João, um dos personagens da
cena, indica o pormenor daquela hora. Jamais ele poderia esquecer aquele
momento único, como o enamorado não perderá nunca da memória a esquina e
a hora em que conheceu o seu verdadeiro e primeiro amor.
João di-lo com
precisão. Era por volta das quatro horas da tarde.
No poente, o Sol
despedia-se com o sorriso e a promessa de voltar. Guardando na sombra da
noite os segredos daquele dia único. Por isso, João fala desta conversa
com algum pudor. Sabemos apenas que foi íntima e longa...
Tudo
começara assim: O Batista apontara para Cristo, o Cordeiro. E eles,
atraídos pelo olhar d’Aquele desconhecido, “cheios de curiosidade,
decidiram segui-l’O à distância, quase tímidos e embaraçados. Até que o
próprio Jesus, voltando-Se, perguntou: «Que procurais?»... Suscitando
assim aquele diálogo que daria início à aventura de João, de André e de
Simão”.
Diante de uma pergunta tão direta, veem aumentar a sua surpresa
e respondem com outra pergunta: «Mestre, onde moras»? Ele
perguntou-lhes o que procuravam e eles responderam a quem buscavam...
Não respondem à pergunta de Jesus, mas querem entrar na intimidade do
desconhecido.
Não procuram uma coisa, nem sequer uma ideia ou uma
verdade. Procuram uma pessoa. «Onde moras»? Procuram Alguém com quem
viver, alguém cuja vida possam partilhar. Pediram-lhe a sua amizade. A
sua companhia. A sua intimidade. E Jesus abriu-lhes o coração de par em
par. E os seus corações inquietos sentiam-se como se tivessem chegado a
casa.
Com Jesus é sempre assim. “Quando tratamos algo com
Ele, a pergunta é sempre invertida: de interrogantes, tornamo-nos
interrogados, de «procuradores» passamos a «procurados»; é Ele de
fato o primeiro que desde sempre nos ama. Esta é a dimensão
fundamental do encontro com Cristo: não se está diante de uma coisa, mas
de Alguém «Vivo».
Os cristãos não são discípulos de um sistema
filosófico, são homens e mulheres que fizeram na fé a experiência do
encontro com Cristo”. “Quem tiver um conhecimento apenas do Jesus
histórico (fruto da curiosidade) e nunca se tiver encontrado (na
intimidade) com Cristo Ressuscitado, nunca perceberá a fé da Igreja e a
relação desta com Jesus Cristo”.
Por isso, o apelo do Evangelho, pode
concretizar-se, em duas direções:
1ª. Buscar Jesus. Fazer
d’Ele, a única orientação do espírito, a única direção da inteligência,
o único desejo da vontade, a morada primeira e a pátria última do nosso
coração. «Não tenhais medo de aproximar-vos d’Ele, de passar a entrada
da sua casa, de falar com ele face a face, como se convive com um amigo
(...) Derrubai, assim, as barreiras da superficialidade e do medo”
“para que as perguntas que brotam do coração humano, diante do mistério
da vida e da morte sejam dirigidas a Ele. De facto, só d’Ele se podem
receber respostas que nem iludem nem desiludem”!
2ª. Encontrar o
Mestre, onde Ele está: no segredo da oração, na Luz da sua Palavra, na
intimidade da Eucaristia, na comunhão da sua Igreja. Para isso,
«conversai com Jesus na Oração e na escuta da Palavra; saboreai a
alegria da Reconciliação no sacramento da Penitência; recebei o Corpo e o
Sangue de Cristo na Eucaristia”6. E, como os discípulos, naquela outra
tarde inesquecível, em que lhes ardia o coração ao escutar e ao
pressentir Jesus, dizei baixinho: Ficai conosco, Senhor!... Na verdade,
Eles foram ver onde Jesus morava e ficaram com Ele nesse dia... E,
provavelmente, naquela noite não conseguiram dormir com tamanha
alegria!...
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