16º DOMINGO DO
TEMPO COMUM
21 de julho
de 2013
Leituras: Gênesis
18, 1-10a;
Salmo 14 (15), 2-3ab.3cd-4ab.5 (R/ cf. 1a);
Carta de São Paulo aos Colossenses
1, 24-28;
Lucas 10, 38-42.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Celebração Eucarística, vamos descobrir a diversidade de
dons, hoje representados por Marta e Maria. Dons que são próprios para a ação e
dons que são necessários para a escuta. Ambos são necessários para a construção
do Reino. Por isso, não basta ficar apenas ouvindo e não basta ficar apenas
agindo, temos que saber complementar os dois. Que possamos ouvir e trabalhar,
contemplar e agir, e levar a todos a revelação de Deus.
1. Situando-nos
Somos hóspedes de uma casa. Mais
que hóspedes, somos já parte da família. Nossa casa é esta: este espaço físico
e humano que nos abriga, esta comunidade cristã da qual fazemos parte, esta
assembléia na qual vivemos uma experiência de fé. Isto é, acolhidos por Deus na
pessoa de cada um de nós, aqui reunidos, sentimo-nos um corpo: corpo eclesial
de Cristo. Por isso, todos, há pouco, aclamamos, em alto e bom tom: “Bendito
seja Deus que os reuniu no amor de Cristo”.
Nesta experiência de povo de Deus
reunido, nos unimos desde já aos milhares de jovens que, nesta semana, se
reúnem para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Que o Espírito
Santo de Deus ilumine este evento e a todos fortaleça para o testemunho da fé
em Cristo.
Ao mesmo tempo, nos unimos a alguns
santos que celebramos neste período. Hoje, São Lourenço de Brindisi, presbítero
e doutor da Igreja; amanhã dia 22, Santa Maria Madalena, discípula e primeira
testemunha da Ressurreição do Senhor; terça-feira, dia 23, a religiosa Santa
Brígida; quarta-feira, dia 24, o presbítero São Charbel; quinta-feira, dia 25,
o Apóstolo São Tiago Maior; sexta-feira, dia 26, São Joaquim e Sant’ Ana, pais
de Maria Santíssima.
Acabamos de ouvir a Palavra de
Deus, trazendo-nos experiências humanas e divinas em clima de hospedagem, com
importantes lições para nós hoje. Vejamos.
2.
Recordando a Palavra
O Evangelho fala de uma visita de
Jesus a Marta e Maria (cf. Lc 10,38-42). A relação de Jesus com elas (e com
Lázaro, o irmão delas que aparece no Evangelho de João) era de muita
familiaridade, de intensa amizade (cf. Jo 11,1-44;12-1-8), o que transparece
também pelo tom da conversa de Marta com Jesus (Lc 10,40).
Jesus confirma sua viagem rumo à
Jerusalém. No início desta viagem, ele não fora acolhido num vilarejo da
Samaria (Lc 9,51-56). Entretanto, no domingo passado, esse mesmo Jesus, não
acolhido em Samaria, nos trouxe precisamente um samaritano como exemplo de
alguém que, de fato, sabe acolher; que se faz “próximo” dos que precisam de
ajuda (Lc 10,30-37). Conclusão, o não acolhido – Jesus aparece como o melhor
acolhedor, pois é capaz de acolher o próprio inimigo!
Hoje vemos Jesus entrando “num
povoado” (Lc 10,38), onde vive a experiência de ser acolhido. Quem o acolhe ‘em
sua casa’? Uma mulher, de nome Marta (v.38). Ela tem uma irmã de nome Maria
que, sentada aos pés de Jesus, “escutava a sua palavra” (v.39). Maria, numa
atitude típica de discípula diante do mestre, frontalmente contrastava com sua
irmã “ocupada com muitos afazeres” (v.40).
Marta se queixa com Jesus, porque
sua irmã a deixa sozinha, com todo o serviço. Jesus, por sua vez, amorosamente
a chamando duas vezes pelo nome, a alerta para o fato de estar dominada pela
“preocupação” e pela “agitação” por muitas coisas (v.41). Aproveita para lhe
mostrar qual é a “única coisa necessária” (v.42) – escutar Jesus – e qual é a
atitude que convém: a de Maria (v.39). (J.M. Romaguera. El Evangelio em médio
dela vida, p.10).
Em outras palavras, para não se
deixar contaminar pela “preocupação” e pela “agitação” com os muitos afazeres,
e para curar o estresse e mau humor decorrentes do desmedido esforço, Marta
precisava dar um passo a mais, a saber: mesmo servindo, aprender a focar-se no
“único necessário”, isto é, entrar-se na serenidade do Mestre em arte de
acolher, ali presente, e aprender com ele: “Maria escolheu a melhor parte e
esta não lhe será tirada” (v. 42), assimilar a atitude do próprio hospede Jesus
que, em suas andanças, por suas palavras e gestos, vem demonstrando o quanto
Deus é mestre na arte de acolher.
A presente experiência de acolhida,
vivida nesta história, nos traz à lembrança outra, lá do Antigo Testamento,
como ouvimos na primeira leitura: a experiência de Abraão (cf. Gn 18, 1-10a).
Abraão acolhe generosa e despreocupadamente, em sua tenda, três homens em
viagem. Gratuitamente e, por isso, sem se estressar, ele oferece o melhor que
podia para os hóspedes.
Abraão havia intuído na pessoa
daqueles desconhecidos viajantes a presença do próprio Senhor e Deus. O
resultado foi este: a atitude gratuita de Abraão mesclou-se, comungou com a
gratuidade do seu Senhor. E o que aconteceu? Deus lhe garante o que
praticamente era impossível: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este
tempo, e Sara, tu mulher, já terá um filho” (v.10a).
Quem, então, fará a grata
experiência de comunhão com a gratuidade de Deus? Esta pergunta é elaborada e
respondida pelo Salmo 14, cujo refrão assim hoje cantamos: “Senhor, quem morará
em vossa casa?” (v.1a).
Toda essa imensa gratuidade de Deus
que nos acolhe foi definitivamente revelada em Cristo Jesus, por sua
encarnação, vida, sofrimento, morte, ressurreição, dom do Espírito, e contínua
presença em seu corpo eclesial, a Igreja. Como ouvimos na segunda leitura, pela
boca do apóstolo Paulo, Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as
nações este mistério, ou seja, a presença de Cristo em nós, a esperança da
glória. Por isso, até o sofrimento por que passamos não é mais em vão. Somos
plenamente acolhidos por Deus, em Cristo e no Espírito Santo.
3.
Atualizando a Palavra
“Um grande mal em nossa sociedade,
e também na Igreja, é o ativismo, a falta de disposição para aprofundar o
essencial, sob o pretexto de tarefas urgentes” (J. Konnings. Liturgia
dominical, p.436).
Jesus é um exemplo para todos nós.
Sua pessoa prioritária e permanentemente focada no modo de ser do Pai. Pelo
hábito desta escuta é que ele desenvolveu uma atitude de serena e saudável
acolhida de tudo e de todos. É a partir daí que “Jesus observa a Marta que ela
anda ocupada e preocupada com muitas coisas, enquanto uma só é necessária. Essa
observação não é uma recusa da hospitalidade, mas indica uma escala de valores:
a melhor parte é a que Maria escolheu! O que esta faz é fundamental e indispensável:
escutar. O resto (as correrias pastorais, as reuniões) é importante, mas deve
ter fundamento o escutar. Jesus censura Marta não porque ela cuida da cozinha,
mas porque quer tirar Maria do escutar, para fazê-la entrar no ritmo de suas
próprias ocupações. Marta não conhecia a escala de valores de Jesus” (Ibid).
Podemos perceber, através da
segunda leitura de hoje, que foi da identificação profunda com Cristo que Paulo
tirou a força para seu surpreendente apostolado. “Gente ocupada é o que menos
falta. Mas sabemos muito bem que toda essa ocupação não tira em torno daquilo
que é fundamental. Dá até pena ver certas pessoas complicarem sua vida com mil
coisas de que dizem que simplificar a vida. Ao lado delas encontrarmos o pobre,
o lavrador, o índio, vivendo uma vida simples, mas com muito mais conteúdo e,
sobretudo, com um coração sensível e solidário” (Ibid)
A exemplo do nosso mestre Jesus,
“importa acolher (a Deus, a Jesus, aos outros) em primeiro lugar no coração. Só
então as demais ações terão sentido. Isso vale na vida pessoal e também na vida
comunitária. Comunidades que giram exclusivamente em torno de preocupações e
reivindicações materiais acabam esvaziando-se, caem em brigas de personalismo e
ambição. Mas comunidades que primeiro acolhem com carinho a palavra de Jesus
num coração disposto saberão desenvolver os projetos certos e por a Palavra de
Jesus em prática. ‘Buscai primeiro o Reino de Deus...’” (Ibid).
4.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
Que Deus nos ajude a vivermos este
espírito do Evangelho trazido por Jesus. Por isso, logo mais, uma vez
alimentados pela Palavra e pela Ceia do Senhor, concluiremos com esta oração:
“Ó Deus, permanecei junto ao povo que iniciastes nos sacramentos do vosso Reino.
Para que, despojando-se do velho homem, passemos a uma vida nova” (Oração
depois da comunhão de hoje).
Sim, que pela força desta
Eucaristia, na qual o Pai nos acolheu como corpo eclesial de Cristo, nós
possamos viver a atitude de Maria para que, empenhados como Marta, mas
conectados ao “único e necessário”, que é a Palavra reveladora do Pai,
trabalhemos com serenidade e paz pelo bem da humanidade.
Que assim seja, irmãos e irmãs!
Amém!
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