DECISÃO DO CORAÇÃO
Visão é a arte de ver as coisas invisíveis.
( Jonatham Swift)
II Parte .
Na vida do dia-a-dia, vê-se a
avidez pelo consumo e pela posse, contudo não se vê que, mais importante do que
ter e consumir, é viver satisfeito pelo que se é , pelo que se tem e pelo que
se faz.
Não é fácil ver o essencial,
porque não é fácil conseguir com outros
olhos ver a qualidade além da quantidade; o emocional além do intelectual; o
sentimento além do pensamento; a ternura e o amor além do sexo; a felicidade
além do prazer; os significados e as transcendências além das palavras, das
mensagens e das imagens; o sentido da vida além do vivido; o homem além de suas
circunstâncias; Deus além de tudo.
E assim como o essencial é
invisível para os olhos, há coisas que não são essenciais e que são vistas a
olho nu. Pode-se comprar e vender, medir e contar, adquirir, usufruir, ter,
trocar, guardar, consumir. Elas não escondem mistérios, estão sempre
disponíveis na marquise de uma cotidianidade sem surpresas, porque sua figura
se destaca facilmente no mundo das coisas.
“Há coisas que não podemos ver’;
e acrescentamos com a raposa: “...porque são essenciais”.
(Não se vê que um “muito
obrigado”, urgi “naturalmente”, um “com muito prazer”, um “imediatamente”, um
“desculpe”, um “posso ajudar em algo?”, um sorriso ou, simplesmente, um
silêncio de discrição e respeito podem contribuir para tornar mais serena e
gratificante a convivência. Realmente, o essencial é invisível... Poderíamos
encher páginas e páginas de exemplos todavia, isso não é necessário, porque o
leitor, sem dúvida,é testemunha e, quem sabe, protagonista da cotidiana e
básica incapacidade de ver que, tão pouco harmônica serena, costuma compor a
vida em piedade.
No entanto, definitivamente, o
que é tão essencial?
É expor novamente, re-atualizar e
revitalizar tanto a essência quanto a transcendência das coisas sérias e
importantes da vida, as coisas que o tempo não desgasta, não muda nem consome;
as coisas que, por sua intrínseca riqueza de sentidos, merecem ser recuperadas
e reintegradas a uma harmônica hierarquia de valores que o homem pós-moderno
esqueceu, perdeu, ou para a qual deu as costas.
São as coisas cuja voz só pode
ser ouvida no silêncio de fora e de dentro e cuja imagem só aparece quando se
apagam os resplendores do cotidianamente visível, do óbvio e rotineiro.
O pequeno príncipe nos fala sutil
e poeticamente, entre linhas, da atenção especial que se deve prestar para
poder perceber esse algo da realidade, que é essencial.
Não se vê nada. Não se escuta
nada. E no entanto, no silêncio, alguma coisa irradia...
Continuaremos...
Padre Emílio Carlos Mancini
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