o céu, ou seja, a abóbada ou teto arqueado [o firmamento
do Gênesis] do qual pendiam as estrelas e que segurava as águas
superiores, separando o terceiro céu, morada esta do Altíssimo. Esse
abrir-se indica um relâmpago (Deus é luz) com o correspondente trovão,
como descreve João evangelista a voz da epifania aos gregos (Jo 12,
28). Testemunha deste sucesso extraordinário foi o Batista, porque
como ele afirmou em testemunho: tenho visto o Espírito descendendo como uma pomba do céu e permaneceu sobre ele (Jo 1, 32). Esse Espírito será sagrado [agios]
para Lucas e será o Espírito, o de Deus (sic) para Mateus. Em nenhum
caso se afirma taxativamente que era figura de pomba ou como pomba, mas
que a sua descida era suave como a de uma pomba que está pousando.
A VOZ:
Tu és o meu Filho, o amado, em ti encontrei satisfação. O adjetivo, o
amado, é propriamente um epíteto, um cognome que o distingue
perfeitamente dos outros filhos e estabelece uma relação especial entre
Jahveh e Jesus, acrescentada por que em Ti tenho meu agrado, que
poderíamos traduzir por em ti encontro meu enlevo, tu és minha
maravilha, o desejo cumprido de meus planos. Seria esta a tradução
direta do texto hebraico de Is 42,1 : “Aqui está meu servo a quem
protejo; meu escolhido em quem minha alma se agrada. Pus nele meu
espírito para que traga a justiça às nações”. Porém o texto grego diz: Jacó, meu servo, eu o assistirei; Israel, meu escolhido, eu o aceitei.
Não obstante, Mateus traz uma versão em 12, 18 citando o profeta
Isaías que confirma um texto grego próximo ao hebraico original: “Eis o meu servo [pais] (em grego pais significa filho ou servo) a quem eu escolhi, o meu bem amado [agapetos] em quem se alegrou minha alma. Sobre ele porei o meu Espírito e ele anunciará o julgamento às nações”. Com
isso o filho se transforma em servo. O servo de Jahveh e a sua
incumbência será proclamar um juízo às nações ou uma sentença contra
os gentios. Se comparamos o texto de hoje com os outros dois das
epifanias evangélicas, o do Tabor (Lc 9, 35;Mt 17,5 e Mc 9,7) e o do
João 12, 28, vemos como o Filho é louvado e agrada plenamente o Pai
por se transformar em servo (escravo)(At 3, 13) e vemos como o servo
(Maria e Israel, Lc 1,54) se transforma em filho precisamente pela sua
obediência, e assim agrada plenamente o Pai. Ver Jo 15, 10.
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