A hospitalidade
é algo sagrado para as tradições orientais.
Acolher o outro em sua casa
não é fardo, mas um dever e uma graça. Acolhe-se o outro como a
presença do próprio Deus.
Esta foi a atitude do patriarca Abraão, na
primeira leitura: acolheu três homens, recebendo o próprio Deus e uma
mensagem de salvação: o anúncio do nascimento de Isaac. Jesus também foi
acolhido na casa de Marta e Maria, pelo dom da hospitalidade.
Em
Bethânia, Jesus encontrava o seu refúgio, o seu descanso.
Há algumas
circunstâncias que lutam contra a hospitalidade, assim como há algumas
disposições interiores que nos ajudam a sermos hospitaleiros.
Para
algumas pessoas, trata-se de um movimento espontâneo; para outros a
hospitalidade exige treino e percepção de si mesmo.
Há pessoas que
são fechadas em si mesmas. Não acolhem, não sorriem, não dão o primeiro
passo. Parecem que estão com medo de alguma coisa ou de alguém e,
portanto, precisam estar na defensiva.
Aqui não se incluem os tímidos,
mas as pessoas fechadas e agressivas. Não podemos ver o nosso irmão como
um inimigo; devemos ter a capacidade de dizer: “Entre na minha casa, a
minha alegria é a tua alegria”.
Segundo o autor
Henri Nouwen, o segredo da hospitalidade está na pobreza.
Não a pobreza
de bens materiais, mas em primeiro lugar, uma pobreza de mente.
Há
pessoas que são tão donas de si, tão presas em suas convicções e
conceitos, que não deixam os outros ficar à vontade.
A intolerância vai
nesta linha: o intolerante não aprende nada de novo, pois ele se
considera portador da verdade.
O orgulhoso de sua maneira de pensar é um
péssimo anfitrião da vida, pois o diálogo é intercâmbio de ideias para a
construção de algo comum.
É preciso
também uma pobreza de coração. Há situações em que a carência afetiva
impera, fazendo com as pessoas não deixem os outros à vontade, pois os
querem para eles, como um objeto.
As relações humanas não podem ser
fundadas no egocentrismo de uma das partes, mas deve ser uma abertura
gratuita.
A verdadeira
hospitalidade se faz quando oferecemos nossa pobreza: “Eu sou um pobre,
nada tenho, mas estou aqui para partilhar do meu nada”. Quando estamos
desprovidos dos apegos, podemos partilhar a solidariedade de nossa
fraqueza. Partilhar do sofrimento do outro como o Bom Samaritano é um
grande gesto de hospitalidade. Cristo nos deu o exemplo, fez-se pequeno –
sua pobreza enriqueceu-nos.
Na 2ª. Leitura, vemos que Paulo é solidário
com o sofrimento de Cristo e com o sofrimento da Igreja.
Deus é o grande
forasteiro da história. A história da salvação é uma busca incansável
de Deus para habitar as nossas vidas. Nós precisamos dar espaço para que
Deus habite a nossa vida. A grandeza que Deus quis manifestar é entre
outras coisas, “a presença de Cristo em nossa vida” (Cl 1,27).
Precisamos dar espaço, ter tempo para acolher o Senhor Deus em nossas
vidas.
Marta é a
mulher agitada, que não tinha tempo para as coisas de Deus, para a sua
palavra. Trabalhar é bom, mas não pode ser uma agitação frenética, sem
os verdadeiros valores evangélicos, como um pretexto para aparecer e
apontar o dedo no nariz de quem parece estar sem as mãos na massa. Não
pode impedir que tenhamos tempo para a escuta da Palavra, para a oração,
para relações humanas significativas. Jesus questiona a agitação de
Marta, e elogia a atitude de Maria – a escuta da Palavra de Deus.
Por outro lado,
não podemos fazer um julgamento apressado sobre Marta. Sua intenção não
era má: desejava fazer uma acolhida, preparar aquilo que faria o seu
hóspede se sentir bem. Certamente, uma atitude absorvida nas práticas
religiosas, sem ação evangélica, sem caridade também é desvirtuada.
Maria não poderia ficar o tempo todo aos pés de Jesus. As duas atitudes
se somam: caridade hospitaleira e vida contemplativa. É o que resume a
velha máxima monástica: “orat et laborat”.
A celebração
eucarística é a melhor parte: momento de escuta da Palavra de Deus.
Cristo nos convida – somos seus hóspedes – na mesa mais hospitaleira: a
mesa da Eucaristia. A hospitalidade de Deus nos faz sentar à mesa e
comer com Ele. Na mesma mesa devemos acolher Cristo como hóspede e
deixar que Ele faça morada em nós. Assim aprenderemos a viver, a sermos
hospitaleiros e meditativos.
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