15º Domingo do Tempo Comum - Ano C
A verdadeira religião que conduz à salvação passa por este amor sem
limites.
A liturgia deste domingo
procura definir o caminho para encontrar a vida eterna.
É no amor a Deus e aos outros –
dizem os textos que nos são propostos – que encontramos a vida em plenitude.
O Evangelho sugere que essa vida plena não está no cumprimento de determinados
ritos, mas no amor (a Deus e aos irmãos). Como exemplo, apresenta-se a figura
de um samaritano – um herege, um infiel, segundo os padrões judaicos, mas que é
capaz de deixar tudo para estender a mão a um irmão caído na berma da estrada.
“Vai e faz o mesmo” – diz Jesus a cada um dos que o querem seguir no caminho da
vida plena.
A primeira leitura reflete, sobretudo, sobre a questão do amor a
Deus. Convida os crentes a fazer de Deus o centro da sua vida e a amá-lo de
todo o coração. Como? Escutando a sua voz no íntimo do coração e percorrendo o
caminho dos seus mandamentos.
Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que propõe Cristo
como a referência fundamental, como o centro à volta do qual se constrói a
história e a vida de cada crente. O texto foge, um tanto, à temática geral das
outras duas leituras; no entanto, a catequese sobre a centralidade de Cristo
leva-nos a pensar na importância do que Ele nos diz no Evangelho de hoje. Se
Cristo é o centro a partir do qual tudo se constrói, convém escutá-l’O
atentamente e fazer do amor a Deus e aos outros uma exigência fundamental da
nossa caminhada.
LEITURA I – Deut
30,10-14
O Livro do Deuteronômio é fruto
da reflexão e da catequese dos teólogos do Reino do Norte (Israel), preocupados
em lembrar ao Povo os compromissos assumidos no âmbito da “aliança”; mas
apresenta-se, literariamente, como um conjunto de discursos de Moisés, uma
espécie de testamento espiritual que Moisés teria pronunciado antes da sua
morte, na planície de Moab, na altura em que os hebreus se preparavam para
renovar a “aliança”, antes de entrar na “Terra Prometida”.
O texto que hoje nos é proposto é
a parte final do terceiro discurso de Moisés (cf. Dt 29-30). Na realidade,
trata-se de uma homilia dos teólogos deuteronomistas, redigida na fase final do
exílio da Babilônia, alertando a comunidade do Povo de Deus para as
consequências da fidelidade ou da infidelidade face aos compromissos assumidos
para com Jahwéh.
Fundamentalmente, estamos diante
de um convite a aderir com todo o coração e com todo o ser às propostas e aos
mandamentos de Deus (vers. 10).
No entanto, perguntavam os
exilados, como encontrar o caminho e descobrir o que Deus propõe? Como é que se
descobre o que Deus quer de nós, de forma a que não voltemos, nunca mais, a
cair na escravidão?
Os teólogos deuteronomistas estão
convencidos de que não é necessário procurar muito longe: nem no céu (vers.
12), nem no mar (vers. 13), nem em qualquer outro lugar inacessível ao homem
comum. O caminho que Deus propõe não é um caminho escondido, misterioso,
revelado só aos iniciados ou iluminados; mas é um caminho que está claramente
inscrito no coração e na consciência de cada homem (vers. 14).
A mensagem aqui apresentada pelos
catequistas deuteronomistas diz-nos, portanto, o seguinte: para perceber o
projeto de salvação, de liberdade e de felicidade que Deus tem para os homens,
basta olhar para o nosso coração e para a nossa consciência; é aí que Deus nos
fala e é aí que nós escutamos as suas propostas e as suas indicações. Resta-nos
estar disponíveis para escutar e para perceber – no meio das contra-indicações
que as nossas paixões nos apresentam – as sugestões, os apelos, os desafios de
Deus.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão e a partilha,
considerar as seguintes indicações:
• O convite a aderir com todo o
coração e com todo o ser às propostas de Deus leva-nos a questionar a qualidade
da nossa adesão. Não pode ser uma adesão a meio-gás ou a tempo parcial – de
acordo com os nossos interesses; mas tem de ser uma adesão total, completa,
plenamente empenhada, a “fundo perdido”. É desta forma radical e total que
aderimos aos projetos de Deus, ou a nossa adesão é “morna”, incompleta,
limitada, reticente?
• Encontramos espaço e
disponibilidade para interrogar o nosso coração e para escutar o Deus que fala,
que Se revela, que nos desafia e questiona?
• Pode acontecer que os nossos
interesses egoístas, as nossas ambições, as nossas paixões, os nossos esquemas
e projetos pessoais abafem a voz de Deus e nos impeçam de escutar as suas
propostas. Quais são, para mim, essas outras “vozes” que calam a voz de Deus?
Que lugar ocupam elas na minha vida? Em que medida elas contribuem para definir
o sentido essencial da minha existência?
SALMO RESPONSORIAL –
Salmo 68 (69)
Refrão: Procurai, pobres, o Senhor e encontrareis a vida.
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica,
pela vossa imensa bondade respondei-me.
Ouvi-me, Senhor, pela bondade da vossa graça,
voltai-Vos para mim pela vossa grande misericórdia.
Eu sou pobre e miserável:
defendei-me com a vossa proteção.
Louvarei com cânticos o nome de Deus
e em ação de graças O glorificarei.
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.
Deus protegerá Sião,
reconstruirá as cidades de Judá.
Os seus servos a receberão em herança
e nela hão-de morar os que amam o seu nome.
SALMO RESPONSORIAL –
Salmo 18B,8-11
(em alternativa ao anterior)
Refrão: Os preceitos do Senhor alegram o coração.
A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma.
As ordens do Senhor são firmes
e dão sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração.
Os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos.
O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente.
Os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são retos.
São mais preciosos que o ouro,
o ouro mais fino;
são mais doces que o mel,
o puro mel dos favos.
LEITURA II – Col
1,15-20
Colossos era uma cidade da Frígia
(Ásia Menor), situada a cerca de 200 quilômetros a
Este de Éfeso. A comunidade cristã dessa cidade não foi fundada por Paulo mas
por Epafras, discípulo de Paulo e colossense de origem (cf. Col 4,12).
Paulo escreveu aos Colossenses da
prisão (provavelmente, de Roma). Estaríamos entre os anos 61 e 63. Epafras
visitou Paulo e levou ao apóstolo notícias alarmantes… Alguns “doutores” locais
(talvez membros de um movimento de índole sincretista, que misturava
cristianismo com cultos mistéricos em voga no mundo helenista e com elementos
religiosos de várias origens) ensinavam aos Colossenses que a fé em Cristo
devia ser completada por rígidas práticas ascéticas, por ritos legalistas
judaicos, por prescrições sobre os alimentos (cf. Col 2,16.21), pela
observância de determinadas festas (cf. Col 2,16) e por especulações acerca dos
anjos (cf. Col 2,18). Na opinião desses “doutores”, tudo isto devia comunicar
aos crentes um conhecimento superior dos mistérios e uma maior perfeição.
Paulo desmonta toda esta confusão
doutrinal e afirma que nenhum destes elementos tem qualquer importância para a
salvação: Cristo basta.
O texto que hoje nos é proposto é
um hino de duas estrofes, que provavelmente Paulo tomou da liturgia cristã
primitiva, mas que está perfeitamente integrado no conteúdo geral da carta.
Este hino cristão de inspiração sapiencial celebra a supremacia absoluta de
Cristo na criação e na redenção.
A primeira estrofe deste hino
(vers. 15-17) afirma e celebra a soberania e o poder de Cristo sobre toda a
criação.
A primeira afirmação é a de que
Cristo é a “imagem de Deus invisível”. Dizer que é “imagem” significa aqui que
Ele é em tudo igual ao Pai, no ser e no agir, pois n’Ele reside a plenitude da
divindade. Significa que Deus, espiritual e transcendente, Se revela aos homens
e Se faz visível através da humanidade de Cristo.
A segunda afirmação é que Ele é o
“primogênito de toda a criatura”. No contexto familiar judaico, o “primogênito”
era o herdeiro principal, que tinha a primazia em dignidade e em autoridade
sobre os seus irmãos. Aplicado a Cristo, significa a supremacia e a autoridade
de Cristo sobre toda a criação.
A terceira afirmação é a de que
“n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”. Tal significa que
todas as coisas têm n’Ele o seu centro supremo de unidade, de coesão, de
harmonia (“n’Ele”); que é Ele que comunica a vida do Pai (“por Ele”); e que
Cristo é o termo e a finalidade de toda a criação (“para Ele”). Ao mencionar
expressamente que os “tronos, dominações, principados e potestades” estão
incluídos na soberania de Cristo, Paulo desmonta as especulações dos “doutores”
Colossenses acerca dos poderes angélicos, considerados em paralelo com o poder
de Cristo.
A segunda estrofe (vers. 18-20)
afirma e celebra a soberania e o poder de Cristo na redenção.
A primeira afirmação é a de que
Ele é a “cabeça do corpo que é a Igreja”. A expressão significa, em primeiro
lugar, que Cristo tem a primazia e a soberania sobre a comunidade cristã; mas
significa, também, que é Ele quem comunica a vida aos membros do corpo e que os
une num conjunto vital e harmônico.
A segunda afirmação é a de que
Ele é o “princípio, o primogênito de entre os mortos”. Significa que Ele, não
só foi o primeiro que ressuscitou, mas também que Ele é a fonte de vida que vai
provocar a nossa própria ressurreição.
A terceira afirmação é de que
n’Ele reside “toda a plenitude”. Significa que n’Ele e só n’Ele habita, efetiva
e essencialmente, a divindade: tudo o que Deus nos quer comunicar, a fim de nos
inserir na sua família, está em
Cristo. Por isso, o autor deste hino pode dizer que por
Cristo foram reconciliadas com Deus todas as criaturas na terra e nos céus: por
Cristo a criação inteira, marcada pelo pecado, recebeu a oferta da salvação e
pôde voltar a inserir-se na família de Deus.
ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, ter em conta os
seguintes elementos:
• Um dado fundamental da vida
cristã é a consciência desta centralidade de Cristo na nossa experiência e na
nossa existência. No entanto, a religião de tantos dos nossos cristãos
centraliza-se, tantas vezes, em coisas secundárias… Cristo é, efetivamente, a
referência fundamental à volta da qual a nossa vida se articula e se constrói?
Ele tem a primazia na nossa vida? É Ele que está no centro dos interesses e da
vida das nossas comunidades cristãs ou religiosas? Há outros deuses, ou
poderes, ou “santos” em quem centramos os nossos interesses e que nos desviam
de Cristo?
• Para muitos dos nossos
contemporâneos, Jesus não é uma referência fundamental. Quando muito, foi um
homem bom, que deu a vida por um sonho, um visionário, um idealista, que a
história se encarregou de digerir e que hoje é, apenas, uma peça de museu; por
isso, não tem qualquer espaço nas suas vidas. Como podemos testemunhar a nossa
convicção de que Ele é o centro da história e de que Ele está no princípio e no
fim da história da salvação?
ALELUIA – cf. Jo
6,63c.68c
Aleluia. Aleluia.
As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida:
Vós tendes palavras de vida eterna.
EVANGELHO – Lc
10,25-37
Continuamos “a caminho de
Jerusalém” – quer dizer, continuamos a percorrer esse percurso espiritual,
durante o qual Jesus prepara os discípulos para serem as testemunhas do Reino,
após a sua partida deste mundo. É neste contexto “pedagógico” que vai aparecer
a “parábola do bom samaritano”.
Para percebermos cabalmente o que
está aqui em jogo, convém também ter presente o quadro da relação entre judeus
e samaritanos. Trata-se de dois grupos que as vicissitudes históricas tinham
separado e cujas relações eram, no tempo de Jesus, bastante conflituosas.
Historicamente, a divisão começou
quando, em 721 a.C.,
a Samaria foi tomada pelos assírios e foi deportada cerca de 4% da sua
população; na Samaria instalaram-se colonos assírios que se misturaram com a
população local; para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a
paganizar-se (cf. 2 Re 17,29). A relação entre as duas comunidades
deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do exílio, os judeus recusaram
a ajuda dos samaritanos (cf. Esd 4,1-5) para a reconstrução do templo de
Jerusalém (ano 437) e denunciaram os casamentos mistos; tiveram, então, que
enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (cf. Ne
3,33-4,17). No ano de 333 a.C.,
novo elemento de separação: os samaritanos construíram um templo no monte
Garizim; no entanto, esse templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano.
Mais tarde, as picardias continuaram: a mais famosa aconteceu já na época de
Cristo (alguns anos depois do nascimento de Cristo), quando os samaritanos
profanaram com ossos o templo de Jerusalém.
Os judeus desprezavam os
samaritanos, por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e
consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé jahwista; e os samaritanos
pagavam aos judeus com um desprezo semelhante.
O que está em jogo no texto que
nos é proposto é uma pergunta de um mestre da Lei: “o que fazer, a fim de
conseguir a vida eterna?” (Marcos apresenta a mesma cena – cf. Mc 12,28-34 –
mas, aí, a pergunta é acerca do “maior mandamento da Lei”. Lucas, talvez
adaptando-se aos leitores cristãos de cultura grega, põe a questão em termos de
“vida eterna”).
A resposta é previsível e
evidente, de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus,
fazer de Deus o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Neste “resumo”
dos mandamentos, cita-se Dt 6,5 (no que diz respeito ao amor a Deus) e Lv 19,18
(no que diz respeito ao amor ao próximo). Jesus concorda: até aqui, a proposta
de Jesus não acrescenta nada de novo àquilo que a própria Lei sugere.
A dúvida do mestre da Lei vai, no
entanto, mais fundo: “e quem é o meu próximo?” É uma questão pertinente, neste
contexto. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem
era o “próximo”. Naturalmente, havia opiniões mais abrangentes e opiniões mais
particularistas e exclusivistas; mas havia consenso entre todos no sentido de
excluir da categoria “próximo” os inimigos: de acordo com a Lei, o “próximo”
era apenas o membro do Povo de Deus (cf. Ex 20,16-17; 21,14.18.35; Lv
19,11.13.15-18). Jesus, no entanto, tinha uma perspectiva diferente da
perspectiva dos “fazedores de opinião” de Israel. É precisamente para explicar
a sua perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.
A parábola situa-nos nessa
estrada de cerca de 30
quilômetros entre a cidade santa de Jerusalém e o oásis
de Jericó. Na época de Jesus, é uma estrada perigosa, sempre infestada de
bandos armados. Ora “um homem” não identificado (não se diz quem é, de que raça
é, qual a sua religião, mas apenas que é “um homem”, embora, pelo contexto, possa
depreender-se que é um judeu) foi assaltado pelos bandidos e deixado caído na
berma da estrada. Trata-se, portanto (e isso é que é preponderante), de “um
homem” ferido, abandonado, necessitado de ajuda.
Pela estrada passaram
sucessivamente um sacerdote (que conhecia a Lei e que exercia funções
litúrgicas no templo) e um levita (ligado à instituição religiosa judaica e que
exercia, também, funções litúrgicas no templo). Ambos passaram adiante: ou o
medo de enfrentar a mesma sorte, ou as preocupações com a pureza legal (que
impedia contatar com um cadáver), ou a pressa, ou a indiferença diante do
sofrimento alheio, impede-os de parar. Apesar dos seus conhecimentos
religiosos, não têm qualquer sentimento de misericórdia por aquele homem. Eles
sabem tudo sobre Deus, lidam diariamente com Deus mas, afinal, não sabem nada
de Deus, pois não sabem nada de amor. A sua religião é uma religião oca, de
ritos estéreis, de gestos vazios e sem sentido, de cerimônias faustosas e
solenes, mas não tem nada a ver com o amor, com o coração.
Pela estrada passou, finalmente,
um samaritano. Trata-se de um desses que a religião tradicional de Israel
considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e do amor de Deus… No
entanto, foi ele que parou, sem medo de correr riscos ou de adiar os seus
esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o salvou. Apesar de
ser um herege, um excomungado, mostra ser alguém atento ao irmão necessitado,
com o coração cheio de amor e, portanto, cheio de Deus.
Jesus conclui a parábola dizendo
ao mestre da Lei que o interrogara: “então vai e faz o mesmo”. A verdadeira
religião que conduz à vida plena passa pelo amor a Deus, traduzido em gestos
concretos de amor pelo irmão – por todo o irmão, sem exceção.
Recordemos que a pergunta inicial
era: “o que fazer para alcançar a vida eterna”… A conclusão é óbvia: para
alcançar a vida eterna é preciso amar a Deus e amar o próximo. O “próximo” é
qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido ou
desconhecido, da mesma raça ou doutra raça qualquer; o “próximo” é qualquer
irmão caído nos caminhos da vida que necessita, para se levantar, da nossa
ajuda e do nosso amor. Neste gesto do samaritano, a Igreja de todos os tempos
(a comunidade dos que caminham ao encontro da vida plena, da salvação)
reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a de levantar todos os homens e
mulheres caídos nos caminhos da vida.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão e atualização da
Palavra, considerar o seguinte:
• A pergunta do mestre da Lei não
é uma pergunta acadêmica; é a pergunta que os homens do nosso tempo fazem todos
os dias: “o que fazer para chegar à vida plena, à felicidade? Como dar,
verdadeiramente, sentido à vida?” A resposta eterna é: “faz de Deus o centro da
tua vida, ama-O e ama também os outros irmãos”. Trata-se, portanto, de fazer
com que o amor percorra as duas coordenadas fundamentais da nossa existência –
a vertical (relação com Deus) e a horizontal (relação com os outros homens). É
por aqui que passa a nossa realização plena.
• O que é isso do amor ao
próximo? Até onde se deve ir? É preciso exagerar? Não se trata de exagerar.
Trata-se de ver em cada pessoa – sem exceção – um irmão e de lhe dar a mão
sempre que ele necessitar. Qualquer pessoa ferida com quem nos cruzamos nos
caminhos da vida tem direito ao nosso amor, à nossa misericórdia, ao nosso
cuidado – seja ela branca ou negra, portuguesa ou ucraniana, cristã ou
muçulmana, portista, sportinguista ou benfiquista, fascista ou comunista, pobre
ou rica… A verdadeira religião que conduz à salvação passa por este amor sem
limites.
• Pode acontecer que o lidar
todos os dias com o divino tenha endurecido o nosso coração em relação às
realidades do mundo… Pode acontecer que uma vida instalada nos torne
insensíveis aos gritos de sofrimento dos pobres… Pode acontecer que o nosso
egoísmo fale mais alto e que evitemos meter-nos em complicações por causa das
injustiças que os nossos irmãos sofrem… Mas, nesse caso, convém perguntar:
deixando que a minha vida se guie por critérios de egoísmo e de comodismo,
estou a caminhar em direção à minha realização plena, à vida eterna?
• As nossas comunidades são
clubes fechados, “reservados a sócios”, onde é “proibida a entrada aos
estranhos”, ou comunidades onde são amados e têm lugar todos aqueles que a vida
atira para a berma da estrada?
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