Um
dos conceitos que mais me preocupam hoje é o conceito de amor.
O
amor hoje é identificado como um sentimento.
E
os sentimentos podem desaparecer, como todos nós sabemos. Se o amor, se um
casamento, estão apoiados num sentimento, passam a ser extremamente
vulneráveis, sujeitos a desaparecer em qualquer momento.
Imaginem,
então, a insegurança que as pessoas vivem!!! É como viver com a espada de
Dâmocles sobre a cabeça, pois o amor de alguém por nós pode acabar a qualquer
momento.
Mas,
graças a Deus, o amor não é só um sentimento. O sentimento para o amor
verdadeiro é uma consequência e não a sua essência. A essência do amor
verdadeiro é a entrega.
Expliquemos
melhor.
O
amor é uma escolha; a escolha de uma pessoa que eu decido amá-la. Vamos supor
um rapaz que está namorando uma menina e depois de um tempo de namoro vê nesta
menina a sua esposa, aquela que será a mãe dos seus filhos. E é ciente das suas
qualidades e defeitos. Pois bem, vendo-a assim, decide se casar com ela, a pede
em casamento e se casa com ela.
É
lógico que ao longo da sua caminhada podem aparecer moças mais virtuosas do que
a sua esposa, moças mais belas, mas a partir do momento que decidiu se casar
com ela, ela é o seu foco, ela é o seu amor. E qual será a sua ação ao amá-la?
Entregar-se a ela.
E
nessa entrega acontecerá um fenômeno que acontece toda vez que nos entregamos:
quanto mais eu me entrego, mais eu amo.
A
entrega, no fundo, é o amor. A entrega aumenta o amor e o amor aumenta o desejo
de entrega. É um círculo virtuoso. Não é verdade, por exemplo, que se eu tenho
um sobrinho, quanto mais eu me entregar a ele, mais eu vou amá-lo?
Pois
bem, a entrega é a essência do amor. E quando o amor cresce, é natural que o
sentimento também cresça, se bem que há momentos em que não sentimos nada,
apesar de amarmos.
Saber
que o amor é entrega nos dá um grande alívio. Ou seja, o amor não está ao sabor
do vento, das circunstâncias. Mas de algo muito mais sólido que é a entrega
minha por alguém e do outro por mim. Eu, por exemplo, quando tinha 16 anos
decidi ser sacerdote e me entregar a Deus. É lógico que meu sentimento por Deus
já passou por fases de escuridão e de luz. Mas eu não abandonei a Deus porque
estava passando por um momento de escuridão e de crises ou aridez, e olha que
foram muitas e ainda muitas vezes me deparo com situações de conflitos.
Eu
decidi me entregar e Deus e estou perseverando nesta entrega depois de 30 anos
no ministério. Eu sei que este é o meu caminho. E sei também que quanto mais eu
me entrego a Deus, mais eu o amo.
Sei,
portanto, que meu amor está muito mais nas minhas mãos, do que nas mãos de
Deus, pois depende muito da minha entrega. E como tudo na vida, se não luto,
pode cair na rotina. Mas se cai na rotina, a culpa é minha que não estou
encontrando novas formas de me entregar, novas belezas em Deus.
Eu
luto, por exemplo, diariamente para celebrar a melhor missa, pois quando estou a celebrar me sinto
amado por um Deus que me amou ao extremo a ponto de mandar seu Filho para
morrer por mim , muitos acham que minha missa é demorada mas o calvário durou 3
horas e perpetua este amor em cada cálice e patena erguidos . E o quanto mais
eu luto, mais eu descubro a beleza da Santa Missa e mais eu a amo e
consequentemente a Deus.
Como
todo ser humano, também, tenho tentações no caminho que sigo. Sempre vão
aparecer miragens “tentadoras” para eu largar o meu caminho. Mas isso acontece
na vida de todos. Mas eu sei qual é o caminho que Deus quer para mim e,
consequentemente, o caminho que me fará feliz.
Sei
que a felicidade não está nestas miragens.
Vocês
também têm a mesma experiência. Sabem o caminho que Deus quer que vocês sigam e
que ali está a felicidade apesar de todas as tentações que possam surgir.
Amar
é, portanto, uma entrega que se renova livremente a cada dia.
Amar
é seguir um caminho que Deus mostrou para nós.
Sabendo
que o amor é entrega, que se alimenta da entrega, façamos o propósito de
entregar-nos cada vez mais a quem amamos. E ajudemos também a quem decidiu se
entregar por nós que não deixe de se entregar. Se bem que a nossa própria
entrega, amorosa, gratuita, sempre será um estímulo para a entrega da pessoa
amada. E que a partir de agora quando ouvirmos alguém dizer que “o amor
acabou”, ajudemos esta pessoa a refletir se seu amor não estava baseado mais no
sentimento, pois, de fato, o sentimento pode passar, mas não o amor verdadeiro.
São
João da Cruz grande místico dizia:” O amor não cansa e nem se cansa”
*Obs:
uma situação difícil, mesmo para a pessoa que se entrega ao outro cônjuge é
quando o outro cônjuge fez ou tem feito algo muito ruim para nós. Mas falaremos
disto noutra ocasião. Para já fiquemos com a ideia de que o amor é, na sua
essência, entrega.
Pe.Emílio
Carlos Mancini+
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